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Mais aberto às minorias, Nepal lança seu primeiro filme lésbico

As atrizes Deeya Maskey (esq.) e Nisha Adhikari (dir.) durante a apresentação do filme protagonizado por elas, "A Dança das Orquídeas", no Festival Internacional de Cinema de Montanha em Katmandu - EFE/Usha Titikshua
As atrizes Deeya Maskey (esq.) e Nisha Adhikari (dir.) durante a apresentação do filme protagonizado por elas, "A Dança das Orquídeas", no Festival Internacional de Cinema de Montanha em Katmandu Imagem: EFE/Usha Titikshua

Manesh Shrestha

18/12/2012 07h57

O primeiro filme nepalês baseado em uma relação lésbica estreou esta semana no país e seu diretor, perante a expectativa criada pela produção, pediu que seja vista como é: uma história de amor entre dois seres humanos.

"Soongava" ("A Dança das Orquídeas", em tradução livre) foi dirigido pelo nepalês Subarna Thapa, que reconheceu que para uma sociedade conservadora como a do Nepal o filme pode parecer controverso, mas não é mais que um fiel reflexo da realidade.

"(Os nepaleses) são ortodoxos demais e sei que pode haver reações violentas", afirmou à Agência Efe o cineasta após a projeção do filme no Festival Internacional de Cinema de Montanha em Katmandu, antes de sua estreia comercial em janeiro.

No entanto, para surpresa de Thapa, a junta de censura nepalesa não cortou um só fotograma do filme e lhe outorgou uma qualificação "GP", o que significa que pode ser vista por pessoas de todas as idades, embora aconselhe que os menores estejam acompanhados por um adulto.

"Soongava" narra a história de amor entre duas universitárias, Kiran (Nisha Adhikari) e Diya (Deeya Maskey), e como as jovens devem enfrentar o casamento arranjado de uma delas e à rejeição generalizada das pessoas a seu redor.

Um dos ativistas mais conhecidos no Nepal a favor dos direitos das organizações LGTB (que reúnem lésbicas, gays, transexuais e bissexuais), Sunil Pant Babu, declarou à Efe que o filme é fiel em seu retrato da opressora sociedade nepalesa e, talvez por isso, seja bastante "deprimente".

"Me trouxe lembranças de toda a discriminação que constantemente sofremos, esperava algo mais promissor", disse o ativista após ver o filme.

No Nepal a rejeição social aos homossexuais continua sendo aguda, da mesma forma que nos demais países do sul da Ásia, apesar de ter se posicionado durante os últimos anos como uma das nações da região mais ativas na defesa das minorias.

Desde que em 2007 a Corte Suprema nepalesa reconheceu a existência de um "terceiro sexo" - categoria na qual inclui gays e lésbicas - o país do Himalaia se lançou à aprovação de uma política mais respeitosa aos direitos destas minorias.

No ano passado, pela primeira vez no mundo todo, o censo oficial computou as pessoas do "terceiro sexo", e neste ano o Governo decidiu reconhecer no documento oficial de identidade esta condição para aqueles que não se consideram homens nem mulheres.

O último movimento judicial a favor deste setor da sociedade nepalesa foi em novembro, quando a Corte Suprema reconheceu o direito de viver juntas de duas lésbicas, depois que o marido e a família de uma delas tentou separá-las.

"(O filme) representa a sociedade de hoje em dia, algo que, no entanto, a sociedade não quer aceitar", afirmou Deeya, uma das protagonistas do filme, que assegurou que esse foi o motivo que a encorajou a aceitar o papel.

As atrizes passaram longos períodos com lésbicas para poder interpretar seus papéis com maior realismo e tiveram várias reuniões com psicólogos para tentar compreender os motivos que levam uma pessoa a optar por uma orientação sexual específica.

"Também nos ajudou muito o fato de que a assistente de direção do filme fosse lésbica", acrescentou Deeya, que revelou que a única dúvida que sentiu na hora de interpretar uma lésbica foi o modo de caracterizá-la.

Para a outra protagonista, Nisha Adhikari, o papel também representou um desafio e da mesma forma que sua companheira também não titubeou quando aceitou participar do filme.

"Tratei este papel como faria com qualquer outro e não acho que tenha realizado uma interpretação relaxada", comentou.

Os coprodutores e a equipe técnica de "Soongava" são franceses e isto fez, segundo Nisha, que o filme possua uma qualidade maior que outros projetos rodados no Nepal.

Ao longo do filme existe uma ou outra cena "íntima" (em uma ocasião as atrizes se beijam na boca), mas Thapa disse que preferia mostrar "a sensualidade" e não a parte física da relação.

O diretor se mostrou muito agradecido às duas atrizes pela forma como assimilaram cada um de seus pedidos, algo que para elas resultou fácil, pois "estavam bem informadas sobre este tipo de relação".

"Apenas imaginem que você estão com seus namorados", pediu Thapa às atrizes.