Topo

Guillermo del Toro encanta Festival de Veneza com conto de fadas inclusivo

Cena do filme "The Shape of Water" - Reprodução
Cena do filme "The Shape of Water" Imagem: Reprodução

Veneza (Itália)

31/08/2017 17h30

O diretor de cinema mexicano Guillermo del Toro conquistou, nesta quinta-feira (31), público e crítica do Festival de Veneza com uma fábula magistral e delicada sobre o amor entre uma princesa muda e uma estranha criatura anfíbia.

"O conto de fadas é o antídoto perfeito para o cinismo, porque toca as emoções", declarou o cineasta depois de apresentar seu último filme, "The Shape of Water", em competição pelo Leão de Ouro junto com outros 20 filmes no Festival Internacional de Cinema de Veneza.

Nesta obra, o diretor mexicano alimenta sua paixão por criaturas fantásticas, colocando-as em um universo visual extravagante, arrancando aplausos e críticas entusiasmadas de especialistas e público. Ambientado em 1962, durante a Guerra Fria, o filme conta a história de uma jovem, Elisa (Sally Hawkins), que vive uma existência solitária, mas serena, em um cinema de bairro sem clientes.

Durante o dia, ela visita seu vizinho, Giles (Richard Jenkins), um artista gay que ganha a vida com comerciais e adora comédias musicais transmitidas pela televisão. À noite, ela trabalha com sua amiga negra Zelda (Octavia Spencer) em um laboratório científico secreto do governo dos Estados Unidos. Trata-se de um trio de pessoas desajustadas que rejeitam o sistema, procuram amor e acabam unindo forças.

A vida de Elisa muda com a chegada ao laboratório de uma estranha criatura marinha extraída das águas do rio Amazonas, onde era venerada como uma divindade. A criatura também consegue respirar fora d'água, uma qualidade que interessa a russos e americanos, em plena corrida para chegar ao espaço.

Cena do filme "The Shape of Water" - Reprodução - Reprodução
Cena do filme "The Shape of Water"
Imagem: Reprodução

O ser (Doug Jones) é percebido como uma ameaça para a humanidade por um militar aterrorizante, cheio de preconceitos e ódio (Michael Shannon). O encontro entre a princesa muda, que se comunica por sinais, e o monstro perseguido é uma ode ao amor puro.

"Quando ele me olha, não sabe que sou incompleta. Ele me vê como eu sou", diz, no filme, a jovem, que descobre que o amor não precisa de palavras. O filme já é apontado como um dos melhores de del Toro depois de "O Labirinto do Fauno", que levou três prêmios Oscar.

"O primeiro ato político ao nosso alcance é eleger o amor ao invés do medo. Vivemos em um tempo em que o medo e o cinismo são usados de uma maneira muito persuasiva", declarou à imprensa o cineasta mexicano.

Guilhermo del Toro revisita a fábula da "Bela e a Fera", inserindo em um sombrio contexto histórico de sexismo, racismo, injustiça social e ódio internacional.

"Há duas versões de 'A Bela e a Fera', uma puritana - os dois se amam de maneira platônica, mas não fazem amor - , e uma outra um pouco perversa e preocupante. Não me interessei por nenhuma das duas versões", indicou o diretor. No filme, os dois finalmente têm relações íntimas pudicamente sugeridas atrás de uma cortina de banheiro.

O segundo dia do Festival também foi marcado por outro filme ovacionado, "First reformed", do diretor americano Paul Schrader, que mescla morte e terrorismo. O longa tem no elenco Ethan Hawke, elogiado por sua magistral interpretação de Ernst Toller, um pai deprimido pela morte do filho na guerra no Iraque. Schrader optou por um cinema dramático, intenso, muito espiritual, distante dos thrillers do passado.

O prolífico cineasta, famoso por ser o roteirista de "Taxi Driver", "Touro Indomável" e "Gigolô Americano", confessou que há cinquenta anos sonhava em contar sem piedade a história de um homem que perde tudo.