Topo

Filho de Pablo Escobar quer "desglamourizar" a imagem do pai em "Narcos"

Cena da série "Narcos" (2015) - Wagner Moura - Divulgação
Cena da série "Narcos" (2015) - Wagner Moura Imagem: Divulgação

22/10/2017 07h51

Cansado da versão distorcida que as séries oferecem sobre o narcotraficante colombiano Pablo Escobar, seu filho Juan Pablo conta sua própria verdade em um documentário no qual, segundo diz, perdeu pela primeira vez o medo de falar.

"É uma realidade inocultável que muitos dos inimigos do meu pai acabaram se matando entre eles e isto me deu um pouco mais de margem para poder falar de coisas que claramente estava ameaçado de não poder revelar", declarou em entrevista à Agência Efe.

"Escobar Exposed", distribuído pela Beyond Distribution no mercado audiovisual MIPCOM de Cannes, que terminou na última quinta-feira, conta principalmente com seu relato, com o da sua mãe, "Tata", e com imagens dos seus arquivos familiares nunca divulgados até agora.

O filho mais velho do chefe do Cartel de Medellín, que adotou o nome Juan Sebastián Marroquín após a morte do megatraficante, em 1993, pretende refutar as histórias que circularam até agora sobre Escobar, como mostrar que não foi abatido em sua tentativa de fugir de um cerco policial, mas que se suicidou.

O primogênito de Pablo Escobar não pretende limpar a imagem do pai - "provavelmente a esteja sujando mais, porque estou contando histórias ainda piores do que as já conhecidas" -, mas acabar com certas "mentiras" e com a mensagem "irresponsável" que, em sua opinião, é transmitida por séries como "Narcos", da Netflix.

"Isso deu a ele um glamour que não tem. Glorificaram a atividade criminosa de Pablo Escobar. Não me oponho a que se contem histórias, mas a que se faça com semelhante senso de irresponsabilidade", argumentou.

Juan Pablo Escobar, filho de Pablo Escobar, lança novo livro de relatos sobre o pai - EFE - EFE
Juan Pablo Escobar, filho de Pablo Escobar, lança novo livro de relatos sobre o pai
Imagem: EFE

Marroquín soube desde pequeno quem era realmente seu pai. Quando tinha sete anos, Escobar lhe contou que era "um bandido", e desde então não escondeu da família uma realidade que lhes chegava também pela imprensa.

"Não tinha problema em dizer que tinha matado ou sequestrado uma pessoa ou que a carga de cocaína que as autoridades tinham acabado de detectar era dele ou não era", lembrou Marroquín, que desde a morte de Escobar vive na Argentina.

Com seu pai aprendeu as consequências "de uma tremenda violência que deixou espalhada por todo um país e que hoje nos custa muito como sociedade", mas também "sua generosidade e sua grande capacidade empresarial e seu amor indiscutível pela família".

Ter vivido essa realidade lhe faz afirmar que não há ninguém melhor do que ele para desmitificar a imagem que foi divulgada de seu pai até agora.

"Fui a primeira pessoa que teve de verdade na vida a possibilidade de ser Pablo Escobar 2.0 e escolhi um caminho tão oposto, tão diferente disso, porque sou muito consciente das consequências de ingressar em um mundo como esse", comentou.

Marroquín já havia escrito dois livros sobre sua experiência ("Pablo Escobar - Meu Pai: As Histórias que Não Deveríamos Saber" e "Pablo Escobar in Fraganti") e participou do documentário "Pecados do meu pai", mas acredita que esta é a primeira vez que pode "revelar com fatos, evidências e testemunhos o que verdadeiramente aconteceu".

Para ele, a educação é imprescindível para evitar que a história se repita, porque a atual guerra contra o narcotráfico "está perdida por nocaute há décadas" e "quanto mais se ataque às organizações criminais, mais estas se fortalecem e enriquecem".

Após oferecer esta versão definitiva da sua história, adquirida em Cannes pelo Grupo Canal Plus, Marroquín diz ter tirado um peso das costas.

E, ainda que considere que ainda não é um bom momento para retornar definitivamente ao seu país, sonha "com o dia em que muitos milhões de colombianos que fomos deslocados por diferentes fatores de violência, possamos voltar sem que os violentos decidam por nós", concluiu.