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Programas secretos do governo inspiraram diretor a fazer novo "Bourne"; veja entrevista

Rachel Weisz e Jeremy Renner em cena de "O Legado Bourne" - Divulgação
Rachel Weisz e Jeremy Renner em cena de "O Legado Bourne" Imagem: Divulgação

Sandy Cohen

Em Los Angeles

12/08/2012 07h00

"O Legado Bourne" é uma obra de ficção, mas as parcerias científicas, políticas e empresariais que ela descreve são bastante reais. Tony Gilroy, o roteirista dos primeiros três filmes da série "Bourne" e responsável por roteiro e direção do episódio mais recente – "O Legado Bourne" –, passou horas mergulhado em pesquisa militar e de inteligência para contar a história do assassino da CIA, Jason Bourne.

Quando foi pedido a ele que expandisse o universo "Bourne" em "O Legado", Gilroy resolveu voltar-se para a realidade: centenas – se não milhares – de programas governamentais ou semigovernamentais secretos, financiados por milhões e milhões de dólares com pouca supervisão. Tudo feito com o objetivo de desenvolver melhores armas e melhores soldados.

Eu queria manter tudo realmente cru, autêntico e realista e não queria que parecesse ficção científica

Tony Gilroy, sobre como a realidade o inspirou a fazer novo "Bourne"

A Agência de Projetos de Pesquisa Avançada da Defesa, que realiza pesquisa para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, é apenas uma organização desenvolvendo os tipos de programas que se encaixariam perfeitamente no mundo de Bourne: não apenas armas de alta tecnologia e próteses robóticas, mas avanços na neurociência para ajudar a reduzir o estresse no campo de batalha, apressar o aprendizado, melhorar a capacidade analítica e até mesmo gerar confiança.

Jonathan Moreno, bioeticista e professor da Universidade da Pensilvânia, explora o relacionamento entre a pesquisa do cérebro e a defesa nacional em seu livro "Mind Wars". "A melhoria da capacidade do soldado de travar uma guerra, interfaces cérebro-máquina, e o uso de drogas e outras medidas para confundir e quebrar o inimigo são os tipos de abordagens que serão desenvolvidas ao longo das próximas décadas, movidas por ciência de vanguarda", ele escreve.

Esses avanços estão no coração do filme. Jeremy Renner interpreta Aaron Cross, um superagente que se beneficiou de pesquisa médica secreta do governo; Rachel Weisz é a médica que ajudou a desenvolver a ciência e Edward Norton atua como o chefão, um tipo híbrido de empresário-militar-homem da inteligência, que tenta controlar tudo.


Gilroy conversou com a "Associated Press" sobre sua inspiração para a história e por que a verdade pode ser mais estranha que a ficção.

AP - Como você decidiu ampliar o mundo "Bourne"?

Tony Gilroy - Precisava haver algo por trás da cortina, uma conspiração muito maior. Edward Norton tem sua agência que ele cultivou no centro de Washington, e encontramos um nicho para ele na cadeia alimentar da burocracia militar-industrial-empresarial, encontramos um bom lugar para sua agência se encaixar. (...) Ela conta com toda a verba, toda a motivação e todo o sigilo que esperaríamos de um programa do governo, mas também conta com toda a ausência de supervisão, com todo o erro humano, que sabemos que sempre vêm com tudo. Então estabelecemos a agência de Edward lá, nessa espécie de ponto ideal...

TRAILER DE "O LEGADO BOURNE"


AP - Você descobriu algo tão absurdo que o público poderia não acreditar que é verdade?

Tony Gilroy - Eu queria manter tudo realmente cru, autêntico e realista e não queria que parecesse ficção científica, e eu sabia que o assunto de que falamos está realmente nessa direção ou que certamente muitas pessoas o encarariam dessa forma. (...) O que me pareceu mais aplicável e que mais me ajudou na minha história foi o doping genético, a alteração genômica. Isso parecia um pouco mais atraente e um pouco mais próximo do horizonte do que algumas outras coisas. É fascinante que, no mês passado, desde o início das Olimpíadas, eu já vi dois artigos publicados, falando que para os cientistas responsáveis pela realização dos exames antidoping de todos os atletas, essa é a vanguarda deles. A próxima questão deles é como monitorar o doping genético. E eles não sabem como fazê-lo e é realmente fascinante. O cenário é a introdução do doping genético no cromossomo por meio de um vírus sintético. E isso está acontecendo agora. É com isso que os médicos olímpicos estão preocupados...

AP - Ter escrito os três filmes anteriores da série "Bourne" deve ter tornado mais empolgante assumir a direção...

Tony Gilroy - Com a trepidação de não querer que as pessoas achassem que você está fazendo ficção científica. Nós não estamos buscando por uma "suspensão da incredulidade" aqui, então é um pouco complicado tentar convencer a todos que isso realmente está nos planos de alguém.

AP - Após toda sua pesquisa nessa área, alguém da comunidade de inteligência já contatou você, seja por admiração ou de forma ameaçadora?

Tony Gilroy - Não. Eu tenho alguns amigos que vasculham pelo mesmo tipo de temas ligados a espionagem que eu, e nós sempre nos perguntamos se ao entrarmos com determinado número de palavras de busca o tempo todo, você acaba sendo apontado por algum site de coleta de informação em algum lugar? Eu não sei. Eu não considero isso exageradamente paranoico. Mas ninguém nunca me contatou.