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Indústria pornô vive crise com concorrência online

09/06/2012 10h23

A indústria do entretenimento adulto está sofrendo para competir com as alternativas grátis na internet. Com isso, as estrelas do mundo pornô vêm buscando alternativas para sobreviver, segundo constatou o documentarista Louis Theroux.

Quinze anos após um raio-X que mostrava a exuberância do mercado pornográfico e os milhões de dólares movimentados pela indústria, Theroux revisitou para um documentário da BBC os centros de produção na costa oeste americana, para encontrar uma realidade completamente diferente da dos anos 1990.

Em oito anos trabalhando na indústria pornográfica, Tommy Gun, um dos mais conhecidos atores pornô americanos, já participou de cerca de 1.200 cenas. Musculoso, com ar latino e uma leve semelhança física com Robert De Niro, ele construiu uma imagem confiável num setor no qual a confiança é o ativo mais valorizado do homem.

Em sua casa numa área rural ao norte de Los Angeles, ele guarda um pequeno exército de estatuetas do equivalente ao Oscar do cinema pornográfico que ele ganhou por seus papéis.

Em uma área industrial de Las Vegas, Tommy se prepara para gravar uma cena, na qual faz o papel de um "comprador secreto" que testa o serviço ao consumidor de uma loja. O "interesse amoroso" de Tommy no filme é a gerente da loja, representada pela atriz Tasha Regin, de 23 anos.

Tommy conta que está solteiro há quatro anos. Ele sente dificuldades em manter um relacionamento sério com alguma mulher disposta a aceitar seu estilo de vida - ou possivelmente em amar alguém capaz de aceitar.

"Não é normal deixar alguém que você ama para ir fazer sexo com alguém que você não ama", disse. "Isso não é normal", repete, enfaticamente.

Vida de fantasia
Para os milhões de consumidores que consomem pornografia, a vida dos atores homens pode parecer de certa maneira uma vida de fantasia. Ser pago para fazer sexo com mulheres bonitas cinco ou seis vezes por semana? Como não gostar?

Mas para aqueles que vivem essa vida, a realidade é bem diferente. Para começar, os salários não são grande coisa - US$ 150 (cerca de R$ 305) por cena. Logicamente sem direito a seguro saúde, férias ou aposentadoria.

Isso sem contar que o ato do coito sob demanda, com iluminação forte e câmeras em ação, não é algo que qualquer homem seja capaz de fazer. Ou que gostariam de fazer, dada a vergonha e o embaraço que isso causa nos relacionamentos das pessoas.

O trabalho é duro nos melhores disas - e estes estão longe de ser os melhores dias.

A indústria pornográfica está em crise, os lucros vêm sendo dizimados pelo impacto dos downloads ilegais de conteúdo pirateado de sites pornográficos no estilo YouTube e amadores vêm colocando suas próprias cenas caseiras de sexo em sites pagos.

Suicídio
Há quinze anos, na primeira visita de Theroux à indústria pornográfica de Los Angeles, a grande história por lá eram os enormes lucros de uma indústria escondida que parecia próxima de ser reconhecida pelo mainstream.

Alguns poucos atores pornô estavam se tornando celebridades: Traci Lords, Jenna Jameson, Ron Jeremy (conhecido como "o porco-espinho", por causa de sua profusão de pelos pelo corpo).

Um dos maiores atores tinha o pseudônimo artístico Jon Dough. Ele era tão renomado que uma das maiores produtoras, a Vivid Video, ofereceu um contrato de exclusividade para ele.

Dough foi entrevistado em um set de filmagem naquela época. Nove anos depois, aos 43 anos, ele se suicidou.

A maior parte da indústria responsabiliza as pressões do negócio e as dificuldades de sobreviver em um mercado saturado com oferta grátis. Várias pessoas dizem que o declínio das vendas de DVD provocaram sua morte.

Jon Dough era casado com uma atriz pornô, Monique DeMoan, hoje aposentada e vivendo a 1.300 quilômetros de Los Angeles. Ela diz que seu marido se matou por causa da dependência em drogas.

Apesar disso, o fato de que muitos outros companheiros ligassem o suicídio ao ocaso dos DVDs pornôs dizem muito sobre o setor.

O declínio da indústria pornográfica é parte de uma tendência geral que afeta a música, o jornalismo impresso e os filmes convencionais.

As várias maneiras de acessar o conteúdo de graça na internet reduziu os lucros dos profissionais nos respectivos campos.

Mas enquanto os frequentadores dos cinemas ou os fãs de música podem ter um sentimento de lealdade, por exemplo, com a Pixar ou com o U2, e entender que precisam pagar pelos frutos de seu trabalho, os consumidores de pornografia se sentem menos constrangidos de roubar o produto. Muitos acham que não é moralmente aceitável pagar por conteúdo adulto.

Prostituição e webcam
As atrizes têm se desdobrado para encontrar outras alternativas para seu trabalho.

Apresentações ao vivo pela internet são uma dessas alternativas. O trabalho em frente à webcam é um dos tipos de conteúdo que não pode ser pirateado, já que é feito ao vivo e de maneira interativa.

Muitas atrizes também trabalham ainda como prostitutas para engordar o orçamento. Enquanto uma atriz pode receber entre US$ 600 e US$ 800 (entre R$ 1.220 e 1.625) por uma cena em um filme, ela pode conseguir o dobro disso - por menos trabalho - com atendimento "privado".

Para muitas atrizes, os filmes hoje são um complemento e uma forma de propaganda para sua ocupação principal, a prostituição.

Enquanto os salários caem e os trabalhos escasseiam, a pressão sobre os atores continua.

Para os atores do sexo masculino, as opções são ainda mais restritas. Para eles, a prostituição ou as apresentações na webcam não são uma opção, e além disso eles ganham menos para fazer os filmes.

Os nomes mais conhecidos, como Tommy Gun, ainda conseguem trabalho regular. Mas ele ainda luta com um sentimento de solidão e a estranha combinação de estigma e fama que sua profissão peculiar traz consigo.

Questionado sobre sua capacidade de atuar com solidez diante de tanta gente, em uma cena tão longa e com o aparente desinteresse de sua parceira, ele responde: "Este é o meu trabalho".

Mas é difícil imaginar por quanto tempo mais esse trabalho vai continuar existindo.