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Filmes com Robert Redford e Bruce Dern emocionam no Festival de Nova York

8.out.2013 - Robert Redford na première de "All is Lost" no Festival de Nova York, no Alice Tully Hall, no Lincoln Center, em Nova York - Jemal Countess/Getty Images
8.out.2013 - Robert Redford na première de "All is Lost" no Festival de Nova York, no Alice Tully Hall, no Lincoln Center, em Nova York Imagem: Jemal Countess/Getty Images

Mateo Sancho Cardiel

09/10/2013 08h23

A odisséia marinha de um solitário Robert Redford em "All is Lost", de J.C. Chandor, e a viagem de reencontro familiar que levou Bruce Dern a ganhar o prêmio de interpretação em Cannes por "Nebraska" chamaram a atenção para os veteranos no Festival de Cinema de Nova York.

Os dois atores têm 77 anos e suas épocas áureas foram nos anos 60 e 70, mas, nesta terça-feira (8), tanto Redford como Dern apareceram em filmes que dão novo impulso a suas trajetórias. São tardios desafios de atuação que implicam viagens físicas e emocionais.

Redford, mostrando ótima condição física, sobe em um veleiro e luta para sobreviver a um naufrágio sozinho, no meio do oceano Índico, em conversa direta com a imensidão e a impotência.

"Fiquei muito atraído por este projeto sem diálogo, mas não por isso em silêncio. O som do filme faz com que o espectador se conecte com o interior do personagem, que o acompanhe em sua aventura", disse Redford durante a apresentação do filme em Nova York.

Após ter trabalhado em "Jeremiah Johnson" e "Entre Dois Amores" com o diretor Sydney Pollack e em "Rotação Máxima" com Arthur Penn, Redford agora está nas mãos de J.C. Chandor, em seu segundo filme após " Margin Call - O Dia Antes do Fim ".

"O roteiro, que por não ter diálogos só tinha 31 páginas, estava tão detalhado que me fazia ver que J.C. sabia o que queria e que tinha uma visão muito poderosa", disse Redford sobre um projeto de baixo orçamento que revitalizou sua esperança como ator.

Em "All is Lost", ainda sem previsão de estreia no Brasil, Redford não assume sua crítica situação com histeria melodramática, mas com uma surpreendente sobriedade. "O personagem tem que escolher entre estar em estado de pânico ou lidar com a situação e tratar tudo com a maior normalidade possível. Optar estar consigo mesmo e ser honesto com o momento", explica Redford.

Nessa hipótese resignada da adversidade, o filme se conecta com a capacidade de uma pessoa "que não é um super-herói nem um super marinheiro" para mostrar seu instinto de sobrevivência.

"All is Lost", que tinha sido apresentado no Festival de Cannes, coincidiu, em Nova York, com o novo filme de Alexander Payne, diretor que, após os prestigiados "Sideways -Entre Umas e Outras" e " Os Descendentes", volta à estrada, à sutileza emocional e ao caminho de um possível Oscar com "Nebraska".

Bruce Dern, esquecido pelo novo cinema americano desde "A Noite dos Desesperados" a "Amargo Regresso" (pelo qual recebeu sua única indicação ao Oscar), foi sincero com a imprensa: "Nunca ninguém tinha pensado em mim no nível que Alexander Payne fez ao me dar este papel, exatamente naquele filme".

"Nebraska" é o retrato do delírio senil de um pai alcoólico e que não trata o seu problema. Dern inicia uma viagem para cobrar um prêmio inexistente na cidade de Lincoln, no estado que dá título ao filme.

Vendo que a insistência do pai o fará viajar de qualquer jeito, seu filho resolve levá-lo, mas o personagem de Dern sofre um acidente de carro. Durante o tempo em que precisa se recuperar, ele conta a todos sobre a possibilidade de se tornar um milionário, despertando a cobiça não apenas de toda sua família, mas também de parte dos habitantes Lincoln.

Com a habitual habilidade para a tragicomédia de Payne e um excelente elenco de nomes desconhecidos no qual se destacam Will Forte e June Squibb, "Nebraska" é outra mostra de um diretor "natural e insistente em seu compromisso em ser honesto e fiel à realidade", assegurou Dern.

Rodado em preto e branco e com roteiro de Bob Nelson, o filme é inspirado nos primeiros trabalhos de Jim Jarmusch e alguns projetos do japonês Shohei Imamura. "Sempre aspiro essa complexidade, para que essa mistura de drama e humor esteja presente em meus filmes", concluiu Payne.