Nem cinema, nem TV, "O Bem Amado" vê a política como fotonovela
Escrita como peça de teatro em 1962, “O Bem Amado” é uma alegoria típica da década de 60. Autores de esquerda, como Dias Gomes, tinham a ambição, naquele tempo, de fazer cultura popular para “conscientizar” as camadas mais baixas da população a respeito das desigualdades sociais e do atraso político do país.
Adaptada à televisão, como novela, em 1973, “O Bem Amado” ganhou um novo sentido. A alegoria sobre a permanência de práticas políticas arcaicas no Nordeste brasileiro passou a ser lida também, na década de 70, como uma crítica ao regime ditatorial, que contava, entre os seus principais aliados políticos, justamente com os velhos caciques nordestinos tão bem encarnados em Odorico Paraguaçu.
Trinta e sete anos depois, o texto de Dias Gomes inspira um filme que procura atualizar a sua velha alegoria. Um “aggiornamento”, como diriam os italianos. E qual seria a novidade? Não há mais mocinhos do lado da esquerda. Os coronéis e corruptos estão dos dois lados. Todo mundo é igual. A política, em resumo, acabou.
Para defender esta tese sem pé nem cabeça, Guel Arraes e Claudio Paiva optaram por uma narrativa tão tosca e caricata que beira a fotonovela. Ergueram uma comédia sem ritmo, marcada pela repetição das mesmas três piadas, com atores constrangidos ou perdidos em cena – um desastre, enfim, difícil de entender diante das contribuições passadas de ambos ao entretenimento nacional.
Fruto, talvez, da desilusão política, a idéia de que todos os políticos são iguais beira a má fé. Em ano de eleição, então, chega a caracterizar propaganda política.
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