Ken Loach lança documentário proibido após 42 anos
Londres, 1 set (EFE).- O diretor de cinema britânico Ken Loach lançará nesta quinta-feira em Londres um documentário proibido em 1969 por suas duras críticas à organização beneficente Save the Children, inédito até agora.
A estreia mundial do polêmico filme será realizada no circuito que a filmoteca britânica dedica ao diretor de 75 anos, conhecido por seu intenso compromisso político, para comemorar seus 50 anos de carreira no cinema e na televisão.
O documentário "Save the Children", rodado em 16 mm no Reino Unido e no Quênia, foi uma encomenda da organização homônima dedicada à infância para comemorar seu 50º aniversário.
Nele, Loach explorou as políticas racistas, classistas e de caridade na sociedade capitalista através das vozes dos funcionários da organização beneficente e das crianças envolvidas nos projetos da mesma.
A parte mais polêmica do documentário é quando o diretor visita o Quênia para registrar as duras normas de conduta impostas por um dos colégios da Save the Children em Nairóbi, copiadas por outros internatos particulares no Reino Unido. No filme aparecem ativistas criticando o tom colonialista da educação recebida no centro, onde inclusive era proibido o uso de línguas nativas.
Os comentários não agradaram a organização patrocinadora do documentário, que acabou processando o diretor, impedindo o filme de ser exibido, mas sem conseguir que seus negativos fossem destruídos.
Ken Loach, autor de filmes com uma grande carga social e política como "Terra e Liberdade", "A Canção de Carla" e "Agenda Secreta", recebeu permissão judicial para que uma cópia que havia sido guardada no arquivo da filmoteca britânica com a condição de que nunca fosse projetada sem a permissão da Save the Children fosse exibida.
O planejamento do circuito sobre o cineasta que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2006 por "Ventos da Liberdade", fez com que a filmoteca britânica contatasse a organização beneficente, que acabou autorizando a projeção.
"Ken Loach é um grande diretor que fez perguntas muito contundentes sobre o poder, o colonialismo e a caridade que até hoje são relevantes", avaliou Justin Forsyth, executivo-chefe da Save the Children. O responsável da organização afirmou estar "muito orgulhoso" por ter permitido que após quatro décadas o filme fosse visto pelo público pela primeira vez.
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