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Amazonas Film Festival faz 10 anos com menos glamour e mais cinema de autor

Dirigido por Hilton Lacerda, "Tatuagem" conta a história de amor entre um recruta o líder de um grupo teatral - Reprodução
Dirigido por Hilton Lacerda, "Tatuagem" conta a história de amor entre um recruta o líder de um grupo teatral Imagem: Reprodução

Do Rio de Janeiro

06/11/2013 16h54

O Amazonas Film Festival (AFF) encerra nesta quarta-feira em Manaus sua 10ª edição, que, além de ter fugido do velho estereótipo do tapete vermelho, foi marcada pelo foco no cinema de autor e pela exibição de filmes premiados nos festivais de San Sebastián e Sundance.

Após uma década de história, o festival conseguiu se firmar na cena latino-americana com uma programação repleta de destaques, caso dos filmes premiados em Sundance, "Metro Manila" e "Wajma", e do vencedor da Concha de Ouro de San Sebastián, "Pelo Malo", além do brasileiro "Tatuagem", de Hilton Lacerda.

O festival, criado como uma tentativa de revitalizar a vida cultural da cidade, viveu grandes transformações ao longo desses dez anos. No início, como lembrou o secretário de cultura do estado do Amazonas, Robério Braga, a população não ligava muito para o evento, fato que ficava comprovado com as salas quase vazias durante a exibição dos filmes.

Uma década depois, o evento se transformou em um marco social da capital da Amazônia, excedendo os seis dias de programação, e permitiu que a indústria do cinema se assentasse em uma cidade que passou de ter duas salas para 86, além do fato de contar com quase 40 mil estudantes de diferentes disciplinas artísticas.

Segundo Braga, apesar de as autoridades não terem dados específicos sobre o desenvolvimento econômico registrado durante este período, o impacto da indústria cinematográfica na cidade proporcionou "um crescimento gigantesco" no número de trabalhadores do setor.

Para o ator André Guerreiro, que participou de várias edições, o festival se tornou uma referência na América Latina ao ter complementado o ambiente dos grandes eventos cinematográficos "com uma atmosfera mais intimista", o que, segundo ele, "favorece o encontro de artistas e produtores com o público".

Embora a cultura tenha renascido na Amazônia, assim como em seus anos dourados, quando Manaus recebia estrelas como Ben Gazzara, Claudia Cardinale e Roman Polanski para desfilar por um tapete vermelho, a edição deste ano não contou com tal luxuria, uma medida que foi tomada a partir do pedido dos próprios cineastas locais.

Além disso, o festival se transformou em uma grande vitrine para cineastas amazonenses e do resto do país mostrarem sua obra, principalmente aqueles dedicados aos curtas-metragens.

Para o diretor amazonense Adelmar Matias, duas vezes vencedor da mostra competitiva de curtas-metragens, o festival representa "uma grande oportunidade de ganhar visibilidade", além de "conhecer a situação" dos criadores de seu estado e ser reconhecido "em nível internacional".

O roteirista e diretor Tarsício Lara concordou com as palavras de Matias e acrescentou que, além disso, o Amazonas Film Festival permite que suas obras encontrem e se comuniquem com o público presente.

Lara, autor do curta "Quimera", um dos mais aplaudidos desta edição, se disse satisfeito em poder levar as histórias de seu trabalho, inspiradas nas tradições do norte do Brasil, e "colocá-las em contato" com a audiência de outras regiões.

Além disso, o festival abre espaço para algumas das maiores produções brasileiras do ano, como "Tatuagem", de Hilton Lacerda, e "Olho Nu", único documentário selecionado para mostra competitiva de longa-metragem e que resgata a trajetória artística de Ney Matogrosso.

Para o assistente de direção do filme, Rafael Saar, o Amazonas Film Festival "é como o próprio animal mascarado das lendas tradicionais da Amazônia, ou seja, um festival capaz de revelar um país evidente e formoso", concluiu.