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Diretor argentino levou sete anos para filmar "Upside Down"

Jim Sturgees e Kirsten Dunst em cena de "Upside Down", do diretor argentino Juan Solanas  - Divulgação
Jim Sturgees e Kirsten Dunst em cena de "Upside Down", do diretor argentino Juan Solanas Imagem: Divulgação

Antonio Martín Guirado

De Los Angeles

18/03/2013 11h52

 Filho de Fernando "Pino" Solanas, o argentino Juan Diego Solanas estreia neste mês nos Estados Unidos "Upside Down", um filme de ficção científica que se tornou uma "odisseia" para ele, já que foi um projeto de US$ 60 milhões que, na verdade, precisava do dobro do orçamento para ser feito, confessou o cineasta à Agência Efe.

"Parece incrível sair vivo desta odisseia", contou o diretor, que dedicou os últimos setes anos da sua vida ao filme.

"Este filme precisava do dobro do orçamento, pelo menos, para ser feito normalmente. Sabíamos que seria uma loucura e confirmo que foi. Foi a pior experiência da minha vida. Não reviveria isto nunca, nem por todo o dinheiro do mundo. Mas, por outro lado, estou orgulhoso do resultado", disse.

Solanas se tornou um sobrevivente devido à experiência. Teve que aprender inglês para a filmagem em Montreal (Canadá), concluiu a rodagem em 2010, mas a montagem não ficou pronta até agosto do ano passado. Teve apenas 54 dias durante a produção e não podia atrasar um único dia. Cada dia devia fazer frente a problemas "do tipo vida ou morte" e solucioná-los.

"Entre nós, comentamos antes de começar as filmagens que seria muito difícil ou até impossível, mas foi ainda pior", admitiu o diretor de Buenos Aires.

"Upside Down" é uma produção independente, sem o apoio dos grandes estúdios e financiada por pré-vendas. Foi assim que Solanas pôde contar com total liberdade para criar a trama sobre dois mundos com gravidades opostas nos quais dois jovens se apaixonam, se perdem e lutam pelo reencontro.

Jim Sturgess e Kirsten Dunst interpretam dois personagens separados não só pela classe social e pelo sistema político, mas, sobretudo, pela gravidade que atrai o peso de seus corpos em direção a seus respectivos mundos.

Veja o trailer de "Upside Down"

"Me diziam que seria como ir à guerra", declarou Solanas, que em várias ocasiões esteve a ponto de abandonar o projeto.

"Mas pelo menos tive essa liberdade dentro da jaula que era a falta de dinheiro. Além disso, ninguém entendia as minhas ideias porque eram muito abstratas. Passamos 13 horas por dia no set e dormi quatro horas por dia durante dois anos", lembrou.

Foi difícil encontrar distribuição para o filme nos Estados Unidos, principalmente porque sua temática é difícil de catalogar e de vender a um público determinado.

"Não buscava nenhuma ideia em concreto. Tive essa visão - sem usar drogas - de duas montanhas e duas pessoas que se olham e se querem. Nunca vi antes uma imagem assim de dupla gravidade. Era um terreno virgem que me fascinou. Em poucos minutos entendi a história a 'grosso modo' e vi nela uma grande metáfora da minha vida", afirmou sobre o contraste norte-sul.

Seu pai se exilou na França durante o último regime militar da Argentina e foi isso que marcou a sua família, o que foi refletido no filme, especialmente em uma cena no começo.

"Um personagem é sequestrado, levado pelos civis e colocado em um Falcon verde. Os militares argentinos sequestraram 70 mil pessoas e a maioria foi levada em um carro desses. Meu pai estava na lista dos primeiros a serem mortos, por isso se escondeu e fugimos. Há certas coisas no filme que estão aí para quem as quiser ver", contou.

Solanas, de 46 anos, já mergulhou na preparação de mais quatro projetos e não descarta a hipótese de trabalhar em Hollywood, embora deseje trabalhar com produtores que queiram contar histórias diferentes.

"Eu seria péssimo se fizesse algo que já foi visto 100 vezes. Preciso de filmes que tenham ideias a ser defendidas. Para mim tanto faz onde seja", concluiu.