Em Paulínia, "5X Favela, Agora Por Nós Mesmos" emociona com mistura de drama e humor
Neste sábado (17), o filme "5X Favela, Agora Por Nós Mesmos" parece ter dado início de fato ao Paulínia Festival de Cinema 2010, que se realiza no pólo cinematográfico do interior de São Paulo até 22 de julho. Depois de uma primeira noite morna, em que "12 Estrelas" deixou muitos jornalistas e o público atônitos, a reação foi muito mais espontânea e positiva. Produzido por Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães, o longa emula a experiência de Diegues, Leon Hirzsman, Joaquim Pedro de Andrade, Miguel Borges e Carlos Farias nos anos 60, quando eram estudantes de cinema e registraram em cinco curtas, reunidos sob o título "Cinco Vezes Favela", a realidade dos morros cariocas. Precursor do Cinema Novo brasileiro, o clássico serviu como inspiração para os sete jovens realizadores do novo filme, todos oriundos das comunidades. O filme entra em cartaz no dia 27 de agosto.
Cacá Diegues, que apresentou o filme, realizadores e parte do elenco na noite de sábado, não esteve presente no debate deste domingo (18). Segundo Renata Magalhães, o produtor estaria a caminho de Nova York, onde será homenageado com uma retrospectiva de seus filmes.
"5X Favela" teve pré-estreia mundial no Festival de Cannes 2010 e a repercussão foi razoavelmente morna entre os jornalistas estrangeiros, até porque foi anunciado por último na seleção oficial, sob a seção das exibições especiais. A reação em Paulínia foi muito mais positiva. "Fonte de Renda", de Manaíra Carneiro e Wagner Novais; "Arroz Com Feijão", de Rodrigo Felha e Cacau Amaral;"Concerto Para Violino", de Luciano Vidigal; "Deixa Voar", de Cadu Barcellos, e "Acende a Luz", de Luciana Bezerra, mobilizaram a platéia do Theatro Municipal de Paulínia com sua mistura de narrativas dramáticas e bem humoradas da realidade atual da população que vive nos morros do Rio de Janeiro.
Um dos episódios que mais emocionou o público foi "Arroz com Feijão", em que um garoto resolve comprar um frango para o pai, interpretado pelo ator Flávio Bauraqui, depois de ouvi-lo reclamar da mesmice do cardápio diário - justamente o arroz com feijão. Com participação especial do diretor Ruy Guerra, que fez a montagem de um dos episódios do "Cinco Vezes Favela" original, o curta é o único dos segmentos que aposta na clave humorística para contar sua história.
Outro episódio muito comentado foi "Concerto Para Violino", em que um jovem policial (Samuel de Assis) recebe a incumbência de resgatar armas roubadas de um quartel e, para isso, faz acordo com traficantes de um morro, até descobrir que um amigo de infância está envolvido na história. O ator Washington "Feijão" Rimas, que faz o traficante com quem o policial sela o acordo, deu um show no debate, ao contar de seu passado como líder do tráfico. "O grupo Affro Reagge apareceu para mudar minha vida", disse ele.
Ao serem questionados sobre a atual tendência dos filmes ambientados nas favelas, boa parte dos diretores foi unânime em afirmar que não consideram que "5X Favela" esteja sob esse rótulo. Quem melhor respondeu a questão, que trazia no bojo uma crítica velada a "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite", foi a jovem diretora Manaíra Carneiro, parceira de Wagner Novais em "Fonte de Renda". "Todo mundo quer que a gente fale mal de 'Cidade de Deus' e 'Tropa de Elite', mas não vou fazer isso porque gosto desses filmes e nem acho que representem as comunidades", disse ela. "O filme do Fernando Meirelles é um drama de época ambientado na favela, e o do Zé Padilha fala da corporação e são olhares de fora. O nosso filme fala de histórias que a gente viu e viveu."
(O jornalista viajou para Paulínia a convite da organização do festival)
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