"Cloud Atlas", de Tykwer-Wachowski, triunfa no Festival de Toronto
"Sempre a mesma coisa", murmura Tom Tykwer para o céu noturno de Toronto. Seu alvo são as perguntas dos jornalistas, que já o perseguem o dia inteiro. Em seu mundo fílmico, ele já declarara guerra ao "sempre mesmo", e em Cloud Atlas, o faz mais do que nunca.
Para tal, contou com apoio de alto gabarito. Os criadores de Matrix, Lana (ex-Larry) e Andy Wachowski, dividiram com ele a direção, e o elenco se parece a lista de desejos de Natal de Steven Spielberg: Tom Hanks, Halle Berry, Susan Sarandon, Hugh Grant e muitos mais.
Com tal elenco, o crítico logo suspeita que a produção siga a velha receita homogênea servida por Hollywood, visando a recuperação rápida dos altos investimentos. O diretor alemão, que despertou atenção internacional com Corra, Lola, corra, quer evitar justamente isso, e aposta alto na capacidade de seu público.
"Tenho simplesmente a sensação de que existe uma grande demanda por originalidade narrativa e que existe um público que não se sente intelectualmente estimulado o suficiente pelo cinema atual", explica durante uma outra recepção.
"Impossível de filmar"
Por si só, o material original do novo filme, o romance homônimo de 2004 do autor britânico David Mitchell, não deixa que se fale em falta de estímulo intelectual. Ele narra seis histórias diversas, em seis épocas distintas, do século 19 ao futuro distante. Todas tratam de repressão e rebelião, em formas e graus diversos.
Além disso, essas linhas narrativas que atravessam o espaço e o tempo são conectadas entre si: por um diário encontrado, cartas de amor, um filme ou um holograma.
Logo o livro recebeu o predicado "impossível de filmar". Tykwer admite ter sido um desafio "encontrar uma tradução cinematográfica que fosse mais ou menos plausível, de forma puramente visual".
A resposta da charada para o trio de cineastas veio com a ideia de que cada um dos protagonistas assumisse diferentes papéis, em cada diferente nível cronológico. Assim, Tom Hanks personifica, entre outros, um médico criminoso, um escritor-gângster irlandês e o representante de uma primitiva cultura pós-apocalíptica.
Além desse gigantesco desafio, o aspecto mais importante para Hanks foi trabalhar com gente com quem nunca teria tido a oportunidade de colaborar, revelou o ator à Deutsche Welle no tapete vermelho em Toronto. "E além de tudo, numa cidade que realmente sabe com se fazem filmes", complementou.
Ele se refere a Berlim e ao Estúdio Babelsberg, em Potsdam, onde a maior parte da película foi produzida, ao lado da Escócia e da ilha espanhola de Maiorca. O resultado é um filme que exige muito do espectador, ao longo de quase três horas de duração e contínuos saltos entre narrativas e épocas.
Entre os festivais e as bilheterias
Tom Tykwer está sentado numa poltrona, numa sala de exibições, à sua volta, 2 mil espectadores aplaudem, entusiásticos. Ao que tudo indica, a estreia mundial de Cloud Atlas agradou, no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Uma confirmação para o diretor alemão em sua luta por mais coragem na produção cinematográfica. Embora um orçamento de 100 milhões de dólares – como o desta, a maior coprodução alemã até hoje – deixe grande margem para fracassar.
"O maior medo que a gente tem é o de não conseguir comunicar o conteúdo", comenta o cineasta nascido em 1965, em Wuppertal. "Porém, a partir do momento em que uma única pessoa consegue que a coisa faça sentido para si, o filme já teve êxito."
Diante do sucesso em Toronto, o temor de Tykwer parece infundado. No entanto, público de festival é sempre algo especial. Agora, Cloud Atlas precisa funcionar nas bilheterias dos Estados Unidos, onde estreia em 26 de outubro. E muitos espectadores irão aos cinemas para ver os astros, esperando o clássico cardápio hollywoodiano. Estes irão se surpreender, pois uma coisa esse filme não é: "Sempre a mesma coisa".
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