Topo

Lutas diplomáticas e familiares dominam o dia no Festival de Berlim

Cena de "Diplomatie", de Volker Schlöndorff - Divulgação
Cena de "Diplomatie", de Volker Schlöndorff Imagem: Divulgação

Em Berlim

12/02/2014 16h58

Em "Diplomatie", exibido nesta quarta-feira no 64º Festival de Berlim, o diretor alemão Volker Schlöndorff faz viver com intensidade um duelo, no espaço de uma noite de agosto de 1944, entre o general alemão Von Choltitz e o cônsul sueco Nordling quando o que está em jogo é a destruição de Paris.

"Este encontro reproduzido nas telas não ocorreu de verdade. No entanto, Choltitz e Nordling se reuniram várias vezes alguns dias antes de 24 de agosto para negociar uma troca de prisioneiros e uma trégua", explica Schlöndorff, vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 1979 e do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1980 por "O Tambor".

"A parte de ficção é considerável no filme, mas o que é real é o que Cyril Gely [autor da peça homônima e roteirista do filme] usou como um ponto de partida: os dois homens se conheciam e discutiram sobre o destino da cidade de Paris", acrescentou.

A ação ocorre na madrugada de 24 para 25 novembro, no Hotel Meurice, onde estava hospedado o governador de Paris, o general Dietrich von Choltitz.

É a ele que Hitler deu a ordem de destruir Paris antes da chegada dos Aliados.

Vindo de uma longa linha de militares prussianos, o general não teria coragem de destruir as pontes de Paris, a Torre Eiffel, Notre Dame, a Assembleia Nacional etc.

É isso que Raoul Nordling tem em mente quando entra por uma escada secreta, seguindo o general até uma sala.

O general e o cônsul embarcam em um jogo de gato e rato, ilustrado pelo posicionamento dos dois na sala e na escolha das palavras.

Os argumentos estão ligados, sejam verdadeiros ou falsos. Humor ou ironia são como pontuações. Os momentos de brilho dão forma ao longo do tempo aos silêncios igualmente eloquentes.

Como em um jogo de xadrez ou numa "luta de boxe de cinco ou seis rounds", diz o diretor de 74 anos.

"Se Paris tivesse sido destruída, não vejo como a parceria franco-alemã poderia surgir ou como a Europa poderia se recuperar", observa o diretor.

A capital francesa é, naturalmente, o terceiro personagem central do filme. A silhueta de Paris aparece com frequência e de maneira diferente, dependendo da hora do dia.

Família não é um porto seguro

Também nesta quarta o festival viveu a disputa entre duas cineastas da América Latina, a argentina Celina Murga e a peruana Claudia Llosa --premiada com o Urso de Ouro por "Fausta" em 2009.

Com Celina Murga, o herói está à procura de "A terceira margem" (título em inglês "The third side of the river"), "um lugar que não existe para explicar que o jovem herói ainda não encontrou seu caminho na vida", declarou a diretora à imprensa.

Nicolas, de 17 anos, não aceita que seu pai tenha uma vida dupla: com uma esposa oficial com quem tem um filho, e com uma prostituta com quem teve mais três, incluindo ele.

"O filme fala de uma sociedade conservadora, machista", segundo a cineasta.

Já no filme de Claudia Llosa, "Aloft", tudo acontece cedo demais para os seus personagens. Nana (Jennifer Connelly) tem dois filhos gravemente doentes. Diariamente, o mais velho, Ivan, de 10 anos, sofre o peso desta situação.

Um dia, Ivan provoca acidentalmente a morte de seu irmão. Sua mãe o deixa com o seu avô.

Anos mais tarde, uma jornalista (Mélanie Laurent) encontra Ivan (Cillian Murphy) e parte com ele em busca de Nana, que mora à margem de um lago congelado de difícil acesso.

Claudia Llosa diz ter feito este filme "porque é responsabilidade dos artistas levantar questões sem necessariamente trazer todas as respostas".