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Julgamento de Bill Cosby por agressão sexual começa com acusação e lágrimas

O advogado Brian McMonagle (à frente) e o réu Bill Cosby (direita)  - David Maialetti/The Philadelphia Inquirer via AP, Pool
O advogado Brian McMonagle (à frente) e o réu Bill Cosby (direita) Imagem: David Maialetti/The Philadelphia Inquirer via AP, Pool

De Norristown (EUA)

05/06/2017 22h04

O julgamento de Bill Cosby por agressão sexual começou nesta segunda (5) com um depoimento carregado de lágrimas e com os promotores pintando o famoso ator como um predador sexual, que incapacitava suas supostas vítimas com drogas e vinho.

Este é o maior julgamento de uma celebridade americana em anos, e o ator de 79 anos, pioneiro em pulverizar as barreiras raciais, corre o risco hoje de passar o resto de sua vida atrás das grades. Ele pode ser condenado a uma pena mínima de 10 anos de prisão, mais multa de 25 mil dólares.

Vestindo terno azul marinho, Cosby sentou-se com sua equipe de advogados na corte de Norristown, subúrbio da Filadélfia (Pensilvânia, leste), os olhos às vezes votados para o júri, às vezes para baixo.

Cerca de 60 mulheres acusaram Cosby publicamente de abuso sexual durante quatro décadas.

Algumas estavam na corte nesta segunda, mas o destino do ator depende das acusações de uma única mulher, Andrea Constad, por um único incidente ocorrido em janeiro de 2004. É o único caso criminal contra ele, porque a maior parte do suposto abuso ocorreu há tempo demais para que o ator possa ser processado.

Andrea Constad, uma canadense de 44 anos, era na época diretora de operações da equipe de basquete da Universidade Temple, cujo conselho administrativo Cosby integrava.

"Este homem usou seu poder e sua fama e seu método previamente treinado de colocar uma mulher jovem, que confiava nele, em um estado de incapacidade para obter prazer sexual", disse a procuradora-adjunta do distrito, Kristen Feden.

Andrea afirma ter ido à casa de Cosby para lhe pedir conselhos sobre a decisão de trocar de trabalho e que o astro lhe deu pílulas e vinho e a agrediu.

Cosby disse ter dado a Andrea Constand pílulas de Benadryl para aliviar o estresse, e insistiu em que as relações sexuais eram consensuais e a acusou de mentir.

"Traição"

"Confiança, traição e incapacidade de consentir", disse Feden. "Porque se encontrava em um estado de incapacidade, [Andrea Constad] não podia consentir".

Feden disse que o julgamento faria "explodir" as ilusões de que Cosby é a encarnação na vida real de seu famoso personagem do "The Cosby Show", Cliff Huxtable, um afável ginecologista, pai de família.

Keshia Knight Pulliam, que na série de TV fez o papel de sua filha Rudy, assistiu aos depoimentos iniciais do processo, mas nem sinal de sua esposa de longa data, Camille Cosby.

Uma ex-assistente do agente de Cosby em Hollywood foi a primeira testemunha, e disse que o ator a drogou e agrediu sexualmente no Hotel Bel Air em 1996, tal como fez depois com Andrea.

Quando acordou, Kelly Johnson disse que estava deitada na cama.

"Lembro de ouvir sons, sons como grunhidos", disse. "Meus seios estavam de fora, e me sentia nua, mas ainda usava vestido".

"Ele pôs creme na minha mão e me fez tocar seu pênis", acrescentou Johnson, caindo em prantos.

"Destruir um homem"

Cosby, que afirma estar quase cego, sentou-se de costas para Johnston enquanto seu advogado a submetia a um contrainterrogatório raivoso e tenso.

A equipe da defesa lembrou ao júri sobre a necessidade de ter provas e advertiu que não se distraíssem por sua fama ou por "acusações com o dedo".

"A falsa acusação de agressão sexual é um ataque à dignidade humana, é um ataque à inocência humana. Não é uma distração, pode destruir um homem", disse um de seus advogados, Brian McMonagle.

McMonagle urgiu o júri a ver Cosby "não só como um cidadão" e disse que sua infidelidade conjugal o tornou "vulnerável a acusações". Também atacou Johnson, forçando-a a admitir que havia trechos em seu testemunho original que não poderia se recordar 20 anos depois.

Andrea Constand, que é homossexual, mas no passado disse ter tido relações com homens, também deve depor no processo.

Inicialmente, ela chegou a um acordo com Cosby em 2006 após uma ação civil, mas o caso foi reaberto em 2015 quando nova evidência veio à tona.

O caso se resume à palavra dela contra a dele.

A acusação se apoiará em um depoimento de 2015 de Cosby na corte, na qual admitiu ter sedativos a fim de usá-los para fazer sexo com mulheres.

A defesa atacou duramente a credibilidade de Andrea, dizendo que mentia e apresentou a relação entre ambos como consensual, com muitos encontros e supostamente 53 telefonemas ao ator após o incidente.

O júri, integrado por cinco mulheres e sete homens e apenas dois afro-americanos no total de 12 membros ficará isolado até o fim do julgamento, com duração de duas semanas.