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Angelina Jolie leva ao cinema mais uma história de sofrimento

Alicia García de Francisco

De Madri

30/12/2014 07h59

Nos últimos quatro anos, Angelina Jolie emprestou sua voz para a animação "Kung Fu Panda" e foi a estrela de "Malévola", mas a atriz também tem dado bastante atenção à sua carreira como diretora com o seu segundo filme, "Invencível", com estreia marcada para 15 de janeiro no Brasil, e o próximo, "By the Sea" (ainda sem título no Brasil), já em fase de pós-produção.

Trabalhos que Angelina alternou com sua ação humanitária, enquanto pensa na possibilidade de se envolver na política em um ano no qual, além disso, se casou com Brad Pitt, com quem tem seis filhos -três biológicos e três adotivos.

Uma vida mais do que cansativa para uma das atrizes mais admiradas e desejadas, mas que não tem nenhuma intenção de diminuir seu ritmo de trabalho nem sequer quando se envolve em uma produção tão complicada como a de "Invencível".

Neste filme, Angelina conta a história real de Louie Zamperini, um delinquente juvenil que se regenerou como atleta olímpico nos Jogos de Berlim 1936 e foi herói da Segunda Guerra Mundial.

Durante o conflito, Zamperini passou 47 dias em uma balsa no meio do oceano e foi prisioneiro de dois campos de concentração japoneses, onde viveu em um regime de quase escravidão, história contada na biografia do veterano pela escritora Laura Hillenbrand e que agora chega ao cinema.

Publicado em 2010, o livro se tornou rapidamente um best-seller, permanecendo 185 semanas (15 delas no primeiro posto) na lista do "The New York Times" de livros de mais vendidos, com mais de 4 milhões de exemplares só nos Estados Unidos.

Uma história que fascinou Angelina Jolie. "Há muita dor neste mundo, e acho que precisamos de relatos como a história de um homem que encontrou o caminho na mais profunda escuridão para acabar emergindo na luz, relatos que nos possam ajudar, inspirar, mostrar-nos algo notável e nos fazer ver a vida de forma positiva", conta a cineasta nas notas de produção.

Os irmãos Joel e Ethan Coen a ajudaram com o roteiro, e Alexandre Desplat foi o responsável pela trilha sonora do filme, que além disso contou com a colaboração da banda Coldplay.

Filmagem em alto-mar

Uma equipe de 150 pessoas praticamente se mudou para o alto-mar do litoral de Queensland, na Austrália, para rodar as cenas em que Zamperini e outros dois companheiros sobreviveram em uma balsa durante 47 dias.

Jack O'Connell (Louie Zamperini), Domhnall Gleeson (Russell Allen Phillips) e Finn Wittrock (Francis McNamara) interpretam os três militares que sobreviveram a um acidente de avião, embora o terceiro tenha morrido antes de seus dois companheiros serem resgatados pelas forças japonesas.

Um terço do filme se desenvolve no pequeno espaço da balsa, perdida na imensidão do oceano e rodeada constantemente por tubarões, com cenas muito bem elaboradas do ponto de vista técnico, mas que não transmitem o extremo sofrimento pelo qual se supõe que os três soldados tenham passado em muitos dos momentos em que ficaram no mar.

Outra grande parte do filme se desenvolve nos campos de concentração japoneses, nos quais Zamperini esteve aprisionado, às ordens de Mutsushiro Watanabe, um cruel soldado japonês interpretado sem muita convicção por Takamasa Ishihara.

Da mesma forma que ocorre com as cenas no mar, as imagens são nítidas e brilhantes, com a necessária atenção aos detalhes, aos jogos de claro-escuro e à melhor posição possível da câmera, com destaque para as tomadas aéreas dos presos americanos após a libertação.

Enredo x conteúdo

Mas se o filme é brilhante no enredo, não é tanto no conteúdo, no qual a Jolie se atém em excesso aos pequenos detalhes que demonstram a resistência e a coragem do protagonista, mas perde de vista o conjunto geral e a atitude que sem dúvida tiveram todos os presos americanos, e não apenas Zamperini.

Com este segundo filme, a atriz e diretora demonstra um gosto pelas histórias complexas e nas quais o ser humano passa por grandes sofrimentos -seu primeiro longa-metragem por atrás das câmeras, "Na Terra de Amor e Ódio", se desenvolve na guerra da Bósnia.

Uma atitude coerente com seu trabalho como embaixadora do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).

Em recente entrevista com à Agência Efe, Angelina declarou: "É algo que vejo quando visito refugiados, as famílias das vítimas, os sobreviventes de violência sexual... Há muitos seres inspiradores no mundo e é preciso lembrar o poder da bondade".