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Stillman fecha Festival de Veneza com sua volta ao cinema como diretor

O cineasta Whit Stillman e os atores Greta Gerwig, Adam Brody  e Analeigh Tipton em Veneza (10/09/2011) - EFE
O cineasta Whit Stillman e os atores Greta Gerwig, Adam Brody e Analeigh Tipton em Veneza (10/09/2011) Imagem: EFE

Miguel Cabanillas

De Veneza

10/09/2011 14h00

O cineasta americano Whit Stillman encerrou neste sábado o 68º Festival Internacional de Cinema de Veneza com seu último trabalho, "Damsels in Distress" (sem tradução para o português), um filme leve e novelesco com o qual volta a atuar como diretor depois de mais de uma década.

Apresentado no último dia da "Mostra" fora de concurso, o filme retrata o dia a dia de um grupo de estudantes universitários americanos e as relações sentimentais que se formam entre eles, utilizando diálogos, músicas e imagens retorcidos e complicados.

Stillman, que não tinha dirigido um filme desde 1998, quando apresentou "Os Últimos Embalos da Disco", volta à direção com uma aposta arriscada, na qual a presença de rostos conhecidos do público jovem, como os atores Greta Gerwig, Adam Brody e Analeigh Tipton marca a trama.

"A história original trata de um grupo de jovens muito parecido com os que podem ser vistos hoje na universidade. Diria que a versão da universidade no filme é um pouco idealizada, embora se trate da realidade. Mas a dinâmica da história é algo que realmente acontece nesse ambiente", comentou Stillman durante a entrevista coletiva de apresentação do filme.

"Damsels in Distress" ("Donzela em Apuros", em tradução livre), um título que dá já pistas sobre o conteúdo do filme, pretende dar um ar irônico ao gênero para adolescentes, multiplicando de modo exponencial o efeito desconcertante do estilo graças, sobretudo, a diálogos que beiram o absurdo.

"Queria uma narrativa similar à dos contos, mas tive vários problemas, porque queria sempre ter um roteiro cinematográfico que pudesse dirigir. Pensei então na voz 'em off', para que pudesse ser uma espécie de pensamento à parte, porque assim poderia ter personagens que tivessem um pensamento adicional", disse o cineasta americano.

"Não pensei no filme como uma crítica ao sistema universitário americano, apesar de ter causado essa impressão. No entanto, não foi esta a minha interpretação. Acho que as universidades melhoraram em relação ao período em que frequentei. Parece que agora todos estudam mais", acrescentou.

O longa de Stillman, que viveu durante um tempo na Espanha e é autor dos filmes "Barcelona" (1994) e "Metropolitan" (1990), oferece além disso, pinceladas musicais durante sua primeira parte, com a presença de números de sapateado, que vão aumentando até um número final totalmente apoteótico.

A trama, na qual se aborda, além disso, o tema do suicídio juvenil como algo superficial e anedótico, sobrevoa a meta vital de uma das protagonistas, Violet: criar uma nova música que seja conhecido mundialmente, assim como o foi "La Macarena" dos espanhóis Los del Rio.

Violet (Gerwig), líder do grupo de meninas protagonistas do filme, tentará alcançar esse sucesso mundial com o "Sambola", uma coreografia de inspiração latina da qual participam os principais personagens do filme, incluindo o que interpreta Brody, ator americano que fez sucesso na última década por sua participação na série de televisão "The O.C.".

"Meus filmes preferidos são os dos anos 30 e, sobretudo, o aspecto musical de alguns deles, como os que têm as canções e coreografias de Fred Astaire. Posso dizer que Fred Astaire me influenciou muito", afirmou Stillman.

Acompanhando o diretor à Veneza estavam Brody, Tipton e Gerwig, que destacou o período de "autoconhecimento" que representa a universidade para os estudantes e que, segundo ela, está explícito de modo "quase patológico" em "Damsels in Distress".

"A universidade é um período de autoconhecimento, porque conhecemos gente que não sabe nada sobre o nosso passado e por isso podemos criar uma nova identidade. Estes personagens levam isto a um nível quase patológico, com uma espécie de intenção de mudar o mundo como se quisessem se transformar em Joana d'Arc", afirmou Gerwig.

Brody comentou que ao ler o roteiro teve uma "grande empatia" com os personagens do filme, chegando a "se apaixonar" por eles.

O filme "Giramundo", dirigido pelos cineastas brasileiros Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina, conseguiu o prêmio Interfilm pela promoção do diálogo inter-religioso, um dos prêmios paralelos do Festival de cinema de Veneza. Trata-se de uma coprodução da Espanha e do Brasil que foi exibido dentro da seção "Horizontes" desta 68ª edição de Veneza, e que teve uma grande repercussão entre o público.