Sucupira volta a mostrar as mazelas políticas brasileiras
Há décadas que as idéias mirabolantes de Odorico Paraguaçu habitam o imaginário brasileiro. Ele é um político que assumiu a prefeitura da pequena Sucupira com a promessa de inaugurar o primeiro cemitério da cidade. O problema é que ninguém morre por lá e não há como organizar o grande evento de inauguração sonhado por Odorico.
O personagem principal de “O Bem Amado”, que estreia nesta sexta (23), já foi interpretado no teatro, em telenovela e depois até em seriado. Décadas depois do sucesso da novela de Dias Gomes, o diretor Guel Arraes leva a história para o cinema, ressaltando os aspectos em que o enredo permanece atual. “Só vale a pena recontar ‘O Bem Amado’ se verificar que algo mudou para justificar a nova versão,” diz o cineasta.
ASSISTA AO TRAILER DO FILME "O BEM AMADO"
Andrea Beltrão não quer que seu trabalho seja comparado ao do elenco da telenovela. “O medo da comparação é paralisante”, relata a atriz. “Esse filme é uma nova visão que cada pessoa pode trazer.”
Arraes quer que seu novo filme sirva para que os espectadores fiquem de olhos abertos nas atitudes de políticos, especialmente em ano de eleição. “A função da comédia é revelar e denunciar os erros do homem.” Para isso, “O Bem Amado” mostra um prefeito corrupto, planejando maneiras de embolsar os recursos públicos. Por outro lado, a produção também apresenta o opositor de Odorico, que não pode ser considerado um homem com muita retidão de caráter. “Não tem como fazer uma sátira política se não criticar a direita e a esquerda”, explica o diretor.
Guel trabalha com atores que já estiveram ao seu lado em outros projetos e traz novos integrantes para sua trupe. “Mesmo os novos são pessoas que se encaixam no grupo, que é bem homogêneo”, analisa Arraes.
MARCO NANINI COMENTA SUA PARTIPAÇÃO NO FILME "O BEM AMADO"
“Quando se trabalha junto mais de uma vez, há vantagens e desvantagens. Primeiramente, que se ganha tempo.” Guel dá como exemplo, sua parceria com Marco Nanini. “Sei que posso exagerar nas marcações com o Nanini.”
O ator, que fez parte do elenco de outras obras do diretor, como “Lisbela e o Prisioneiro” e “Romance”, diz que “a primeira vez que se trabalha com um diretor é como um namoro”. “Gosto da maneira como o Guel dirige", atesta. "Incansável, exigente e planejado. A gente vai para o set para executar aquilo que já foi combinado.”
Já Andrea Beltrão apresenta os pontos desafiadores de uma parceria tão longeva. “O que mais você pode fazer para surpreender esse diretor que te conhece tão bem?”, questiona a atriz.
Caracterizando as figuras de Sucupuira
Os personagens de “O Bem Amado” são fortes e a caracterização foi uma preocupação constante na concepção do filme. “A gente fez um glossário do Odoriquês,” comenta o diretor Guel Arraes sobre as palavras estranhas usadas pelo personagem principal. Marco Nanini dá créditos para termos como “stripteasicamente” aos roteiristas: “Não há nada em minhas falas que não esteja no roteiro.” Para as entonações, Nanini usou depoimentos dados por políticos atuais em CPIs.
“A caracterização é uma parte muito divertida do trabalho”, opina Andrea Beltrão, que vive uma das três irmãs solteironas ávidas por levar o viúvo Odorico ao altar. “Aquela peruca loura foi meu primeiro pedido,” diverte-se a atriz.
JOSÉ WILKER FALA DE SEU PERSONAGEM NO FILME "O BEM AMADO"
José Wilker, que vive o matador Zeca Diabo, afirma que “umas das coisas que me levaram a composição do personagem foram a maquiagem e o figurino.” Além disso, usou lembranças de família pra construir o cangaceiro. “Eu me espelhei no meu pai - um homem de educação rasa, mas que procurava se instruir sobre o que é certo.”
Matheus Nachtergaele, na pele do funcionário público Dirceu Borboleta, fez um pedido inusitado para auxiliar no seu trabalho. “Pedi para que as roupas fossem sempre menores do que deveriam, para me ajudar na caracterização, postura e movimentação do personagem”, revelou. O ator teve uma fratura no braço que acabou por limitar ainda mais seus movimentos.
O universo de Sucupira promete alegrar as platéias. “Os personagens são muito bons. Todos são generosos, se complementam”, diz Matheus. “Eles são figuras bem coladas a tipos que Dias Gomes conhecia”, completa Wilker.
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