Por que críticos consideram "Democracia em Vertigem" um azarão no Oscar
Produção do Netflix dirigida pela brasileira Petra Costa foi indicada na categoria de melhor documentário em longa-metragem, mas enfrenta fortes concorrentes.
A indicação do filme brasileiro "Democracia em Vertigem" para concorrer a melhor filme na categoria de documentário em longa-metragem no Oscar, divulgada nesta segunda -feira (13), foi uma surpresa. Mas será ainda mais surpreendente se a diretora Petra Costa levar a estatueta para casa.
Isso porque apesar de ser bem avaliado pela crítica internacional, o filme produzido pela Netflix perde nas resenhas para seus concorrentes. Sites de apostas sobre o Oscar e outros que agregam críticas apostavam em outro filme no lugar, o também elogiado Apollo 11. Agora, nos rankings de quem aposta nos ganhadores da premiação, o filme aparece entre os menos prováveis a vencer a categoria.
O site Metacritic, por exemplo, coloca Democracia em Vertigem atrás dos outros quatro indicados na categoria. O site é um agregador de resenhas dos mais importantes críticos e veículos, e transforma cada resenha em porcentagem, de acordo com a nota dada na crítica ou com uma nota calculada pelo site, de forma subjetiva, a partir de uma crítica qualitativa.
Antes de chegar a um número final, as notas são pesadas de acordo com a notoriedade do crítico, sua estatura e o volume de críticas.
Entre os melhores filmes de 2019, de acordo com essas notas, Democracia em Vertigem aparece em 57º lugar, com 81 pontos. Mas, antes, estão os concorrentes For Sama (10º lugar, 89 pontos), American Factory (24º lugar, 86 pontos), Honeyland (25º lugar, 86 pontos) e The Cave (36º lugar, 84 pontos). Apollo 11, esnobado na categoria do Oscar, aparece em 14º lugar, com 88 pontos.
"O documentário que mais ganhou prêmios no circuito de premiações nas semanas mais recentes, Apollo 11, é o filme obviamente esnobado" entre documentários, escreveu um dos editores do site sobre as nomeações do Oscar. "A nomeação surpreendente, em seu lugar, é de Democracia em Vertigem, que foi em sua maior parte ignorado em outros lugares."
Notas e críticas
A nota de Democracia em Vertigem no site, 81, foi elaborada a partir de 12 críticas bastante elogiosas publicadas internacionalmente, de veículos como Variety, Los Angeles Times, New York Times e The Guardian, entre outros.
A crítica do Los Angeles Times enaltece a "sensibilidade" de Petra Costa, por exemplo, e a do britânico Guardian dá 4 de 5 estrelas e elogia a "poderosa compilação de imagens originais e de arquivo", além de destacar a voz de Costa, que "não se intromete excessivamente" na história.
Com imagens de bastidores da história recente da política brasileira e outras de impacto, como a dos protestos de junho de 2013, Democracia em Vertigem usa a biografia da diretora e um tom intimista para costurar e retratar os fatos que levaram até o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A nomeação do filme, que conta tudo isso em primeira pessoa, gerou polêmica nas redes brasileiras, polarizadas como o país. Internacionalmente, contudo, o filme é elogiado.
Mas as críticas também são amplamente favoráveis aos concorrentes. For Sama, sobre a história da diretora síria Waad al-Kateab e sua vida ? apaixonando-se, casando e tendo uma filha (Sama) durante a guerra ?, recebeu cinco estrelas, a classificação máxima, do Guardian. O filme é "o estudo em tela mais envolvente já feito sobre como esse conflito destruiu o cotidiano das pessoas", diz a crítica do jornal.
American Factory, primeira produção de uma empresa criada por Barack e Michelle Obama, registra as atividades de funcionários em uma fábrica de vidros para carros nos EUA. "É daqueles raros documentários que não são apenas envolventes por seu conteúdo, mas oferecem também um profundo prazer sensorial", diz a resenha do Washington Post.
Honeyland, também indicado a melhor filme estrangeiro e ganhador de melhor documentário internacional no festival de Sundance, é um "feito milagroso", segundo o Guardian.
"Poucos filmes capturam a grande roda da natureza rodando com tanta beleza e empatia quanto Honeyland, e menos filmes ainda mostram como essa roda pode facilmente sair dos trilhos e se romper em pedaços", segundo o Boston Globe. O filme acompanha a história de uma apicultora na Macedônia.
E, por fim, The Cave, sobre um hospital escondido na Síria, "é tanto um filme imensamente humano, e um filme difícil, de partir o coração", de acordo com a resenha da Variety.
O Metacritic também reúne listas de melhores filmes do ano elaboradas pelos maiores críticos de cinema e publicações.
De todos os textos reunidos de melhores filmes do ano, Democracia em Vertigem aparece apenas em um: o do crítico A. O. Scott, do New York Times. Em uma resenha elogiosa, ele descreve a obra como o filme "mais assustador do ano", e o longa aparece em oitavo lugar de sua lista. No entanto, o mesmo crítico coloca em primeiro lugar um dos concorrentes do brasileiro na premiação do Oscar: Honeyland, "nada menos que um filme épico", segundo Scott.
Honeyland, por sinal, foi escolhido como um dos melhores filmes do ano por 23 críticos. American Factory, por 16, ForSama, 15 e The Cave, 4.
Já segundo um texto do site de previsões e entretenimento Gold Derby, que diz ter acertado 96 dos 124 indicados ao Oscar (77%), o site foi pego bastante de surpresa pelas nomeações de 4 filmes: Toy Story 4 na categoria de melhor canção original, Democracia em Vertigem na de melhor documentário, Memorable como melhor curta de animação e Saria na categoria de melhor curta de ficção. O site diz calcular previsões de mais de 10 mil usuários registrados e dera probabilidades mínimas para esses filmes serem indicados.
Nas previsões de possíveis ganhadores, o filme brasileiro aparece em último entre os cinco candidatos.
'Esnobado'
Diversas publicações colocam Apollo 11 como um dos grandes filmes esnobados na competição ? e que provavelmente deu lugar ao filme de Petra Costa entre os indicados.
O filme usa imagens e áudios inéditos da missão da Nasa que levou o homem à Lua em 1969. O filme recebeu críticas bastante positivas e um retorno de US$ 12 milhões (R$ 50 milhões) nas bilheterias, um feito impressionante para o gênero.
Nas previsões tanto do Los Angeles Times quanto da Vanity Fair para nomeações do Oscar, Democracia em Vertigem não aparecia. Em seu lugar, Apollo 11.
Depois da divulgação das nomeações, um texto do site Vulture diz que a Academia "decidiu esnobar um dos principais concorrentes", a Rolling Stone e o Washington Post disseram que o filme foi descrito como um dos principais concorrentes da categoria durante o ano todo e que agora foi esnobado. Já o Los Angeles Times disse que novamente a Academia esnobou um dos documentários com melhores resultados na bilheteria.
Os nomeados e vencedores do Oscar são escolhidos por cerca de 7 mil membros da Academia ? que, segundo uma reportagem de 2012 do jornal Los Angeles Times que conseguiu confirmar a identidade de 5.100 deles ?, são em sua maioria homens brancos.
Segundo o site do Oscar, "documentários são vistos por membros da área de documentários, que usarão um sistema de votação preferencial para produzir uma lista de 15 filmes" e, depois, de cinco nomeados. "A votação final será restrita a membros ativos da Academia que assistiram a todos os documentários na disputa."
A premiação, quando os vencedores serão revelados, será no dia 9 de fevereiro.
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