Vencedor do Oscar, diretor argentino diz não ter mais pressa para filmar
O cineasta argentino Juan José Campanella descartou que o Oscar que recebeu em 2010 por "O segredo dos seus Olhos" tenha se tornado uma pressão sobre sua produção e alega não ter pressa para filmar depois de produzir alguns longas que considera ter produzido alguns filmes com os quais, considera, já pode transcender.
"Não sei se o Oscar me pressionou ou me tirou a libido. Não é que me falte criatividade, mas a verdade é que não tenho vontade de fazer algo barato, mal feito, rápido", afirmou o diretor em entrevista exclusiva a Agência Efe, no Rio de Janeiro, ao ser perguntado sobre os três anos que investiu na produção de uma animação e afastado dos sets.
Campanella chegou esta semana ao Brasil para apresentar "Um time show de bola" ("Metegol", que significa totó - ou pebolim, no original), sua primeira incursão no mundo da animação, e em 3D, no Festival do Rio.
"Estive envolvido há três anos neste filme, mas com uma ideia que há anos penso para filmar, para adultos", afirmou o diretor ao admitir que já tem um projeto na mesa.
O argentino diz não entender como há diretores que filmam um longa por ano, já que, na sua opinião, não é possível terem tantas coisas para dizer na vida. "Eu faço um filme quando tenho algo para contar. Contar um conto por contá-lo não me interessa. Dá muito trabalho. Obviamente todos os que trabalhamos nisto buscamos uma maneira de transcender, que é uma forma de desafiar a morte. E acredito que já deixei três ou quatro coisinhas que vão durar, que vão transcender a mim", lembrou o diretor de obras premiadas como filmes como "O mesmo amor, a mesma chuva", "O filho da noiva" e "Luna de Avellaneda".
Assegurou que, como já não sente "ânsia" de produzir algo que seja um legado, apenas voltará a filmar quando tiver uma história e um roteiro "que realmente me aqueçam". "Antes eu necessitava filmar, precisava fazer um filme. Agora já não. Preciso somente contar o que quero contar. Não tenho nenhuma pressa. Não tenho que filmar no próximo ano, nem em 2015 ou 2016. O roteiro poderia ficar pronto em 2020. Farei com que não, porque tenho vontade", afirmou.
Sobre o filme que tem em mente, Campanella antecipou que fala da angústia da morte e disse que vem pensando na produção há muito tempo, mas sem ter encontrado a forma. "Estamos esperando formatá-lo com Eduardo Sacheri", afirmou ao indicar que voltará a trabalhar com o autor de "A pergunta de seus olhos", livro em que se baseou o roteiro do file que o deu o Oscar, e que adaptou para o cinema o livro "Memorias de un wing derecho", do que nasceu "Um time show de bola".
Campanella não quis revelar se planeja trabalhar de novo com Ricardo Darín, protagonista de seus últimos filmes, mas disse que precisa começar a rodá-lo antes que os anos passem para as pessoas com quem quer trabalhar. "Mas a verdade que eu agora já trabalho impulsionado pela 'febre' (de filmar). Por isso me enojo quando alguém diz que faço as coisas por dinheiro", afirmou.
Sobre "Um time show de bola", sucesso de bilheteria na Argentina e que foi recebido com aplausos ontem à noite em sua apresentação no Rio, disse que fazia algum tempo queria trabalhar com animação para o público infantil. "Este é um projeto que começou um ano antes de 'O Segredo dos seus olhos'. A primeira cena foi feita ao mesmo tempo que em nossa produtora era filmada a cena do estádio de 'O segredo...'", disse.
"Poderia ter feito seis filmes de adulto no mesmo tempo, mas tinha muita vontade de fazer isto", afirmou ao se referir às ideias de "solidariedade" e "valores" que tenta transmitir com a história de uma criança cuja única façanha foi ganhar no totó do melhor jogador de futebol de sua cidade, retratado como um ídolo narcisista.
Segundo Campanella, a animação o brindou com a chance de trabalhar com a fantasia e de transmitir ao público infantil os temas que quer tratar com seu próprio filho, entre eles conceitos como o de 'loser' (perdedor) e popular, "com os quais estou muito irritado", confessou. Seu desejo de tratar esses temas se juntou à entrada do mundo da computação em sua vida, mostrando que era possível ter acesso a tecnologias do cinema com um custo possível para contar suas histórias.
"É um erro pensar que estou contra o progresso tecnológico. 'Metegol' jamais poderia ter sido feito se esse progresso não tivesse permitido que toda a tecnologia estivesse ao alcance de gente que não tem US$ 200 milhões para um filme", assegurou.
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