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Fotógrafo de "Cidade de Deus", César Charlone dirige filme sobre libertador do Uruguai

Jorge Esmoris é Artigas, libertador do Uruguai, em "La Redota, Una História de Artigas" - Divulgação
Jorge Esmoris é Artigas, libertador do Uruguai, em "La Redota, Una História de Artigas" Imagem: Divulgação

ALYSSON OLIVEIRA

Especial para o UOL, do Cineweb

27/06/2010 07h03

Os Libertadores da América devem chegar em breve ao cinema. Não, não se trata do campeonato de futebol, mas das principais figuras históricas por trás da libertação da América Latina. Trata-se de uma produção espanhola que se chama “Libertadores”, reunindo oito longas que estão em diversas fases de produção. O representante do Uruguai foi dirigido pelo premiado diretor de fotografia e cineasta uruguaio radicado em São Paulo César Charlone, que fotografou filmes como “Cidade de Deus” e codirigiu com Enrique Fernández “O Banheiro do Papa”.

Cada uma das oito produções de "Libertadores" é feita de forma independente. O Brasil deverá ser representado por "Tiradentes", num projeto previsto para ser dirigido por Marcelo Gomes (“Cinema, Aspirinas e Urubus”). Em entrevista ao UOL Cinema, Charlone explica que pode haver um intercâmbio bastante saudável entre os diretores. “Contamos com ajuda do pessoal do filme sobre San Martín [o longa argentino “San Martín, el cruce de los Andes”, que foi dirigido por Tristán Bauer e Leandro Ipiña]. Eles nos emprestaram figurinos”.

Charlone foi convidado pelos produtores, que gostaram de sua estreia na direção. Confessa que não podia dizer não a um filme sobre José Artígas, uma das figuras mais importantes da história do continente e verdadeiro ídolo no Uruguai. “A gente o idolatra. Em todo lugar há ruas, praças, escolas com o nome dele. É uma figura muito querida e controversa”.

Segundo o diretor, Artígas é uma figura que serve a todos os propósitos políticos, por isso é reivindicado por diversos grupos. “Na época da ditadura uruguaia, tanto a extrema direita como a extrema esquerda valiam-se do nome dele para justificar seus atos. Na verdade, em seu tempo ele se inspirou nos fundadores dos Estados Unidos e queria criar um federalismo para as colônias espanholas”.

De olho na polêmica

No entanto, como ressalta o diretor, uma das curiosidades sobre Artígas é que não se tem certeza alguma sobre ele, nem no aspecto físico. “Como estava muito envolvido em guerras e revoluções, nunca foi pintado um retrato autêntico dele. A pintura que existe, feita por Juan Manuel Blanes, foi imaginada. Ninguém sabe como ele realmente era”. Assim sendo, Charlone e seu roteirista Pablo Vierci sentiram-se livres para criar em cima daquilo que é conhecido sobre o libertador.

O que guia a narrativa de “La Redota, uma historia de Artígas” é, como define Charlone brincando, “uma espécie de cópia, uma espécie de homenagem a ‘Apocalypse Now’. Um dos personagens é um espião espanhol, contratado para matar Artígas e se faz passar por um jornalista. Mais tarde, no entanto, ele começa a questionar a sua missão”.

Trazendo no elenco Rodolfo Sancho, como o assassino, e Jorge Esmoris, como o revolucionário, o filme está em fase de edição e terá duas versões. “O filme está sendo montado de duas formas, no Brasil e no Uruguai. Pelo que observei já, a montagem brasileira traz uma versão mais internacional da história, enquanto a outra é mais local”. Charlone explica que o processo foi conduzido assim porque seu montador favorito, Gustavo Giani, com quem trabalhou em “O Banheiro do Papa”, estaria ocupado e não conseguiria editar o filme inteiro. “Resolvi arriscar, pedi para ele trabalhar comigo enquanto estiver disponível. Ele vai ficar até quando for possível”.

Há décadas radicado no Brasil, Charlone acha que os uruguaios vão se surpreender ao ver o herói nacional de forma tão humanizada e um pouco diferente dos livros de história. “No Uruguai, creio, o filme será bastante provocador. As cenas de romance e sexo envolvendo Artígas e suas namoradas serão uma novidade”. O diretor conta que o personagem chegou a ter 18 filhos registrados – alguns deles, com nativas.


Atualmente, além de supervisionar as montagens do filme, Charlone conta que dirige comerciais em São Paulo. “Além de poder ficar perto da família, esse tipo de direção é um desafio a cada dia”. Mas ele promete que essas férias do cinema não devem durar muito, pois já tem alguns projetos cogitados para o segundo semestre. “O Fernando [Meirelles] me chamou para fotografar o filme que ele fará sobre Janis Joplin. Há também outros convites, e existe também um roteiro que eu escrevi e penso em filmar”.