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Abertura do Festival de Vitória tem vaias a políticos e "terrir" capixaba

29/10/2013 04h14

Comemorando 20 anos de cinema, o Festival de Vitória começou ontem, segunda-feira (28), na capital capixaba mantendo a vocação para vitrine de curtas-metragens e entre vaias a políticos locais e um banho de sangue cênico do ovacionado filme de terror local "Mar Negro".

A cerimônia, aberta às 19h no galpão Estação Porto, ao lado do cais da cidade, reuniu centenas de cinéfilos, cineastas, produtores, atores e curiosos de todo tipo que prestigiaram a 20ª edição de um dos festivais mais tradicionais do país.

A atriz e cantora Letícia Persiles e o ator Anderson Müller foram os anfitriões e subiram ao palco para apresentar, além do filme "Casaca", do diretor homenageado da noite, Orlando Bonfim, os cinco curtas da mostra "Foco Capixaba".

Antes, porém, entre discursos de realizadores e patrocinadores, a voz das manifestações populares dos últimos meses pareceu ecoar entre o público de cerca de 500 pessoas: ao subirem ao palco, o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), e o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), receberam sonoras vaias da multidão.

Os apresentadores tentaram esfriar os ânimos: "Gente, é um festival de cinema", disse Müller. Pouco depois, o secretário de cultura do estado, Maurício Silva, reverteu a situação e recebeu os aplausos da plateia ao anunciar o lançamento do novo edital de longa-metragem de ficção em mídia digital no valor de R$ 1 milhão.

As críticas também miraram a imprensa. No palco, o executivo de um jornal patrocinador do evento ouviu o grito "mídia mentirosa!" de um homem na plateia.

Passados os desabafos e as saias-justas, vieram os curtas da mostra competitiva: "Sinal Vermelho" (de Naiara Bolzan e Cristina Margon); "Nêga do Ébano" (Valentina Krupnova); "Fragma" (Eduardo Moraes); "Reikwaapa" (Ricardo Sá e Wera Djekupe) e "O Congueiro do Santo Preto", de Fábio Carvalho.

Organizadora e filha da diretora-geral do festival, Larissa Del Bone comentou à Agência Efe as principais mudanças do evento nas últimas duas décadas: "Cresceu muito. De três anos para cá, houve uma mudança na proposta do festival, com mais cuidado com curadoria, novas mostras como a Quatro Estações (LGBT) e a Capixaba".

Larissa e sua mãe, Lucia Caus, sonham alto: "O circuito internacional é um desejo, e uma escola de formação audiovisual nos moldes da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio, é um projeto para os próximos 20 anos" revela a advogada e produtora do evento.

Em entrevista à Efe, por sua vez, o governador Casagrande defendeu o investimento em cinema em seu governo "nos últimos três anos investimos R$ 9 milhões e, no festival, R$ 900 mil".

A noite foi fechada sob o aguardado banho de sangue falso de "Mar Negro", primeiro longa capixaba a concorrer ao Troféu Marlin Azul, do vitoriense Rodrigo Aragão, que subiu ao palco para apresentar o filme sob forte ovação geral.

"Essa vitória de concorrer de igual para igual é muito boa. A gente (Vitória) não é pior do que ninguém", desabafou, empolgado, o cineasta local.

Rodrigo, que disse ter usado "1,5 mil litros de sangue falso" e não ter contado com patrocínio algum, apenas com o apoio de "um produtor que perde dinheiro comigo há 10 anos", fez a plateia gargalhar com os efeitos especiais toscos "que eu mesmo fiz" e as falas hilárias de personagens (e interpretações) sempre caricatos.

Questionado pela Efe sobre por que somente na 20ª edição um diretor capixaba chegou à mostra competitiva, o governador evitou fazer críticas: "É o lado negativo do festival. Mas não vou julgar o investimento dos governos anteriores, vamos olhar para frente", concluiu.

A história do vírus de um peixe bizarro, que contamina uma aldeia de pescadores e transforma quem o come em zumbi, prendeu o público até o fim e é o último capítulo da trilogia de "terrir" (mistura de terror e comédia) de Aragão, inaugurada por "Mangue Negro" e seguida por "A Noite do Chupacabras".

Depois de algumas décadas, Zé do Caixão parece ter encontrado um herdeiro à altura.

O Festival de Vitória acontece até o próximo sábado, 2 de novembro e, de acordo com a produção, espera atrair um público de 10 mil pessoas. Todas as atrações são gratuitas.