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Bairro de Miami onde se passa "Moonlight" festeja reviravolta no Oscar

Barry Jenkins, diretor de "Moonlight", segura a estatueta de melhor filme à frente de Jimmy Kimmel e ao lado da produtora Adele Romanski - Lucy Nicholson/Reuters
Barry Jenkins, diretor de "Moonlight", segura a estatueta de melhor filme à frente de Jimmy Kimmel e ao lado da produtora Adele Romanski Imagem: Lucy Nicholson/Reuters

Pablo Ramón Ochoa

Em Miami (EUA)

03/03/2017 15h35

Liberty City, o bairro de Miami onde "Moonlight: Sob a Luz do Luar" foi rodado, se tornou o lugar mais feliz do planeta depois que a maior reviravolta da história do Oscar fez dessa produção a vencedora na categoria de melhor filme.

Cabisbaixo, o público já estava indo embora da festa organizada no African Heritage para acompanhar a cerimônia quando algo inesperado aconteceu. No telão do centro cultural do bairro, um dos produtores de "La La Land: Cantando Estações" segurava a ficha com o nome "Moonlight: Sob a Luz do Luar" como ganhador.

Os gritos de surpresa se espalharam e todo mundo começou a pular de alegria, mas a euforia não durou muito. O sinal de TV caiu e ninguém conseguia saber se o que tinha acontecido era real ou uma brincadeira de mau gosto.

"O que aconteceu?", perguntavam várias pessoas na frente da tela preta, enquanto um técnico tentava recuperar o sinal.

As cercas de 200 pessoas que estavam no evento seguravam a respiração à espera de que a TV voltasse a funcionar.

"Isto deve ter sido um sonho", disse uma jovem que já tinha ido embora, indignada, quando viu que "La La Land: Cantando Estações" era coroado o melhor filme, mas que voltou rapidamente quando ouviu o alvoroço.

De repente, a conexão foi reestabelecida e o diretor do filme, Barry Jenkins, criado em Liberty City, já aparecia rindo no centro da tela.

"Moonlight: Sob a Luz do Luar" tinha superado uma das maiores gafes da história e no centro cultural de Liberty City a alegria transbordava. Para eles, não importava a cara de tristeza de Damien Chazelle, diretor de "La La Land", e sua equipe.

De acordo com a coordenadora de marketing e comunicações do African Heritage, Cheryl Mizell, todo o bairro "fazia parte" de "Moonlight" e todos estavam "extremamente orgulhosos" do longa.

"Pensávamos que estava tudo acabado, mas de repente todo mundo começou a voltar e ninguém sabia o que estava acontecendo", contou à Agência Efe Mizell, que já estava se despedindo do público, enquanto os moradores recolhiam os seus pertences, quando a novidade veio à tona.

Quando tudo foi confirmado, Mizell lembrou emocionada que no ano passado, o escritor da história em que "Moonlight" se baseia, Tarrell Alvin McCraney, estava dando aulas no centro cultural, localizado no coração de um dos bairros mais pobres e tradicionalmente conflituosos de Miami.

Como pontos positivos do escritor, a coordenadora destacou a ética e a seriedade no trabalho, e afirmou que McCraney "é humilde, mas bom de briga".

McCraney, que fez um agradecimento aos moradores do bairro quando recebeu o prêmio de melhor roteiro adaptado, também é nativo de um lugar que agora já se prepara para montar a festa de boas-vindas para o longa que ficou com três estatuetas - além de melhor filme e roteiro adaptado, Mahershala Ali, o traficante Juan, venceu na categoria melhor ator coadjuvante.

Depois de vencer o Globo de Ouro na mesma categoria, o pequeno Alex Hibbert, que interpreta o protagonista Chiron na infância, revelou à Agência Efe que, se ganhasse o Oscar, sairia pulando e seria feliz para o resto da vida.

Para surpresa de todo o Dolby Theater e também do centro cultural African Heritage, esta noite Hibbert, aluno de uma escola pública do norte de Miami, estava com as mãos na cabeça em cima do palco, enquanto "Moonlight" era anunciado, de fato, o melhor filme do ano.

Agora, as ruas esquecidas de Liberty City, que servem de pano de fundo para uma história que trata de homossexualidade, drogas e racismo, voltam a "reivindicar" seu lugar ao sol, destacou Mizell.