Topo

Com Juliano Cazarré, "Boi Neon" ganha destaque no Festival de Veneza

De Veneza (Itália)

03/09/2015 21h55

A projeção de um notável filme de um jovem cineasta brasileiro na 72ª edição do Festival de Veneza, que acontece até 12 de setembro, confirmou a vitalidade do cinema latino-americano. "Boi Neon", do pernambucano Gabriel Mascaro, foi apresentado na tarde desta quinta-feira, dia 3, na mostra paralela "Horizontes" e recebeu muitos aplausos dos convidados.  

Em apenas 101 minutos, Mascaro constrói um perfil íntimo e ao mesmo tempo sociológico do Brasil contemporâneo, em um momento em que o país mantinha alta a promessa de um maior desenvolvimento nacional, através de um universo que se move entre um grande mercado de gado e as vaquejadas, atividade fundamental no Nordeste brasileiro.  

O cineasta mostra o mundo de Iremar (Juliano Cazarré), um homem encarregado de cuidar dos touros da vaquejada, mas que sonha em ser estilista feminino; de Galega (Maeve Jinkings), motorista de caminhão que transporta os animais de uma arena à outra e que de noite faz striptease; de Cacá (Alyne Santana), a filha pré-adolescente de Galega; e de Zé (Carlos Pessoa), colega de trabalho de Iremar.  

As relações entre os personagens não são nunca muito bem explicadas pelo diretor, que os apresenta como uma metáfora de uma sociedade em processo de mudanças constantes que não se solidificam. Essa ambiguidade é bem mostrada por Mascaro, que descreve o dia a dia desses microcosmos como um etimólogo examina a vida de uma colmeia ou de um formigueiro.   

Graças aos seus inúmeros trabalhos como artista plástico, o pernambucano retrata o mundo das vaquejadas como se fosse uma obra de arte em constante movimento. "Um dos meus propósitos ao realizar este filme é eliminar o lugar comum de que o Nordeste brasileiro está povoado apenas de gente inculta e violenta e transformá-lo em um ambiente sacro, exótico e misterioso", declarou Mascaro.  

"O meu longa tenta revisar a compreensão política e simbólica das relações humanas no Nordeste, explorando tramas e cores que testemunham as contradições da sociedade e dilatando as noções de identidade e gênero que afrontam os personagens em uma escala diferente de valores e aspirações", explicou o diretor.

Juliano Cazarré em cena do filme "Boi Neon", selecionado para a mostra Horizontes do Festival de Veneza - Divulgação - Divulgação
Juliano Cazarré em cena do filme "Boi Neon", selecionado para o Festival de Veneza
Imagem: Divulgação