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Morre diretor alemão Christoph Schlingensief

Em foto de 2006, Christoph Schlingensief é retratado no museu de Leipzig, na Alemanha - AP Photo/ddp/Florian Eisele
Em foto de 2006, Christoph Schlingensief é retratado no museu de Leipzig, na Alemanha Imagem: AP Photo/ddp/Florian Eisele

21/08/2010 21h00

Christoph Schlingensief foi certamente um dos diretores de teatro mais interessados em provocar o espectador. Sua morte neste sábado (21/08), após um longo sofrimento causado por um câncer de pulmão, deixa uma lacuna no cenário das artes cênicas e plásticas do país. Sua obra S.M.A.S.H. – Sufocar em Ajuda (S.M.A.S.H. – In Hilfe Ersticken), prevista originalmente para estrear na Trienal do Ruhr, em breve, foi cancelada pelo próprio diretor em julho último, devido à piora de seu estado de saúde.

Em outubro próximo, o diretor completaria 50 anos. Filho de um farmacêutico e de uma enfermeira, Christoph Schlingensief nasceu em Oberhausen, no oeste alemão, em 1960. Desde cedo desenvolveu aptidões especiais para a arte, organizando "saraus" no porão da casa dos pais na juventude.

Anos mais tarde, viria a interromper a universidade para se envolver com cinema, tendo sido assistente do cineasta Werner Neke em alguns projetos experimentais. Naquela época, já realizou seus primeiros curta-metragens.

Provocação no teatro e no cinema

No fim dos anos 1980, Schlingensief produziu seus primeiros longas de ficção, uma trilogia formada por 100 Anos de Adolf Hitler - A Última Hora no Bunker do Führer (Hundert Jahre Adolf Hitler – die letzte Stunde im Führerbunker), O massacre da serra de cadeia alemã (Das deutsche Kettensägenmassaker) e Terror 2000 (Terror 2000). Anos mais tarde, em 2009, absolutamente reconhecido como profissional do setor, Schlingensief foi um dos membros do júri do Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Com teatro o diretor começou a trabalhar em 1993, tendo estreado no Volksbühne, de Berlim. Até 2006, realizou uma série de projetos, entre estes a encenação de O Navio Fantasma, de Richard Wagner, na Ópera de Manaus.

Desde janeiro de 2009, o diretor trabalhava em seu projeto Casa de Espetáculos África (Festspielhaus Afrika), cuja construção foi iniciada em Ougadougou, capital de Burkina Faso, em fevereiro deste ano.

Performances políticas

Schlingensief era abertamente um artista movido pela consciência política, que fez uso constante de suas performances para tratar de temas de interesse público. Durante a campanha eleitoral de 1998 na Alemanha, fundou o partido Chance 2000, provocando a população com suas atitudes, entre elas convocar os então seis milhões de desempregados da Alemanha a inundarem um povoado austríaco frequentado pelo então premiê Helmut Kohl.

Da 10ª documenta de Kassel, em 1997, sob curadoria de Catherine David, Schlingensief participou com a instalação Meu feltro, minha gordura, meu coelho, confiscada pela polícia por conter os dizeres "matem Helmut Kohl", na época chefe de governo do país.

Como artista plástico, Schlingensief teve obras expostas em diversos museus de todo o mundo. Sua instalação Igreja do Medo, por exemplo, fez parte da 50ª Bienal de Veneza. Uma instalação de vídeo, relacionada a seu recente projeto realizado na África, faz parte da mostra FischGrätenMelkStand, última a acontecer no espaço Temporäre Kunsthalle, em Berlim, aberta ao público até o próximo 31 de agosto.

Tematizando a doença

Em 2008, foi diagnosticado no artista um câncer de pulmão. Em função da doença, extraíram-lhe uma parte do órgão afetado. Pouco depois, ele tematizaria a própria enfermidade no projeto Doente e Autônomo, na tentativa de formar uma rede de apoio para todos aqueles que, mesmo depois do diagnóstico de uma doença fatal, pretendem manter sua autonomia sem entregar os pontos.