Jovem iraniana supera tudo para trabalhar como dublê
Mahsa Ahmadi ateia fogo em seu corpo, voa de paraquedas, se taca de pontes e helicópteros e se deixa ser atropelada: trata-se da única iraniana que trabalha como dublê de cenas de perigo e quer mostrar que tudo é possível, inclusive para uma mulher na República Islâmica do Irã.
Aos 24 anos, tem um corpo invejável e um sorriso doce com o qual, seguindo a lei de vestimenta do país, tem que estar coberta sempre que está fora de casa ou com homens que não sejam de sua família. Mahsa começou a fazer esporte aos seis anos, um ano depois ganhou sua primeira competição infantil em ginástica artística, que praticou até a idade permitida, os 18 anos. Mas meses antes do abandono forçado, já tinha encontrado o que se transformaria em sua paixão profissional: um grupo de "stunt", dublês de cenas de risco, cujo diretor, Arsha Aghdasi, não sem muitas reservas, se arriscou a admitir uma mulher.
"Eu não queria mulheres porque não é fácil trabalhar com elas aqui. Têm que usar muitas roupas, os homens não podem treinar com elas, e é proibido o contato físico. Mas ela insistiu, insistiu muito", lembrou sorrindo à Agênia Efe Aghdasi, diretor do grupo de dublês de risco "Stunt 13".
Hoje, dos 18 que começaram o curso com Mahsa há seis anos, apenas ela ficou. "No primeiro dia, já me dei conta do quanto o físico era exigido, mas eu amo essa profissão. O meu sonho era esse", explicou a pioneira atleta e atriz.
Além de se destacar na ginástica artística, a jovem é faixa preta em wushu, campeã local em kung fu e domina outros esportes como hipismo, paraquedismo, parapente, natação, puenting, bungee jumping, parkour e tiro com arco a cavalo. Ela foi a primeira mulher no Irã a fazer um salto de bungee jumping e a primeira a se tornar treinadora do esporte. Também é a primeira e única no país que saltou de um helicóptero e a primeira a fazer paraquedismo no Irã.
"Para mim, isso é uma forma de motivar as demais mulheres a fazer esporte e de mostrar que podemos fazer o que quisermos", comentou.
Mahsa sabe que, para fazer o que faz, é necessário "gostar do perigo", embora afirme que não o faz por isso, mas sim "pela emoção". "Quando você faz alguma destas coisas, acaba se perdendo em sua própria emoção. Não dá tempo de pensar no medo. Aproveito muitíssimo fazendo o que faço", afirmou.
De paraquedas já saltou 97 vezes, embora só uma delas no Irã. Tem a sorte de ter uma família que a apoia e que não limita seus sonhos. "Eles se preocupam, claro. Mas me deixam decidir. Nunca tive problemas para fazer o que quero", declarou.
Com a produção de 100 filmes por ano, às vezes, a "Stunt 13" fica pequena e é preciso ir ao exterior para trabalhar. Sua participação mais importante foi, sem dúvida, há dois anos na gravação de "007 - Operação Skyfall", na Turquia. Nele, Mahsa aparece sendo atropelada e fazendo diversas piruetas. A "Stunt 13" afirma que não recebe qualquer ajuda do governo e que cresceu, fundamentalmente, graças à divulgação de seu trabalho na internet. Eles se queixam da falta de equipamentos de qualidade e de um lugar adequado para treinar. Muitas vezes, fazem os treinos ao ar livre ou em um teatro que está desocupado e pegam emprestado.
A presença de Mahsa complica os treinamentos. Homens e mulheres não devem se tocar e, por isso, nos centros esportivos os horários e instalações são completamente separados. Ela sorri de forma enigmática quando perguntada como consegue treinar se não pode encostar em seus colegas, e se limita a responder que o grupo "cumpre com a lei". É preciso praticar os exercícios com o cabelo, braços e pernas cobertos e, quando treina em algum lugar com homens, precisa se retirar quanto algum desconhecido entra no grupo.
"A parte boa é que, estando tão coberta, fico mais protegida do que se usasse uma minissaia", concluiu vendo o lado bom da situação.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.