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Único filme brasileiro em Tribeca, "Elvis e Madona" leva diversidade a festival em NY

Igor Cotrim e Simone Spoladore em cena do filme "Elvis e Madona", de Marcelo Laffitte - Divulgação
Igor Cotrim e Simone Spoladore em cena do filme "Elvis e Madona", de Marcelo Laffitte Imagem: Divulgação

ALYSSON OLIVEIRA

Especial para o UOL, do Cineweb

24/04/2010 07h02

Elvis e Madona vão tomar Nova York nesta semana. Não, não se trata dos dois ícones pop – até porque um deles já está morto, embora muita gente jure de pés juntos que o Rei do Rock continua vivo. Na verdade, os astros emprestam seus nomes aos protagonistas da comédia dramática “Elvis & Madona”, do carioca Marcelo Laffitte, que estreou no Festival de Tribeca nesta quinta (22) e será exibido ainda no sábado (24) e durante a semana seguinte.

Para o diretor, apresentar o filme nos Estados Unidos é como fechar um ciclo que começou no final dos anos de 1990, quando ele apresentava seu curta “Vox Populi” no Festival de Miami, e viu algo muito inusitado num programa de televisão local. “Era uma briga entre um rapaz e seu pai travesti que, depois de uma ausência de anos, voltou para casa e rouba a mulher do filho”. Dessa história, Laffitte, que também assina o roteiro, tirou a premissa de “Elvis & Madona” que, na verdade, guarda pouca semelhança com o episódio apresentado na televisão.

  • Divulgação

    Marcelo Laffitte dirige Igor Cotrim no set do filme "Elvis e Madonna", que está no Festival de Tribeca

“O que eu tirei daquela briga entre pai e filho foi que qualquer um pode se envolver com qualquer outro. Hoje em dia pode haver qualquer tipo de relação”, disse o diretor ao UOL Cinema, pouco antes de ir para Nova York, onde apresentará o filme no Festival ao lado de Igor Cotrim, que faz o travesti Madonna que vive um amor com a lésbica Elvis, interpretada por Simone Spoladore.

O que guiou Laffitte na construção da trama de seu primeiro longa ficcional foram as relações humanas. “Todo mundo está em busca de ser feliz, realizar os sonhos, ter alegrias. Às vezes erram, às vezes acertam. Nesse processo, é preciso ser maleável.”. O longa estreou no Festival Mix Brasil no ano passado e foi apresentado no FestNatal-2009, no qual levou os prêmios de melhor filme, roteiro, direção, música, ator e ator coadjuvante.

Laffitte conta que com “Elvis & Madona” pretende mostrar um outro olhar sobre o universo GLS. “Não é porque Madona é uma travesti que a gente tem que mostrá-lo só apanhando, sofrendo. Ela também tem o direito de sonhar. Mas, claro, não podemos fugir dos problemas da vida real e fazer um filme fantasioso”.

O diretor diz que sua experiência com curtas de ficção e documentário foi fundamental para a realização do seu primeiro longa. “É uma experiência muito importante, até porque eu fiz tudo em película, não usava digital. O que mais aprendi, no entanto, foi que o diretor deve estar aberto a sugestões do elenco dos técnicos”.

Se alguém se espanta quando Laffitte conta que seu filme é sobre um travesti e uma lésbica que se apaixonam, o diretor logo conta que ficou sabendo de uma história parecida nos anos de 1990, em São Paulo com Lou, baterista da banda “As Mercenárias”, e um travesti chamado Gabi. “Depois que o roteiro estava pronto, comecei a mostrar para várias pessoas até que me contaram a história desse casal. Foi a prova de que meu filme tem muito a ver com a realidade”, comemora.

Elenco e investimento

Quando Laffitte estava com o projeto pronto e começou a procurar possíveis investidores, ele ouviu muitos nãos. “As pessoas que podiam produzir o filme não eram nada abertas. Às vezes eu penso que foi difícil produzir o filme porque eu era estreante, não tinha esperança. Mas eu acho que uma parte do preconceito era contra a temática mesmo, contra os personagens”. O diretor levou cerca de 5 anos captando recursos para fazer o filme,até que em 2006 ganhou um concurso e pode partir para a produção.

Para montar o elenco de “Elvis & Madona”, ele também encontrou algumas dificuldades. Primeiro, ele pensou num travesti de verdade para o papel de Madona. “Eu queria achar alguém que combinasse as características do personagem e fosse bom ator. Não consegui achar. Creio que existam vários travestis que são bons atores, só não calhou de encontrá-los”.

Quando abriu teste para atores homens, um amigo apresentou a Laffitte Igor Cotrim, que em seu currículo tinha apenas uma participação no programa de televisão “Sandy e Junior”. “Eu também fiz alguns testes para o personagem Elvis. Mas o que eu mais queria era que houvesse uma química entre os dois atores. Quando coloquei a Simone e o Igor lado a lado, eu percebi isso. Eram eles!”.

O amigo em comum que apresentou Cotrim a Laffitte foi Bayard Tonelli (ex-membro do grupo Dzi Croquettes), que além de trabalhar na preparação do ator para “Elvis & Madona” faz uma ponta no filme.

Depois de exibir “Elvis & Madona” no Festival de Tribeca, na próxima semana, Laffitte viaja para Los Angeles onde o filme será exibido no L. A. Brazilian Film Festival. No Brasil, a previsão para o lançamento do filme é para agosto.