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Cabeça de Walt Disney congelada? 50 anos sem o visionário rodeado de lendas

Walt Elias Disney, criador do Mickey Mouse, no Pancoast Hotel - AP
Walt Elias Disney, criador do Mickey Mouse, no Pancoast Hotel Imagem: AP

Alicia García de Francisco

15/12/2016 11h09

O cinema de animação é hoje o que é graças a Walter Elias Disney, um homem com uma visão muito avançada em seu tempo, mas também envolvido em falsas lendas, mesmo 50 anos após sua morte, como a que assegura que foi congelado.

Com sua morte se espalhou rapidamente a história que sua família tinha decidido congelar seu corpo à espera que os avanços científicos pudessem encontrar uma cura para o câncer de pulmão que tinha acabado com sua vida aos 65 anos e de forma fulminante, em apenas um mês.

Alguns foram inclusive mais longe e asseguraram que apenas sua cabeça foi congelada. Mas, na realidade, foi cremado, já que, embora uma vez tenha falado a favor da criogenização, nunca deixou nada por escrito, e sua família nunca cogitou a ideia.

Também não nasceu em Almería, na Espanha, como afirma outro dos rumores mais populares em torno de sua pessoa. Nasceu em Chicago em 5 de dezembro de 1901 e, além das curiosidades, foi um gênio e 50 anos após sua morte - que se completam nesta quinta-feira - ninguém superou suas conquistas.

Além de fundar a toda-poderosa companhia Walt Disney, levou os dez primeiros Oscar desde que se instaurou em 1931 o prêmio de melhor curta de animação, e em seus 44 anos de carreira conquistou 22 estatuetas, um recorde ainda não superado.

Foi o criador, junto com sua equipe, de personagens lendários como Mickey Mouse, Pato Donald, Pluto e Pateta, estrelas dos estúdios que fundou junto com seu irmão Ron em 1923 - originalmente chamados Disney Brother Studios.

E foi, acima de tudo, um visionário do campo da animação, à qual dedicou toda sua vida, e que ampliou para além das salas de cinema, com uma série de parques de diversões que demonstraram seu arriscado estilo empresarial.

Quando todos lhe tachavam como louco, sabia ver além das estreitas tradições da época e a inovação foi a marca da casa até sua morte.

"Não posso parar quieto. Tenho que explorar e experimentar. Nunca estou satisfeito com meu trabalho. Me incomodam as limitações da minha própria imaginação", disse em uma ocasião.
 

Walt Disney apostou na animação com som e música em 1928 com o curta-metragem "Willie do Barco a Vapor", protagonizado por um Mickey Mouse que se transformaria em seu personagem mais famoso e que lhe proporcionaria seu primeiro Oscar honorário em 1931.

O desenhista norte-americano Walt Disney com as filhas Diane (esq.) e Sharon - Divulgação - Divulgação
Walt Disney com as filhas Diane (esq.) e Sharon
Imagem: Divulgação


Sete anos depois, em 1938, levou seu segundo prêmio especial, nesta ocasião pelo que em Hollywood viram como uma enorme conquista, o longa-metragem "Branca de Neve e os Sete Anões", um projeto descomunal para a época, no qual trabalharam mais de 300 pessoas.


A adaptação deste conto dos irmãos Grimm inaugurou uma época na qual levaram ao cinema, com enorme sucesso, outras histórias como as de "Pinóquio" (1940); "Dumbo" (1941); "Bambi" (1942); "Cinderela" (1950); "Alice no País das Maravilhas" (1951) e "Bela Adormecida" (1959).

Seguiu arriscando com "Fantasia", uma produção que lhe valeu de novo um Oscar especial, mas que não foi entendido naquele 1940. Com os anos, seu preciosismo, a beleza de suas imagens e uma modernidade ainda latente, o transformaram em um filme cultuado.

Também encontrou uma fórmula de sucesso com seus filmes infantis com personagens reais e inclusive com uma mistura de animação e ficção realmente magistral como "Mary Poppins" (1964), que abriu um caminho diferente para os estúdios Disney.

Foi um empenho pessoal de Disney conseguir que essa história da britânica P.L.Travers saltasse à grande tela com personagens reais e animados, um processo complicado no qual o produtor usou suas melhores armas de sedução e que seria detalhado anos mais tarde no filme "Walt nos Bastidores de Mary Poppins" (2013)

Porque se Walt Disney tinha algo era a inteligência necessária para mostrar um grande encantamento pessoal quando queria alguma coisa, embora também possuísse um profundo lado obscuro que ficou refletido no livro "O americano perfeito", de Peter Stephan Jungk, que se baseou no testemunho de um ilustrador que trabalhou com 'tio Walt', como ele era conhecido pela família e amigos.

Jungk descreveu Disney como um racista, misógino e antissemita, que não criou nenhum de seus personagens, e assegurou que nos estúdios só os homens podiam desenhar, enquanto as mulheres deviam limitar-se a colorir.

Fato é que Walt Disney acumulou críticas no mesmo ritmo que sucessos e criou todo um império que fez com que seu estúdio fosse sinônimo de animação e que manteria sua hegemonia até décadas após sua morte.

A chegada da Pixar e da DreamWorks fez o império cambalear, mas se recuperou e hoje voltou a brilhar como na época de seu fundador. Um exemplo: o único filme de animação entre as dez maiores bilheteiras da história é uma de suas últimas produções, "Frozen: Uma Aventura Congelante".