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Em seu primeiro papel adulto, Dakota Fanning vive escândalo sexual do século 19 em "Effie"

Dakota Fanning em cena do filme "Effie" - AP
Dakota Fanning em cena do filme "Effie" Imagem: AP

Jill Lawless

West Wycombe (Inglaterra)

10/01/2012 07h00

A Inglaterra do século 19 está voltando às telas, com uma pitada de drama do século 21 nos bastidores: "Effie" narra a história do desastroso casamento entre o crítico de arte do século 19, John Ruskin, e sua jovem esposa Effie Gray, vivida por Dakota Fanning, atualmente com 17 anos, em um de seus primeiros papéis adultos.

A união foi como um "descarrilamento de trem", que terminou depois que Effie se apaixonou escandalosamente pelo artista John Everett Millais. "É o casamento ruim supremo", diz Emma Thompson, atriz ganhadora do Oscar e roteirista do longa. Ela conta que foi atraída pela história devido à sua "qualidade arquetípica": "Por acaso é um drama de época, mas é possível fazer uma história com este tipo de complexidade e esquisitice em qualquer época", diz.

Ela não é a única que viu potencial na história. Dois escritores acusaram a atriz de ter copiado o trabalho deles, alegações negadas por ela e seus produtores. O dramaturgo Gregory Murphy alega semelhanças com sua peça e roteiro "The Countess". Ele alega que "Effie" está "claramente relacionado ao meu próprio roteiro no período de tempo, desenvolvimento de personagem, estrutura e tom". Já a roteirista americana Eve Pomerance argumenta que o roteiro tem passagens semelhantes ao de seu roteiro não produzido, "The Secret Trials of Effie Gray".

Donald Rosenfeld, o produtor de "Effie", acusa Pomerance e Murphy de "caçadores de fortuna", e contra-atacou com processos em um tribunal americano contra ambos os escritores, buscando uma declaração por um juiz de que não há questões de direitos autorais envolvidas. Thompson reconhece que não é primeira escritora a contar a história, que já recebeu várias versões para cinema, televisão e teatro. Keira Knightley estaria, inclusive, negociando interpretar Effie em outro filme, "Untouched".

"Isso sempre acontece. É um lance de zeitgeist. Não foi feito nenhum filme de Jane Austen por 30 anos, quando começamos a preparar ‘Razão e Sensibilidade’", o filme de 1995 pelo qual ela ganhou o Oscar de roteiro adaptado. "De repente, 14 estavam em produção", diz a a atriz.

Casamento anulado
Ruskin se casou com Gray em 1848, quando ele tinha 29 anos e ela, 19. Na noite de núpcias, algo a respeito da noiva –os historiadores ainda debatem exatamente o que– horrorizou tanto Ruskin que o casamento não foi consumado. Ruskin manteve que foi a personalidade dela que o afastou, mas Gray escreveu posteriormente que seu marido "imaginava que as mulheres eram bem diferentes do que ele viu que eu era".

"Nós estamos falando sobre uma garota transformada em objeto, e que então decepciona um homem ao ser real", diz o diretor Richard Laxton, um veterano da televisão britânica fazendo seu primeiro filme para o cinema. "Se isso não é relevante, eu não sei o que é."

 

O divórcio era ilegal, de modo que Effie sofreu por anos antes de se apaixonar por Millais, um importante membro da Irmandade Pré-Rafaelita, grupo de jovens pintores cujo estilo ousado chocou e empolgou o establishment de arte vitoriano.

Effie buscou a anulação do matrimônio, que foi concedida com base na "impotência incurável" de seu marido –apesar de Thompson achar que a disfunção de Ruskin era mais emocional do que erétil. Ela se casou com Millais e teve oito filhos. O amor, no entanto, teve um preço: Gray foi proibida de frequentar eventos que contavam com a presença da rainha Vitória e sofreu ostracismo por partes da sociedade.

Fanning diz que apesar da angústia de Effie, o filme não é deprimente: "Ele trata da jornada dela para voltar a se tornar inteira. Effie é uma mulher forte –e uma mulher moderna para a época em que vivia", diz a protagonista.

Apelo moderno
Os cineastas esperam que a história de uma mulher tentando escapar de um casamento opressivo desperte o interesse do público moderno. Thompson diz que sua principal inspiração para o filme foi o livro "Parallel Lives" de Phyllis Rose, que analisa cinco casamentos disfuncionais vitorianos. A atriz ficou impressionada com o fato de que em cada caso, os problemas pareciam "emblemáticos da desconexão emocional em nosso país em geral, mas particularmente entre os sexos": "A comunicação entre os sexos não é boa o suficiente, até onde posso ver, e precisa melhorar. Falando de modo geral, você olha para a cultura do masculino e para a cultura do feminino, e pensa: ‘As duas nunca se encontrarão’", diz.

"Effie" almeja a alquimia de orçamento modesto, roteiro inteligente, figurino bonito e elenco de classe para conquistar o público. O rol de atores britânicos no filme inclui Emma Thompson como lady Eastlake, uma mecenas das artes progressista que fez amizade com Effie. O marido de Thompson na vida real, Greg Wise, interpreta Ruskin, com Tom Sturridge como Millais, e Julie Walters, James Fox, Derek Jacobi e David Suchet em papéis coadjuvantes.

Apesar dos temores de que as acusações de plágio possam adiar a produção, as filmagens de "Effie" ocorreram no final de 2011 em Londres, Escócia, Veneza e em West Wycombe, que substitui a Academia Real de Londres em uma cena chave de festa. Os produtores esperam que o filme estreie em maio deste ano.

O diretor do longa brinca e faz um paralelo moderno para descrever a história de tabloide vitoriana: "Garota jovem se apaixona por Simon Cowell, vai a um festival, percebe que há esse outro membro da banda, então volta para Simon", ele disse. "Ele parte para a Escócia e os tranca em um estúdio de gravação, então ela se apaixona pelo jovem vocalista". (Tradução de George El Khouri Andolfato.)