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Hollywood ajusta filmes para o público no exterior

"Carros 2" tem estreia mundial prevista para junho - Divulgação
"Carros 2" tem estreia mundial prevista para junho Imagem: Divulgação

Glenn Whipp

Em Los Angeles (EUA)

21/05/2011 09h00

Hollywood sabe que piratas e robôs viajam bem no exterior. Neste verão americano, os estúdios de cinema descobrirão se o mesmo vale para americanos de ressaca, caubóis enfrentando alienígenas e carros animados saindo da Rota 66.

Mas se estes filmes forem parados na fronteira, não poderá ser dito que os cineastas não se esforçaram.

Com a bilheteria internacional atualmente representando até dois terços da receita total de um filme de grande orçamento, estes filmes estão cada vez mais sendo desenvolvidos tendo o público estrangeiro em mente –desde a história ao elenco e cenários. Alguns filmes de animação até mesmo substituem os talentos locais, personagens e piadas de um país para outro.

“Se temos tramas que no estágio do roteiro parecem centradas demais nos Estados Unidos, especialmente em grandes filmes de ação e ficção científica, nós tentamos desenvolver soluções que façam o filme parecer mais global”, diz Tomas Jegeus, co-presidente da 20th Century Fox International Theatrical.

Filmes globais

As evidências desse foco são bem fortes até o momento neste ano, à medida que cresce o número de salas no mercado internacional. O filme de ação “Velozes e Furiosos 5”, que se passa no Rio de Janeiro e conta com elenco de apelo global, atualmente lidera a bilheteria mundial. Sua arrecadação já ultrapassou à do desenho animado “Rio”, que também se passa no Brasil.

Ambos os filmes também estrearam em territórios internacionais seletos antes de serem exibidos na América do Norte. Esse padrão de lançamento, antes raro, agora é comum –uma concessão tanto às preocupações com a pirataria quanto à importância do mercado global.

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    Vin Diesel e Paul Walker estão em "Velozes e Furiosos 5"

“Os estúdios querem fazer filmes que tenham um sabor internacional e de gêneros que transcendam culturas e línguas”, diz Paul Dergarabedian. presidente da divisão de bilheteria da Hollywood.com. “Este é um negócio global e não se trata mais de quem são os astros, mas de onde eles vêm.”

Isso pode ser visto no elenco internacional de candidatos a grandes bilheterias de verão como “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas”, que estreia neste fim de semana, após sua pré-estreia badalada no último sábado no Festival de Cinema de Cannes, assim como o repleto de britânicos “X-Men: Primeira Classe”.

“Se você tiver a possibilidade de contratar um ator com maior receptividade no exterior, você contrata”, diz o produtor de “Piratas”, Jerry Bruckheimer, cujo filme inclui duas adições –a atriz espanhola Penélope Cruz e o inglês Ian McShane– nos papéis principais. “Um ator com popularidade mundial só soma junto ao público.”

Piadas ganham adaptação

Adaptar o humor especificamente às culturas dos países também está se tornando uma forma popular de aumentar a bilheteria. A 20th Century Fox e os Blue Sky Studios tiveram muito sucesso em dublar vozes e ajustar piadas para seus filmes de animação “A Era do Gelo”. A bilheteria do filme saltou de US$ 383 milhões do original de 2002 para US$ 886 milhões no terceiro filme da série.

“Esses filmes não são baseados em uma cultura específica, de modo que você pode dublá-los e eles se tornam filmes locais em cada país”, diz o cineasta brasileiro Carlos Saldanha, diretor dos filmes “Rio” e da série “A Era do Gelo”.

A Pixar Animation seguirá um pouco essa fórmula neste ano, situando “Carros 2” em seis países diferentes e substituindo um carro diferente para uma cena que ocorre em uma festa em Tóquio.

O piloto Jeff Gordin da NASCAR fará sua voz nos Estados Unidos, mas ele será substituído em uma cena por favoritos regionais como o piloto australiano Mark Winterbottom e pelo piloto espanhol da Fórmula 1, Fernando Alonso.

“A Pixar está tendo muito cuidado em tornar o filme o mais específico possível para alguns países em que se pode fazer isso”, diz a produtora de “Carros 2”, Denise Ream. “Este é o maior filme da Pixar. Eu gosto de brincar que nós construímos o mundo para este aqui.”

Este tipo de esforço pode ser doloroso durante a produção, mas prova ser recompensador nos lucros. O primeiro filme “Carros”, que seguia seus personagens motorizados em um ambiente distintamente americano, fez sucesso comercial na América do Norte. No exterior, entretanto, o público não se conectou com sua história nostálgica e o filme não reproduziu a bilheteria doméstica, uma raridade no gênero.

“Carros 2” leva seus personagens ao redor do mundo, uma ideia que o co-roteirista e co-diretor, o diretor chefe da Pixar, John Lasseter, teve enquanto viajava para promover o primeiro filme.

“É sempre feito tendo a história em mente”, diz Ream, “e não apenas por fazer”.

Igualmente, a notória vida noturna de Bancoc parecia o ambiente perfeito para “Se Beber, Não Case Parte 2”. E deslocar “Velozes e Furiosos 5” para o Rio representou parte de um esforço orquestrado para dar à série uma apelo mais amplo, além de suas raízes automotivas americanas, diz David Kosse, presidente da divisão internacional da Universal Pictures.

“Não é um filme de carros”, diz Kosse. “Nós estamos atraindo pessoas que não viram os outros filmes e querem ver um filme de roubo.”

Dergarabedian nota que o saber comum de que filmes de ação épicos e filmes leves de super-herói são gêneros bem aceitos pelo público estrangeiro. Mas ele diz que comédias como “Se Beber, Não Case Parte 2” também funcionam, desde que o humor tenha amplo apelo.

Quanto a como a aversão internacional tradicional aos faroestes americanos poderia afetar o faroeste de ficção científica de julho, “Cowboys & Aliens”, Dergarabedian ri.

“A combinação de temas é precisamente porque funcionará junto ao público estrangeiro”, ele diz. “Além disso, é estrelado por James Bond (Daniel Craig). Eles fizeram a lição de casa.”