Sem novo filme em vista, David Lynch se dedica a difundir meditação
Em entrevista coletiva nesta terça-feira (15) em Madri, o cineasta David Lynch deixou sem resposta a pergunta mais repetida durante o Festival de Cinema, Arte e Música Rizoma: o cinema perdeu de vez o inquietante e transgressor diretor de "Estrada Perdida"?
"Escrevi alguma coisa, e estou contente com o resultado", disse Lynch aos jornalistas, "mas sempre há a necessidade de fazer melhor. Não sei qual será o próximo [projeto] que vou fazer, mas as ideias fluem", acrescentou.
Seu último longa-metragem, "Império dos Sonhos" estreou em 2006 e representou sua ruptura definitiva com a indústria, enquanto recebeu as críticas mais extremas que o tachavam ou de obra-prima, ou de "enorme estupidez".
Nos últimos anos a criatividade do autor da série de TV "Twin Peaks" foi mais visível no cenário musical - em maio de 2012 publicou seu segundo álbum de pop eletrônico - embora de vez em quando também publique curtas em seu site.
Sua visita a Madri tinha como objetivo o encerramento do Festival de Cinema, Arte e Música Rizoma com uma palestra sobre meditação transcendental, que vai dar hoje no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia e da qual também falará amanhã em um encontro com estudantes da Universidade Carlos III.
Se os ingressos para a palestra se esgotaram em uma hora, na Universidade havia filas intermináveis para comprá-los.
A meditação transcendental (MT) é uma técnica com marca registrada introduzida no Ocidente por Maharishi Mahesh Yogi - o mesmo que iniciou os Beatles - é a porta, segundo Lynch, ao desfrute "sem limites" da "paz, do amor, da energia".
Ao praticá-la, "a negatividade desaparece, a ansiedade, a tristeza, o ódio, a raiva, o medo, o desespero, diminuem cada vez mais", disse.
Lynch começou a praticar em 1973 após escutar uma frase que venceu seu ceticismo inicial: "A verdadeira felicidade não está no exterior, mas no interior de cada um".
Em duas semanas, contou, "a raiva e a depressão começaram a sumir" e as ideias, a fluir com maior liberdade.
Lynch quer atrair sobretudo os jovens, explica a organização do festival, mas não deixou de arregimentar jornalistas: "Vai meditar amanhã?", perguntou a um antes que ele pudesse fazer sua pergunta.
De terno preto, camisa branca abotoada até o último botão e seu topete característico, o diretor alçado à fama em 1977 gesticulava bastante enquanto tentava explicar por que a MT, e não outras formas de meditação.
"Só a meditação transcendental consegue fazer a pressão sanguínea diminuir", ressaltou, "todas as outras, zero". "Quando você consegue transcender, todo o cérebro.. bum!", repetiu várias vezes, imitando uma explosão.
Embora Lynch pratique a meditação há 40 anos, foi em 2005, quando criou uma fundação para arrecadar dinheiro destinado a promover o acesso a essa prática, não religiosa, convencido de que com isso contribuiria para estender a paz no mundo.
Isso ocorreu depois de visitar na Holanda o próprio iogue Marishi, com quem fez um curso de iluminação de um mês, prévio pagamento de US$ 1 milhão, segundo o "New York Times".
Se até então Lynch era reticente ao falar em público, após essa visita e a criação da fundação começou a viajar, dar conferências pelo mundo e tentar fazer o possível para que a MT fosse mais do que um luxo ao alcance de poucos.
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