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Autoridades paquistanesas celebram primeiro Oscar do país

Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chinoy aceitam o prêmio de melhor documentário em curta-metragem pelo paquistanês "Saving Face" (27/2/12) - Gary Hershorn/Reuters
Daniel Junge e Sharmeen Obaid-Chinoy aceitam o prêmio de melhor documentário em curta-metragem pelo paquistanês "Saving Face" (27/2/12) Imagem: Gary Hershorn/Reuters

Agus Morales

27/02/2012 11h38

A cineasta Sharmeen Obaid-Chinoy ganhou o primeiro Oscar do cinema paquistanês com um documentário, "Saving Face", no qual denuncia os ataques com ácido, um drama no país.

As autoridades e a imprensa paquistanesas celebram com alvoroço nesta segunda-feira (27) um triunfo insólito para o país islâmico, acostumado a ser associado no imaginário coletivo com o fundamentalismo e o terrorismo.

"Muito obrigado a todos pelo amor e apoio. Estou muito agradecida a Deus por me dar esta oportunidade", disse a codiretora de "Saving Face" a seus seguidores da rede social Twitter.

O primeiro-ministro paquistanês, Yousuf Raza Gillani, felicitou a artista através de um comunicado e anunciou que seu Governo lhe concederá um prêmio civil.

O filme, de 52 minutos e codirigido pelo americano Daniel Junge, levou o prêmio de melhor documentário de curta-metragem durante a festa dos prêmios Oscar.

Sua nomeação já despertou durante semanas a atenção da imprensa, sedenta por alguma notícia que alimentasse a esperança de um país atingido pelo conflito e pelo precário estado da economia.

A indústria cultural do Paquistão, sempre sob a sombra da potente maquinaria cinematográfica da Índia, também agradece que o mundo se fixe nela graças a este filme.

"Saving Face" se centra em um médico britânico-paquistanês que visita o país para tratar as adolescentes e mulheres vítimas destes ataques.

"O documentário ressalta o êxito dos agentes da mudança, mas também alerta que não é suficiente", conta à Agência Efe Valerie Khan, da Fundação Sobreviventes do Ácido (ASF), ONG que colaborou com o projeto.

A cada ano são registrados no Paquistão cerca de 200 ataques com ácido - 75% contra mulheres-, segundo a ASF, que está incentivando iniciativas legais no país para castigar os homens que destroem estas vidas.

"O curta demonstra que é possível fazer algo contra isso. É sobre as mulheres que estão tentando lutar e sobre os homens que tentaram ajudá-las", resumiu Khan.

O jornalista francês Julien Fouchet, que trabalhou durante dias como cinegrafista para o documentário, relatou os esforços para pôr fim a esta praga e ajudar as vítimas.

As imagens que gravou para o filme foram as de uma mulher que estava entrando no hospital após sofrer um ataque com ácido e dos cirurgiões se preparando para a operação.

Durante os últimos anos, organizações de defesa dos direitos humanos tentaram um acordo com as autoridades para iniciar iniciativas legais contra as agressões com ácido.

Os motivos desta atrocidade podem ser a recusa da mulher a um casamento, ajustes de contas, chantagens entre famílias, dotes de uma quantia insuficiente, ou a irritação de um pai por ter mais meninas em um país onde o homem promete mais recursos econômicos.

As agressões acontecem porque no Paquistão não existe nenhum tipo de controle sobre a venda de ácidos como o sulfúrico e o nítrico, que podem ser adquiridos sem apresentar identificação.

As vítimas, no melhor dos casos, devem se submeter a várias operações de cirurgia plástica.

Uma emocionada Obaid-Chinoy não teve dúvidas a quem dedicar a estatueta quando subiu ao palanque: "A todas as mulheres no Paquistão que estão trabalhando a favor da mudança. Não abandonem seus sonhos: isto é para vocês".