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Figurinista de "Os Miseráveis" inspirou-se no estilo cromático de Almodóvar

Anne Hathaway em cena de "Os Miseráveis" - Laurie Sparham/EFE/Universal
Anne Hathaway em cena de "Os Miseráveis" Imagem: Laurie Sparham/EFE/Universal

Da AFP, em Los Angeles

30/01/2013 16h20

O dramático figurino do musical "Os Miseráveis" exagera nas cores e texturas para fazer uma ponte entre o épico e a fantasia, segundo o figurinista Paco Delgado, um espanhol ligado à tradição dos diretores Pedro Almodóvar e Alex de la Iglesia.

"Usamos as cores de uma maneira dramática. Vermelhos em momentos onde há muito dramatismo, cores apagadas em momentos de tristeza. Tudo isso distorce a realidade para transformá-la na história que se quer contar", disse Delgado, responsável de vestir dezenas de atores no épico que vai de 1815 a 1835.

Protagonizado por Hugh Jackman e Anne Hathaway, com a participação de Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter como os burlescos Thénardier, o musical baseado no romance "Les Miserables", de Victor Hugo, estreou nos Estados Unidos e Espanha no natal e no Brasil estará nas telas dos cinemas brasileiros a partir de 1º de fevereiro.

Antes deste projeto, que ganhou 3 Globos de Ouro e um SAG Award além de uma chuva de indicações para o Oscar, Delgado fez o figurino de filmes emblemáticos do cinema ibérico como "A Comunidade" e "O Crime Perfeito", ambos de Alex de la Iglesia; "A Má Educação" e "A Pele que Habito", de Almodóvar; além de "Biutiful", o chileno-espanhol Alejandro Amenábar.

Entre estes trabalhos e "Os Miseráveis" existe "um fio condutor, que é o uso da cor", disse Delgado em entrevista à AFP, justificando o dramático uso das tonalidades a seu caráter latino.

"Temos uma forma de visualizar as coisas com um prisma um pouco diferente. Cada um vê a realidade de forma diferente e nós temos esse toque de realismo fantástico", explicou o artista, indicado por seu trabalho aos prêmios da Asssociação de Críticos de Cinema.

A história original, máxima representante do romantismo francês, necessitava que o tratamento realista da imagem fosse exagerado, disse Delgado, mas ao mesmo tempo fantasioso, por tratar-se de um musical.

"Queríamos que tudo fosse muito real e isso se vê nas texturas, mas também há o uso da cor diferente", explicou. Por exemplo, Helena Bonham Carter e Sacha Bahon Cohen são "uma explosão de fantasia, como um disfarce".

"Quando abordamos um filme de época, normalmente a intenção principal é reproduzir a realidade com muita exatidão", disse. "Já que é um musical, e que essa é uma situação que não se dá na vida real, tínhamos que abordar algo de fantasia. Sabíamos que teríamos que caminhar sobre a linha que separa realidade e fantasia".

Para criar essa arte hiperrealista, que não economiza na sujeira e nos cheiros que o espectador quase pode sentir, Delgado se inspirou nas obras de pintores da época como Delacroix, Goya, David e Ingres.

No figurino das primeiras cenas, quando o protagonista Jean Valjean é um ex-condenado, Delgado elegeu tons azulados e texturas rugosas, com fios mais grossos, como linhos e lãs brutas.

À medida que o filme avança e Valjean se redime, Delgado refinou sua proposta para "tecidos mais finos, com cores mais complexas, sedas, mais agradáveis ao corpo", disse o figurinista de Lanzarote, sem revelar seus próximos projetos, porque é "muito supersticioso".