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Líder estudantil em 1968, Cohn-Bendit faz documentário sobre Sócrates

Sócrates, capitão da seleção brasileira, tenta marcar um jogador da Nova Zelândia, pela primeira fase da Copa do Mundo de 1982 - Jorge Araújo/Folhapress
Sócrates, capitão da seleção brasileira, tenta marcar um jogador da Nova Zelândia, pela primeira fase da Copa do Mundo de 1982 Imagem: Jorge Araújo/Folhapress

De Paris

06/03/2015 17h27

Um carro fabricado em 1968, uma imersão na sociedade brasileira durante a Copa do Mundo de 2014 no encalço de um mito do esporte e a política: o ex-líder estudantil Daniel Cohn-Bendit se converteu em documentarista para filmar "Na Estrada com Sócrates".

Quase aos 70 anos, Cohn-Bendit nos embala em uma viagem até 30 anos atrás, direto para as arquibancadas do estádio do Sport Club Corinthians Paulista. Sócrates jogava no meio-campo e foi ídolo do time do Parque São Jorge, tendo sido tricampeão paulista (1979, 1982, 1983), além de convocado para disputar duas edições de Copa (1982, 1986).

Tinha o corpo longilíneo, uma vasta barba e sua presença era digna de um deus grego. A certa altura da obra, o mítico meio-campista entra em campo e enfrenta os militares, então no poder, com um cartaz: "Ganhar ou perder, mas sempre com democracia".

Bastante articulado, o "Doutor Sócrates", assim chamado por também ser médico, morreu em 2011, aos 57 anos, vítima de cirrose alcoólica. Passou por uma experiência única na autogestão democrática de um clube de futebol.

No vestiário, tudo era decidido através de votação, desde o salário dos atletas até a cor das camisas que seriam usadas em cada jogo, passando pela decisão se haveria concentração antes das partidas.

7.000 km pelo Brasil

A caravana percorreu 7.000 mil km, passando por Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Salvador, durante uma viagem marcada pelas pífias atuações do Brasil na última edição da Copa do Mundo até a fatídica desgraça nacional contra a Alemanha (7-1). O ex-deputado franco-alemão no Parlamento Europeu aproveitou para recuperar a figura de Sócrates, sem deixar de lado as tensões provocadas por parte da sociedade, em meio às denúncias sobre as concessões feitas pelo governo brasileiro junto à FIFA para sediar a Copa do Mundo.

A viagem está recheada de entrevistas com gente conhecida, em parte devido à notoriedade do realizador. Entre os entrevistados, Wladimir, que jogou com Sócrates no Corinthians; Raí, irmão de Sócrates e ex-jogador de São Paulo e PSG; e Gilberto Gil, músico e ex-ministro da Cultura. Todos sobem no veículo para explicar o Brasil de hoje.

Conhecido como "Dani, o Vermelho", Cohn-Bendit também participa de um encontro com uma comunidade indígena e o Movimento Sem Terra (MST). Em meio à conversa com uma integrante do MST, a moça lhe responde: "O socialismo? Eu pratico todos os dias, neste país de grandes latifundiários".

"Em geral, este tipo de comentário me faz rir, mas não aqui...", confessou Cohn-Bendit, durante estreia exclusiva, em Estrasburgo, para deputados europeus pertencentes a diversos Partidos Verdes do continente.

O documentário "Na Estrada com Sócrates: Futebol Brasileiro e Política" será exibido na terça-feira (10), às 20h50 (horário francês), no canal Arte.