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O melhor Mel Gibson retrata o pior Mel Gibson em "Um Novo Despertar"

Mel Gibson em cena do filme "Um Novo Despertar" - Divulgação
Mel Gibson em cena do filme "Um Novo Despertar" Imagem: Divulgação

26/05/2011 17h13

Redação Central, 25 mai (EFE).- Mel Gibson volta às telas como protagonista de "Um Novo Despertar", fábula espinhosa sobre um perdedor na qual a diretora, sua amiga e também atriz Jodie Foster, trata de amargura e otimismo de forma crível.

O filme é um exercício de contorcionismo de Foster para dar solidez ao argumento e, de quebra, dar uma mão a um desorientado Mel Gibson, que encarna um personagem torturado que se entrega ao ridículo sem pudor.

"Um Novo Despertar" é ousado o suficiente para se sobrepor a sua premissa: a terapia a qual se submete um deprimido homem de negócios para sair do buraco - no caso, se comunicar apenas por meio de uma marionete em forma de castor encontrada no lixo.

Trailer de "Um Novo Despertar"

Se Mickey Rooney exibiu suas cicatrizes em "O Lutador" e Gloria Swanson exibiu sua decadência em "Crepúsculo dos Deuses", Gibson exorciza sua tendência à autodestruição pelas mãos de Foster que, como diretora, demonstra que seu nível intelectual convive bem com sua sensibilidade.

Através da câmera de Foster, sentimos uma emoção direta e autêntica, somos contagiados pela dor e pela desorientação e conhecemos um pouco da catástrofe humana.

A diretora joga com a imaginação do espectador e o faz se conectar com essa inquietante marionete, tal qual Robert Zemeckis arrancou as lágrimas das plateias quando Tom Hanks perdia sua bola chamada Wilson em "O Náufrago".

Mais uma vez focando as nuances das relações pessoais, como em "Mentes que Brilham", Foster, que também atua no filme, subverte a crônica familiar recriando o efeito libertador de um grito de socorro.

Sua direção, felizmente, evita o manual de autoajuda para forçar o espectador a engolir os espinhos da depressão endógena, porque "Um Novo Despertar" caminha na direção contrária à construção do homem perfeito e coerente para alcançar aceitação do mundo a seu redor. Com ou sem marionetes.

E esse sentimento cresce graças à história secundária do filho de Gibson que tenta se afastar do padrão criado pelo pai, e também pela participação de atrizes como Cherry Jones e Jennifer Lawrence.

Todos esses atores submetidos ao poder de uma marionete que catalisa suas emoções fazem "Um Novo Despertar" ganhar vida e Foster, com seus dois Oscar e sua carreira modelo, retratar com brio e melancolia os fracassos que levam ao triunfo e a vitória de assumir uma derrota. (Mateo Sancho Cardiel)