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De "O Morro dos Ventos Uivantes" aos efeitos do terremoto no Japão

Alicia García de Francisco

De Veneza

06/09/2011 13h43

A britânica Andrea Arnold surpreendeu nesta terça-feira em Veneza com uma versão naturalista do clássico "O Morro dos Ventos Uivantes" caracterizada pela ausência de diálogos e trilha sonora, enquanto Sion Sono apresentou "Himizu", uma adaptação de um mangá com foco no terremoto do Japão.

No caso da versão do clássico de Emily Brontë, a cineasta - que ganhou o Oscar em 2005 de Melhor Curta por "Wasp"- resolveu se deixar levar por seus sentimentos para compor uma versão complexa da já complicada história vitoriana.

Assim, a diretora traz um Heathcliff negro para uma história de amor impossível por conta das diferenças sociais e na qual a natureza não só protagoniza as imagens, mas se mostra como um elemento importante no comportamento dos personagens.

"É um livro muito profundo e quase além da compreensão", explicou Andrea em entrevista coletiva, na qual considerou que para algumas pessoas que vivem em uma área tão selvagem como os protagonistas da história, essa natureza tem que ser obrigatoriamente parte de sua vida.

As dificuldades de adaptação fizeram com que a diretora decidisse dar muito mais importância às imagens do que ao som, daí a ausência quase total de música e os poucos diálogos dos personagens.

"Sou obcecada pelo cinema e o cinema é imagem. É possível contar qualquer história só com imagens", afirmou a cineasta.

O japonês "Himizu" também foi exibido nesta terça-feira, uma adaptação do mangá de mesmo nome de Minoru Furuya que foi modificada pelo diretor Sion Sono após o terremoto registrado no Japão em março.

A história, violenta, já era um projeto do diretor, que mudou parte do roteiro para refletir o que o terremoto representou para o povo japonês.

O protagonista é Sumida, um jovem de 14 anos que vive com sua mãe em uma casa precária junto a um lago, onde alugam botes para navegar.

Sua mãe o abandona e seu pai vive dando-lhe surras, o que é testemunhado por uma série de personagens surrealistas que vivem em tendas construídas com plástico após terem perdido tudo por conta do terremoto.

"No Japão há uma nova forma de pensar que está relacionada com esse grande desastre", relatou Sono em entrevista coletiva.

Segundo o diretor, nos últimos 10 anos foram produzidos no país muitos mangás focados "na solidão, na tristeza e no isolamento", o que se transformou em realidade depois do terremoto, lamentou.

Por isso, decidiu mudar o final obscuro e lúgubre do texto original por um mais aberto. "Queria dar uma mensagem de esperança a todo Japão", explicou.

Os dois filmes, que não entusiasmaram a plateia, são mais uma demonstração da variada e acertada seleção da 68ª edição do Festival de Veneza.