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Alice Braga vive "princesa raptada" em faroeste argentino exibido em Cannes

De Cannes (França)

19/05/2014 19h02

O diretor argentino Pablo Fendrik projetou no Festival de Cannes "El Ardor", um faroeste xamânico às margens do rio Paraná, com o mexicano Gael García Bernal como herói solitário, Alice Braga de princesa raptada e um jaguar como estrela convidada.

"Inicialmente não era um western. Era a história de um homem que se viu obrigado a viver em um entorno que não o dele, e que termina se integrando", explicou o cineasta nascido em Buenos Aires em entrevista à Agência Efe nesta segunda-feira (19).

O filme, exibido fora de competição em sessão especial, foi o terceiro longa do gênero projetado até agora na 67ª edição do festival mediterrâneo, após "The Salvation", de Kristian Levring, e "The Homesman", de Tommy Lee Jones.

"Enquanto escrevia comecei a me dar conta de que se assemelhava muito com a classe de conflitos narrada nos westerns, e que tinha muita similaridade com as histórias de 1800 e dos colonos e a colonização, não só do oeste, mas de muitos outros territórios", resumiu.

Uma hora e quarenta minutos em um território inóspito e úmido, com poucos diálogos, muita tensão e rostos curtidos: os de um grupo de mercenários que assassinam um fazendeiro para tomar suas terras e que sequestram a sua filha, Alice Braga, parecendo uma menina pela selva, lembrou o diretor.

"Quando decidi que algumas cenas aconteceriam na floresta, fui escrever e investigar. Me deparei com histórias de violência contadas em primeira mão pelos habitantes do lugar, voltei com essa influência muito presente", explica Fendrik.

"El Ardor" é, também, um longa-metragem sobre os sons da selva: o ranger dos galhos sob os pés descalços de García Bernal, os pássaros e os insetos, os disparos de espingarda sulcando a floresta densa e o rugido do jaguar.

El Ardor - Reprodução - Reprodução
Alice Braga e Gael García Bernal em cena do filme argentino "El Ardor", de Pablo Fendrik
Imagem: Reprodução


"É um animal de verdade que buscamos por muito tempo para que fosse seguro o suficiente para Gael e para toda a equipe trabalhar, afinal é um animal selvagem, que não está domesticado ou treinado", explicou Fendrik.

Após assinar filmes como "O Sangue Brota" (2008), "O Assaltante" e "As Vidas Possíveis (2007), o diretor foi rodar nas Missiones, no interior da Argentina, um longa que foca especialmente em três dos mercados latino-americanos mais férteis: Brasil, México e Argentina.

E para isso se serve de uma estrutura clássica, de uma atriz de trajetória e de uma estrela internacional: um Bernal muito restrito à imprensa pelos organizadores do festival por sua condição de membro do júri na seção oficial.

"Senti vergonha por pedir um ensaio quando começávamos, e dizia: 'che, isto não é necessário'. Para eles isto é um passeio pelo parque, vão fazê-lo perfeitamente. Vamos comer, não ensaiemos mais, vamos fazer lá na floresta", lembrou em conversa em um terraço do Palácio de Cannes.

O mexicano interpreta um justiceiro enigmático que perdeu sua fazenda e sua família e aprendeu a pertencer à floresta.

"Já não posso viver em outro lugar", diz em um momento do filme o ator de "E tua Mãe Também", de Alfonso Cuarón, e "Amores Brutos", de Alejandro González Iñarritu.

"Quis poder mostrar uma pessoa que não tem mais do que suas mãos para sobreviver em um ambiente no qual, definitivamente, não está no teto da cadeia alimentar. Para mim era muito importante poder ilustrar todos esses movimentos e essas formas, como faz um ser humano para conviver em um ambiente no qual ele não está no comando", explicou o autor.