Para Pedro Almodóvar, Hollywood agora trabalha para mercado chinês
Pedro Almodóvar, que estreia dia 8 abril na Espanha seu novo filme, "Julieta", afirmou nesta sexta-feira (26) durante um bate-papo com o artista Miquel Navarro, que "Hollywood agora trabalha para a China" e criticou a produção "abusiva" de filmes de robôs e super-heróis.
"Os filmes com investimentos de US$ 200 milhões naturalmente pensam em outras coisas do que em refletir os problemas do americano médio", afirmou Almodóvar durante o encontro, organizado pelo jornal "El Mundo" dentro da feira de arte ARCO, que acontece em Madri, capital da Espanha.
"Na Europa, por sorte, fazemos um cinema mais barato e podemos falar de nossos entornos. Meus filmes se passam em cozinhas, banheiros, quartos e frentes de edifícios, e posso falar do que me interessa".
Em relação ao mercado chinês, Almodóvar deu como exemplo já estar em andamento a sequência de "Círculo de Fogo", de Guillermo del Toro, apesar de o filme não ter feito sucesso em nenhum país, "exceto na China, onde funcionou astronomicamente".
O encontro com o escultor Miquel Navarro, moderado pelo jornalista Luis Martínez, girou em torno dos elementos comuns na obra dos dois artistas, especialmente pelo desejo como motor e no uso da cidade como testemunha e resultado da ação humana.
"Madri se transformou em uma cidade muito feia, uma cidade incômoda e pouco hospitaleira. Antes Madri era mais que isso, uma cidade aberta onde todos se sentiam em casa", criticou o cineasta, que ambientou boa parte de seus filmes na capital espanhola, onde vive.
"A cidade, para um provinciano como eu, simboliza a liberdade. E isso era Madri antes, a liberdade e a cultura", disse, "mas há um momento em que se transforma em todo o contrário, em um parque temático de si mesma".
"Acho terrível que a Espanha tenha se transformado em um lugar de férias onde as pessoas vem se embriagar e comer, e me horroriza ver como os principais cinemas da Grande Via se transformaram em lojas mastodônticas", desabafou.
A obra de Miquel Navarro, principal atração do jornal "El Mundo" na ARCO, estará também presente no próximo filme de Almodóvar, com uma figura de bronze coberta de terracota que é "um personagem a mais no filme".
"A arte é muito importante em minha vida e, como narrador, uma obra pode acabar dando sentido a um personagem essencial", afirmou o autor de "Mulheres à beira de um ataque de nervos".
Em "Julieta", protagonizados pelas atrizes espanholas Adriana Ugarte e Emma Suárez, o diretor manchego volta ao drama e ao universo feminino, com uma história que atravessa 30 anos, de 1985 a 2015, e que falará do destino inevitável, do complexo de culpa e da dor que o abandono traz.
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