Paris tem primeiro festival mundial de assassinos em série
A capital francesa recebe em abril o primeiro festival internacional já dedicado aos assassinos em série.
O festival "Na Estrada do Crime" reúne cerca de 70 filmes e documentários sobre o tema, incluindo entrevistas com alguns dos maiores criminosos da atualidade. Ele também apresenta inúmeros debates com especialistas internacionais e até mesmo com vítimas que conseguiram sobreviver ou parentes de pessoas mortas pelos criminosos.
Pela primeira vez, interrogatórios e entrevistas filmadas de assassinos em série, com várias horas de duração, estão sendo apresentados na íntegra.
Segundo o organizador do festival, o especialista em criminologia Stéphane Bourgoin, o objetivo do festival parisiense - que reúne policiais, psiquiatras, técnicos de investigações científicas e advogados de diferentes países - é apresentar de forma exaustiva ao público em geral discussões e análises normalmente limitadas apenas aos especialistas.
"Há inúmeras séries na TV sobre assassinos em série, como 'Dexter' ou 'Mentes Criminosas'. A ideia é confrontar a realidade das investigações e dos processos judiciais à imagem que as pessoas têm sobre o assunto por meio de obras de ficção desse tipo", disse Bourgoin à BBC Brasil. "O festival permite (...) aprofundar as discussões sobre o assunto."
Análises e "noites em claro"
Bourgoin já entrevistou 70 assassinos em série em inúmeros países, incluindo o Brasil, e escreveu cerca de 30 livros sobre o assunto.
Seu livro publicado nesta semana na França, 999 anos de Assassinos em Série, com entrevistas, traz relatos dos crimes de 365 criminosos em 70 países e inclui casos de assassinos em série brasileiros, como o de Francisco das Chagas, responsável pela morte de crianças no Maranhão e no Pará, e o "maníaco do parque" Francisco de Assis Pereira, que atacava mulheres no Parque do Estado, em São Paulo.
O festival "Na Estrada do Crime" apresenta documentários e debates sobre vários assassinos em série famosos, como Ted Bundy, acusado de 36 mortes e necrofilia (mas suspeito de ter cometido uma centena de crimes) e Ed Kemper, que inspirou o personagem de Hannibal Lecter no filme "O Silêncio dos Inocentes" e foi entrevistado por Bourgoin.
Também seria discutido no festival o caso de Jeffrey Dahmer, o "canibal de Milwakee", com a presença de Derf Backderf, um vizinho e amigo de infância do criminoso, que lançou um livro de história em quadrinhos sobre Dahmer.
Criminosos europeus, como o francês Michel Fourniret, "o monstro de Ardennes", que confessou o estupro e o assassinato de nove meninas e jovens na França e na Bélgica, mas é suspeito de ter cometido vários outros crimes, também estão entre os assassinos em série que terão destaque no festival.
Uma das primeiras vítimas de Fourniret, que conseguiu sobreviver, foi convidada para um debate sobre o criminoso.
Um outro destaque do festival, em cartaz até 28 de abril, são as chamadas "noites em claro", sessões de 24 horas sem interrupção de filmes e documentários, que ocorrem nos dias 12, 20 e 27 de abril.
Anders Breivik, norueguês acusado de matar 77 pessoas em seu país em julho de 2011, faz o símbolo da extrema direita ao chegar em seu julgamento, em Oslo. Ele foi condenado a 21 anos de prisão, uma pena que pode ser prolongada enquanto for considerado perigoso. Seu julgamento durou quatro meses
Assassinos em massa
O festival também discute os casos de assassinos em massa, como Anders Breivik, autor dos atentados em julho de 2011 na Noruega, que mataram 77 pessoas e deixaram 151 feridos, ou ainda o massacre na escola primária de Newton, nos Estados Unidos, em dezembro passado.
"Os assassinos em massa têm personalidades suicidas, mas eles querem se tornar famosos ao morrer. A única maneira de acabar com esse fenômeno é impedir que suas identidades e seus manifestos sejam divulgados", diz Bourgoin.
O festival em Paris está atraindo também participantes de outros países. É o caso de Charlotte Laure Cayton, que mora em Liège, na Bélgica, e já participou de três dias de eventos, entre eles a sessão intitulada "na mente de um assassino em série".
Estudante em psicocriminologia na Universidade de Liège, ela pretende se especializar nos Estados Unidos na realização de perfis dos assassinos em série.
"Esse festival é uma oportunidade de ouro para ter acesso a documentos e reportagens sobre os assassinos em série e também para encontrar especialistas no assunto", disse Cayton em entrevista à BBC Brasil.
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