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Festival de Cinema Latino-Americano chega à 5ª edição destacando cinema de autor que dialoga com o público

"As Viúvas das Quintas-Feiras" é dirigido por Marcelo Piñeyro, homenageado pelo Festival - Divulgação
"As Viúvas das Quintas-Feiras" é dirigido por Marcelo Piñeyro, homenageado pelo Festival Imagem: Divulgação

ALYSSON OLIVEIRA

Especial para o UOL, do Cineweb

12/07/2010 07h05

“O cinema latino é movido pela paixão”. Foi a essa conclusão a que chegou Francisco César Filho, mais conhecido no cenário cultural como Chiquinho que, além de cineasta e produtor, é um dos diretores e curadores do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que chega à sua quinta edição na capital paulista a partir da próxima segunda (12), prosseguindo até 18 de julho.

Ao longo dos cinco anos de existência do festival, avaliando muito do que foi produzido em termos de cinema na América Latina, Chiquinho sustenta que “não se encontram filmes de encomenda. São todos trabalhos autorais’. E completa: “É um cinema que ao mesmo tempo é de autor, mas também busca um diálogo com o público. Não são filmes herméticos, são produções acessíveis, e que tematicamente sempre tomam algum posicionamento social”.

Na seleção deste ano, o diretor frisa que o público irá encontrar uma programação madura e quase totalmente inédita no país. “No primeiro festival, trouxemos o que foi possível. Muitos filmes já existiam até em DVD no Brasil e, ainda assim, alcançamos um público de 18 mil pessoas. Ao longo das edições, conseguimos nos consolidar. Neste ano, o destaque fica por conta de trabalhos inéditos feitos por jovens cineastas”.

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    O filme boliviano "Zona Sul" mostra o conflito de classes

Na seleção deste ano, estão filmes premiados em Sundance, como o boliviano “Zona Sul”, de Juan Carlos Valdivia; e em Roterdã, o costarriquenho “Água Fria do Mar”, de Paz Fábrega, que abrirá o festival. “O filme é um marco da retomada de produção na Costa Rica. O prêmio em Roterdã também vem como um reconhecimento da ampliação das cinematografias latino-americanas, além dos cinemas do Brasil, Argentina e México”, explica o curador. Outro destaque é o uruguaio “A Casa Muda”, um terror de baixo orçamento, filmado com câmera digital. O filme foi lançado fora de competição no Festival de Cannes, em maio passado, e chamou a atenção.

Chiquinho lembra que nos últimos anos, o cinema latino-americano tem conquistado prêmios importantes como em Berlim (“A Teta Assustada”, em 2009, e “Tropa de Elite”, em 2008), o Oscar neste ano com “O Segredo de Seus Olhos”, além de participar das mostras competitivas em Veneza e Cannes. “Isso é uma prova de que a produção está consolidada perante o mundo, e fortalece o surgimento de novos talentos. O 5º Festival de Cinema Latino-Americano serve como uma vitrine para esses filmes no Brasil”.

RETROSPECTIVA E HOMENAGENS

O tema da retrospectiva 2010 será a consolidação da retomada das cinematografias nacionais, o que aconteceu na última década. Serão exibidos longas produzidos entre 2000 e 2009 – dois de cada ano – que representam bem a produção de cada país nesse período. “Ao focarmos no cinema do presente, queremos também discutir o cinema do futuro, o que ainda pode ser feito na América Latina”.

Fazem parte dessa seção o argentino “O Pântano” (2000), de Lucrecia Martel; o mexicano “E Sua Mãe Também” (2001), de Alfonso Cuarón, o brasileiro “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles; e “O Banheiro do Papa” (2007), de Cesar Charlone e Enrique Fernández, coprodução entre Uruguai, Brasil e França, que foi premiado na Mostra Internacional de Cinema de SP e no Festival de Guadalajara.

“Essa retrospectiva busca aliar filmes de sucesso popular e de repercussão internacional. Essa mesma proposta foi o que nos guiou para escolher os dois homenageados deste ano, o argentino Marcelo Piñeyro e o brasileiro João Batista de Andrade”. Chiquinho conta que até o ano passado, em toda edição do festival era um dilema: homenagear um brasileiro ou um não-brasileiro? Neste ano, resolveram inovar e escolheram dois cineastas.

“Tanto o Piñeyro como o João Batista são dois cineastas autorais que dialogam muito bem com o público. A obra dos dois não deixa de lado uma contextualização social, a posição do diretor está bem expressa em seus filmes”, analisa Chiquinho. O Festival exibirá a filmografia dos dois diretores quase em sua totalidade. O argentino assina filmes como “Plata Quemada”, “Kamchatka”, “O Que Você Faria?”, além de seu mais recente trabalho “As Viúvas das Quintas-Feiras”, baseado no romance homônimo da jornalista argentina Claudia Piñeiro, tendo como pano de fundo a crise econômica que afetou a Argentina em 2001. Já o diretor brasileiro é responsável por filmes como “O Homem que Virou Suco”, “A Próxima Vitima” e documentários como “Vlado – 30 Anos Depois”, além do inédito “Travessia”, que faz reflexões sobre a ditadura militar e pessoas que tiveram participação nesse período.

Além da exibição de filmes, o festival conta com oficinas e debates, que contarão com a presença de cineastas como Marcelo Gomes (“Cinema, Aspirinas e Urubus”), o crítico brasileiro José Carlos Avellar e o pesquisador Jean-Claude Bernardet. O festival acontece em seis salas na cidade, com todas as sessões gratuitas. Para mais informações sobre os filmes e eventos e a programação completa, acesse o site oficial: www.memorial.sp.gov.br