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Bertolucci diz achar que será lembrado como descobridor de jovens atrizes

28.ago.2013 - O cineasta Bernardo Bertolucci, presidente do júri do Festival de Veneza, fala ao público do evento - Pascal Le Segretain/Getty Images
28.ago.2013 - O cineasta Bernardo Bertolucci, presidente do júri do Festival de Veneza, fala ao público do evento Imagem: Pascal Le Segretain/Getty Images

Los Angeles

12/11/2013 11h47

O cineasta italiano Bernardo Bertolucci disse acreditar que será mais lembrado pelo talento para descobrir jovens atrizes do que como diretor, afirmou em uma entrevista à AFP durante o festival de cinema AFI de Los Angeles, onde estreia a versão em 3D de "O Último Imperador".

"Isso não me importa", responde ao ser questionado como gostaria de ser recordado. "Meus filmes estão aí e as pessoas podem assistir".

"Mas às vezes sorrio ao pensar que serei mais recordado como um descobridor de jovens atrizes do que como diretor de cinema. Descobri tantas", completa o cineasta de 73 anos.

Bertolucci menciona Dominique Sanda, que, depois de atuar em "O Conformista", trabalhou em mais de 40 filmes; Maria Schneider, a atriz de "O último tango em Paris"; Liv Tyler, que ficou conhecida do grande público depois de "Beleza Roubada" (1996); e Eva Green, que estreou no cinema em "Os Sonhadores" (2003) e quatro anos depois virou 'Bond girl'.

Bertolucci recebeu a imprensa em uma cadeira de rodas no Hotel Roosevelt de Hollywood, sede do festival do American Film Institute (AFI), que funciona como um aquecimento para a temporada de prêmios.

O cineasta promove nos Estados Unidos a versão 3D de "O Último Imperador", que venceu nove prêmios Oscar e completa 25 anos de lançamento.

Bertolucci é diretor de vários clássicos do cinema, como "O Conformista" (1970), o então escandaloso "Último Tango em Paris" (1972), o relato político italiano "1900" (1976) e o romance africano "O Céu que nos Protege" (1990).

Mas Bertolucci não deseja fazer uma análise da carreira.

"Não olho para trás. Olho para o que tenho pela frente. Algumas vezes me equivoquei, mas todas as escolhas que fiz foram sinceras".

Decidido a falar do presente, menciona "Eu e Você", um drama sobre um adolescente que esconde em um porão. Lançado em Cannes no ano passado, o filme estreou em alguns países europeus ao longo do ano.

Também se refere a uma ideia ainda em gestação: a biografia do músico e assassino italiano Carlo Gesualdo.

"É uma história trágica e fascinante. Mas é difícil falar sobre projetos futuros porque estão em progresso, em minha mente e meu coração. Têm que amadurecer. Como o vinho".

Com um deslocamento lento e com uma voz rouca e baixa, Bertolucci expressa fascínio com o momento da televisão americana, em particular com a série já concluída "Breaking Bad".

"Os filmes ultimamente não são muito interessantes, enquanto as séries de televisão estão sendo extremamente interessantes. Estão recuperando uma forma, uma montagem e um ritmo, que não é - e desenha no ar uma espada cortando sequências - como nos filmes de ação".

"As séries estão recuperando o tempo que antes era usado nos filmes. Agora os filmes têm que ser de ação, mesmo quando não são de ação. Fazem isto com a montagem. E nas séries ainda podemos ver os personagens observando coisas, contemplando o céu", opina.

O italiano conta ainda que tentou usar o formato digital quando dirigia "Eu e Você", mas "a definição, o foco eram muito fortes, e eu queria que o filme tivesse uma qualidade impressionista".

"Em breve nós veremos filmes em um maço de cigarros ou em um relógio", brinca. "Seremos forçados a inventar histórias que se adaptem aos distintos formatos", completa.

Ao fim da entrevista, Bertolucci dá um conselho aos jovens diretores. "Se um jovem me perguntasse o que de mais importante deve fazer para iniciar uma carreira como diretor de cinema, diria que seja sincero e que siga o ritmo de seu coração. É importante ser completamente honesto no que se faz", diz.