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Festival de Veneza começa mesclando cinema hollywoodiano e internacional

Jochen Kürten

02/09/2015 20h51

Na 72ª edição do festival na cidade italiana, 21 produções disputam o Leão de Ouro, grande parte dos EUA e da Europa. Três filmes brasileiros marcam presença na mostra Horizontes, a segunda mais importante do evento.

Após uma tempestade, um fim trágico: cadáveres congelados na neve. "Everest" foi escolhido para abrir a 72ª edição do Festival de cinema de Veneza, que começa nesta quarta-feira (2). Raramente é tão grande o contraste entre o filme de abertura e a real atmosfera da mostra na ilha do Lido, alegre e ensolarada.

Everest foi dirigido pelo islandês Baltasar Kormákur, mas as estrelas do filme são hollywoodianas: Josh Brolin, Robin Wright, Sam Worthington, Keira Knightley e Jake Gyllenhaal; além do australiano Jason Clarke. O longa é baseado em fatos reais, ocorridos na montanha mais alta do mundo em 1996. Na ocasião, oito pessoas morreram na tentativa de escalar o Monte Everest, após uma mudança inesperada do tempo.

No quesito drama, é difícil superar Everest. Filmado em 3D e com excelentes fotografia e efeitos especiais, o longa está, no entanto, fora da competição pelo Leão de Ouro, disputada por 21 filmes nesta edição do festival.

Nenhuma produção brasileira compete pelo prêmio, mas Boi Neon, de Gabriel Mascaro, Mate-me, por favor, de Anita Rocha da Silveira, e o curta Tarântula, de Marja Calafange e Aly Muritiba, ganham destaque na mostra Horizontes, a segunda mais importante do evento. Trinta e três curtas e longas metragens competem na Horizontes deste ano.

Celebridades e estreantes

Na 72ª edição do Festival de Veneza, o diretor do evento, Alberto Barbera, apresenta uma mistura do cinema hollywoodiano com filmes europeus, além de contribuições da América Latina, Ásia, Israel e Austrália. Ele afirma que a indústria cinematográfica está passando por mudanças tão significativas quanto o mundo à nossa volta.

"Estamos caminhando sobre um novo terreno. Toda uma geração de cineastas está desaparecendo, ou por ser velha demais ou por ter de lidar com problemas de financiamento", diz.

Ainda assim, renomados diretores e atores estão presentes na cena cinematográfica do Lido, como o mestre italiano Marco Bellocchio, o polonês Jerzy Skolimowski e o russo Aleksandr Sokurow. Também o americano Charlie Kaufman e o britânico Tom Hooper exibem novos trabalhos. Com grande entusiasmo, são esperados ainda filmes do canadense Atom Egoyan e do israelense Amos Gitai.

Um júri de alto nível, presidido pelo diretor mexicano Alfonso Cuarón, irá escolher o vencedor do Leão de Ouro no dia 12 de setembro. Ao lado de Cuarón - que já foi premiado no próprio Festival de Veneza e recebeu um Oscar pelo filme Gravidade -, estarão no júri a atriz alemã Diane Kruger, que atua há anos em Hollywood, o aclamado diretor turco Nure Bilge Ceylan e o polonês Pawel Pawlikowski, ganhador de um Oscar.

Tapete vermelho e filmes sociopolíticos

Kruger será apenas uma das estrelas de Hollywood no tapete vermelho, em frente ao palácio do festival. Também são aguardados em Veneza os atores Johnny Depp, Benedict Cumberbatch, Kristen Stewart, Juliette Binoche, Anthony Hopkins e Eddie Redmayne, que ganhou neste ano o Oscar de melhor ator por sua interpretação de Stephen Hawking, em A Teoria de Tudo.

Filmes políticos e de críticas sociais também estão na programação. O documentário ucraniano Winter on Fire, dirigido por Evgeny Afineevsky, tem como tema os protestos na Praça da Independência, enquanto I Ricordi del Fiume, de Gianluca e Massimiliano de Serio, lança luz sobre a vida de pessoas exiladas.

A grande retrospectiva da edição deste ano irá homenagear o diretor italiano Mario Monicelli, que morreu em 2010. Ele chegou a receber um Leão de Ouro em 1991 e ficou conhecido no cinema italiano do pós-guerra, com comédias de crítica social.

O francês Bertrand Tavernier, que produziu obras-primas sobretudo na década de 1980, como A lei de quem tem o poder (1981), receberá o Leão de Ouro por sua carreira. Também o cineasta mexicano Arturo Ripstein será homenageado por seus 50 anos de contribuição ao cinema.

Toronto versus Veneza

Poucos dias após o tapete vermelho ser estendido em Veneza, começa o Festival de Cinema de Toronto, no Canadá. De 10 a 20 de setembro, produções cinematográficas de todo o mundo invadem a cidade canadense, cujo festival floresceu muito nos últimos anos. Alguns estúdios dos EUA já preferem enviar produções a Toronto do que a Veneza.

Novos filmes de diretores alemães também ganham destaque no Canadá. Toronto irá apresentar Stonewall, de Roland Emmerich, e Colonia, do premiado Florian Gallenberger. No entanto, é difícil concorrer com o cenário arquitetônico de Veneza, e a programação deste ano promete agradar.