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Diretor de "Anonymous" chama Shakespeare de impostor

Rainha Elizabeth (Vanessa Redgrave) aparece ao lado do Conde de Oxford (Rhys Ifans) em cena de "Anonymous", que traz a história de William Shakespeare - AP
Rainha Elizabeth (Vanessa Redgrave) aparece ao lado do Conde de Oxford (Rhys Ifans) em cena de "Anonymous", que traz a história de William Shakespeare Imagem: AP

Emilio López Romero

Em Nova York (EUA)

29/10/2011 16h28

O cineasta alemão Roland Emmerich deixa de lado as ameaças e catástrofes naturais para voltar ao território da literatura universal com o filme "Anonymous", que retrata o dramaturgo britânico William Shakespeare como uma espécie de impostor, mas, segundo o próprio cineasta, nada que seja um "terremoto".

O filme histórico, que estreou nesta semana nos Estados Unidos, é ambientado na Inglaterra do século 16 e especula o que durante séculos foi motivo de intrigas para acadêmicos e intelectuais como Mark Twain, Charles Dickens e Sigmund Freud: "Quem foi o verdadeiro autor das obras que aparecem assinadas por William Shakespeare?", indaga o diretor.

"Sim, ele era um impostor", garante Emmerich em entrevista à Agência Efe, convencido de que o protagonista de seu filme, o Conde de Oxford, interpretado pelo ator galês Rhys Ifans, "tem 95% de chances" de ser o autor dessas verdadeiras joias literárias, como "Hamlet" e "Romeu e Julieta".

O diretor de "Anonymous", que trabalhou durante quatro anos no filme, afirma não ter medo de falar o que pensa claramente e acredita que o cinema, como arte, é uma forma de provocação.

"Vivemos em um tempo muito chato. Agora ninguém tem coragem de dizer as coisas", lamenta Emmerich, que reconhece que seu novo filme poderá ser provocativo, mas o considera uma grande história. "E se é verdade ou mentira, a verdade é que não me importa".

Em todo caso, Emmerich não acredita que "Anonymous" será um "terremoto" para a história da literatura universal. Isso porque, em sua opinião, os literários são tão presos em suas teorias que nem um terremoto seria suficiente para fazer com que eles mudassem de ideia.

"Os professores de literatura têm muito a perder. Vivem disto e em cima de suas ideias há uma indústria turística que movimenta bilhões de dólares", completou o diretor, responsável por "Independence Day" (1996) e "Godzilla" (1998). Aliás, esses conhecidos filmes transformaram Emmerich no diretor europeu que mais arrecadou em bilheteria em Hollywood.

Roland Emmerich se desfaz em elogios ao falar da parte dos sonhos em seu filme, que destacam as interpretações da rainha Elizabeth I feita pela atriz britânica Vanessa Redgrave e por Joely Richardson, que vive a rainha apenas em sua juventude.

"Provavelmente nunca vamos saber se o conde de Oxford esteve por trás dessas obras, mas tudo indica que tenha sido ele", declara Emmerich, recordando que não há nenhuma evidência escrita de que Shakespeare tenha escrito todas as 37 obras de teatro e 154 poemas a ele atribuídas.

Apesar de buscar uma opinião contrária, o diretor diz odiar as possíveis teorias da conspiração, seja no caso de Shakespeare, nos atentados terroristas do 11 de Setembro e na chegada do homem à Lua. "O que acontece é que, quando alguém diz algo contra a versão oficial dos fatos, acaba sendo transformado em algo conspirador".

Falando de provocações e conspirações, o cineasta alemão revela admiração pelos "manifestantes de Wall Street", que estão acampados desde 17 de setembro no coração financeiro de Nova York para protestar contra os excessos do sistema financeiro.

"Já era hora de as pessoas acordarem. Como não surgiu um movimento assim antes? Um punhado de pessoas ganha bilhões enquanto são carregados pelos esforços da classe média", argumenta Emmerich, lembrando que a última vez em que os americanos saíram às ruas foi nos anos 1960 com o movimento dos direitos civis.

O próximo trabalho do diretor alemão será uma ficção científica, intitulada "Singularity". O filme deve estrear no segundo semestre de 2013 e promete voltar a surpreender os espectadores.