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Entusiasmo juvenil garante sucesso de "Desenrola" na quarta noite do Festival de Paulínia

Em "Desenrola", Kayky Brito é o menino mais cobiçado da escola - Divulgação
Em "Desenrola", Kayky Brito é o menino mais cobiçado da escola Imagem: Divulgação

ALYSSON OLIVEIRA

Especial para o UOL, do Cineweb, de Paulínia

19/07/2010 18h32

Os hormônios juvenis estavam na tela na noite do domingo do III Paulínia Festival de Cinema. Dois filmes protagonizados por personagens jovens receberam as mais diversas respostas do público ao longo da sessão. O longa “Desenrola”, de Rosane Svartman, fez um retrato clean da juventude carioca de classe média contemporânea, com um forte senso de homenagem – ou talvez nostalgia mesmo – aos anos de 1980. 

Com a maior incidência de jovens na plateia do Festival até então, “Desenrola” foi bem recebido pelo público, que ria e suspirava quando Kayky Brito aparecia em cena sem camisa – o que não são poucos momentos, já que interpreta um surfista – e aplaudiu com entusiasmo moderado no final. O longa acompanha as peripécias de Priscila (Olívia Torres), uma jovem carioca de 16 anos, que aproveita a ausência da mãe (Cláudia Ohana) para tentar seduzir o garoto que ela pensa amar (Brito) e perder a virgindade com ele.

O elenco jovem é, em sua maioria, estreante em cinema. Como coadjuvantes, em pontas quase minúsculas estão Claudia Ohana, Juliana Paes, Marcelo Novaes, Letícia Spiller e Pedro Bial, este como professor de matemática que usa praticamente as mesmas frases do apresentador quando comanda o televisivo “Big Brother Brasil”. Na coletiva, a diretora conta que isso não foi proposital. “Ele topou fazer o filme para agradar ao filho adolescente. Ele participou do meu primeiro longa [“Como ser solteiro”, de 1998] e agora quis voltar”.

Fruto de um trabalho de pesquisa que envolveu a internet e grupos de discussão em escolas do Rio de Janeiro e São Paulo, “Desenrola” é o terceiro longa de Rosane (que também fez “Mais uma vez amor”, 2005).  “A contribuição dos jovens, inclusive do elenco, foi muito grande. Eles mudaram cenas, diálogos. E era isso que eu esperava, que trouxessem esse frescor para o filme”, contou a diretora.

A produtora do filme, Clélia Bessa, ressalta que esse processo interativo é uma tentativa desde a pré-produção de aproximar o filme de seu público alvo. “Estamos numa dança do acasalamento com os jovens. Nos anos de 1980, tínhamos filmes como ‘Bete Balanço’ [de Lael Rodrigues] e ‘Menino do Rio’ [ de Antonio Calmon], que faziam sucesso. Depois, essa faixa etária foi negligenciada pelas produções nacionais. Seria o máximo se esse público voltasse a se identificar com o nosso cinema”, torce a produtora.

ASSISTA AO TRAILER DO FILME "DESENROLA"


Além do longa, a pesquisa rendeu uma série de televisão que deverá começar a ser gravada ainda nessa semana, que será exibida no canal Multishow até o final do ano. “É um formato diferente do tradicional. Teremos ‘povo-fala’, muito humor e abordaremos temas de adolescentes”, explica Rosane. Estão programados 20 episódios de 15 minutos cada e que serão protagonizados por Lucas Salles e Vitor Thiré. Os dois jovens atores, que mostraram timing para a comédia no filme, também planejam um espetáculo de stand-up.

Salles ganhou o principal papel masculino, Boca, depois de vários testes. Confessou que a ansiedade foi grande: “Dá um friozinho na barriga, mas você se joga de cabeça”. Já Olívia, que vive a protagonista, comemora o fato de poder ver no cinema personagens como os adolescentes de verdade. “É um filme que fala sobre a gente, de forma bem orgânica”, analisa a garota.

Esse, aliás, foi o mesmo comentário de Ghilherme Lobo, protagonista do curta “Eu não Quero Voltar Sozinho”, de Daniel Ribeiro, em competição no festival e exibido antes de “Desenrola”. No filme, o adolescente interpreta um menino cego, cuja vida começa a ser transformada com a chegada de um novo colega de escola, interpretado por Fabio Audi.

Tanto os dois rapazes, como a jovem atriz que completa o elenco do filme, Tess Amorim, interpretam com competência personagens complexos numa história emocionante e com direito a uma surpresa que causou um pouco de espanto no público. Mas, ao seu final, tornou-se o filme mais aplaudido em Paulínia até o momento. 

O diretor disse que planeja expandir o curta para um longa. “Não é bem a mesma história, mas a temática é a mesma, sobre a descoberta da sexualidade de um menino cego. O tema central é: de onde vem essa sexualidade? De dentro pra fora ou faz o caminho inverso?”.

 

Correspondência com o além 

“As Cartas Psicografadas por Chico Xavier”, novo documentário de Cristiana Grumbach (“Morro da Conceição”), também exibido na noite de domingo,  fala de um tema que está em alta no cinema nacional atualmente: o espiritismo. A documentarista conversa com pais e mães que receberam cartas de seus filhos psicografadas por Chico Xavier. O projeto começou quando a diretora perdeu seu avô e se questionava como seria se recebesse uma carta dele. 

“Eu não transito nesse universo espírita. Achava que fosse encontrar uma grande variedade de relações [nas cartas], mas a maioria é de filhos para os pais. Chico Xavier dizia que filho morrer antes do pai é antinatural, uma dor inominável”. O longa consiste de nove depoimentos de mães – algumas acompanhadas do marido – descrevendo a experiência da perda e e do recebimento de mensagens psicografadas.

A diretora, porém, já adiantou que a versão que deverá chegar aos cinemas será diferente dessa exibida em Paulínia. “Depois da sessão, ficou claro que precisa ser reduzido para dar mais fôlego ao filme. Com certeza um dos depoimentos eu vou tirar”.

Quando questionada sobre a autenticidade do médium, a documentarista acredita que as cartas sejam diferentes – apesar do estilo, caligrafia e erros de ortografia bastante parecidos, mesmo que a formação acadêmica, classe social e idade dos supostos autores sejam as mais variadas. “Acho pouco provável que Chico Xavier tivesse informações pessoais sobre as pessoas para escrever essas cartas por conta própria. Se você prestar atenção, elas são diferentes no estilo”, defende. Ela deixa bem claro que sua intenção nunca foi questionar a autenticidade do médium, mas, ao mesmo tempo, fica contente que seu filme proporcione essa possibilidade de interpretações múltiplas.