Diretor de "Intocáveis" diz que investidores duvidaram do filme
A comédia não convencional "Intocáveis", sobre um milionário tetraplégico e seu cuidador ex-presidiário, transformou-se no maior sucesso do cinema francês, dentro e fora da França. Em cartaz no Brasil, ela disputa uma nomeação para concorrer ao Oscar. Mas seus autores contam que tiveram dificuldade em captar dinheiro para concretizar o filme.
"Até quando contávamos (o enredo do filme) para amigos, o queixo deles caía", conta à BBC o codiretor Eric Toledano.
Ele diz que um dos investidores chegou a perguntar se o personagem principal "não poderia andar um pouco no final do filme".
Até que Toledano e seu colega Olivier Nakache decidiram buscar apoio não apostando no enredo, mas em sua experiência como diretores, bem como no fato de "Intocáveis" ser baseado em uma história real.
Trata-se da história do aristocrata francês Philippe Pozzo di Borgo e seu cuidador Abdel Sellou.
"Achávamos que a história tinha todos os ingredientes que amamos no cinema", afirma Nakache. "Queríamos fazer uma comédia realista a respeito de um tema profundo".
No filme, o milionário é interpretado pelo ator François Cluzet. Sem poder fazer nenhum movimento do pescoço para baixo, ele decide o improvável: contrata Driss, um ex-presidiário negro interpretado por Omar Sy, para cuidar dele. A relação entre os dois homens guia o filme.
‘Imagem poderosa’
Para Nakache, na vida real, a conexão entre Abdel e Philippe ocorria "pelo humor".
"E não um humor qualquer, mas sim especial; um humor sem limites, que os torna nada convencionais. Um é negro, um é branco; um é rico, um é pobre, e eles podem falar qualquer coisa (um para o outro)."
O filme já arrecadou cerca de US$ 364 milhões no mundo, mais do dobro do que outro filme francês de sucesso – e premiado no Oscar -, "O Artista".
O motivo do êxito não está claro para Toledano, mas ele supõe que seja "porque o filme fala com as pessoas e toca as pessoas".
"Além disso, especialmente na França, nos questionávamos se (o filme) funcionaria por causa da má situação econômica na Europa. Mas aparentemente as pessoas precisam dar risada."
Oscar e versão em inglês
Com a força da poderosa produtora Weinstein Company, que orquestrou a bem-sucedida campanha de "O Artista" no Oscar, "Intocáveis" foi selecionado para representar a França como potencial indicado à categoria de filme estrangeiro na próxima premiação.
"Não há dúvidas de que (‘Intocáveis’) será um favorito ao Oscar", disse Harvey Weinstein à BBC. "É uma história tão tocante, engraçada e charmosa, é tudo o que gosto em um filme."
Sem dúvida o sucesso de "O Artista" abriu portas para "Intocáveis". E o apoio de Weinstein ao filme de Toledano e Nakache cresceu após críticas do político de direita Jean-Marie Le Pen, que acusou a obra de exaltar a imigração (o personagem Driss é um imigrante norte-africano).
Le Pen disse, em entrevista a uma emissora local, que a França é como "a pessoa deficiente presa a uma cadeira de rodas", ou seja, como o personagem branco do filme.
Weinstein chamou a crítica de "repulsiva". Toledano, por sua vez, tenta distanciar-se da política. "Sou apenas um escritor e diretor. Mas acho que, quando você faz sucesso, acaba tendo de nadar com os tubarões."
Agora, Weinstein, responsável por outros sucessos de Hollywood, como "Pulp Fiction" e "Shakespeare Apaixonado", tem planos de adaptar "Intocáveis" para o inglês. Colin Firth (de "O Discurso do Rei") está cotado para o papel de Philippe.
"Ele é um ótimo ator, gostamos muito dele em 'O Discurso do Rei'", afirma Toledano. "Se há que ser feito um remake, que seja com ele."
Mas os diretores franceses provavelmente não se envolverão no projeto em inglês. "Confiamos em Harvey (Weinstein), mas, quanto a nós, já fizemos o filme que queríamos. Agora vamos pensar na nossa próxima aventura."
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