Topo

''Os Mercenários'' é muito barulho por nada, ou quase isso

Sylvester Stallone (centro), aparece em cena de ""Os Mercenários"", ao lado dos atores Jason Statham (à esquerda) e Randy Couture - Divulgação
Sylvester Stallone (centro), aparece em cena de ''Os Mercenários'', ao lado dos atores Jason Statham (à esquerda) e Randy Couture Imagem: Divulgação

ALESSANDRO GIANNINI

Editor de UOL Cinema

04/08/2010 11h17

Em uma quente e suarenta republiqueta centroamericana, um grupo de mercenários deve destronar o sanguinário ditador local. Ao tomarem pé da situação, no entanto, descobrem que estão sendo manipulados pela CIA para destruir um pólo de influência criado por um ex-agente que se desviou do bom caminho. Simples assim é a trama de "Os Mercenários", homenagem de Sylvester Stallone aos filmes de ação e aventura, com doses massivas de perseguições, tiros, explosões e, claro, testosterona. Mas não é isso que torna o filme, que foi rodado parcialmente no Brasil e mereceu até uma piada de mau gosto por parte de Stallone, um programa, digamos, engraçado.
 
Por trás de todos os clichês, platitudes e demonstrações de hombridade enfileiradas ao longo de quase duas horas de projeção, há a ideia, divertida para quem gosta do chamado cinemão, de reunir os ícones modernos da ação e aventura, aqueles que em algum momento foram considerados os "salvadores do mundo". Além do próprio Stallone, estão lá Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgreen, Randy Couture e Terry Crews. Mickey Rourke, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger fazem participações especialíssimas, os dois últimos numa das sequências mais engraçadas e canastronas de todo o filme.

Pode-se questionar uma série de coisas no filme: desde a trama simplista, herdada da tensão americana com a América Central na virada dos anos 80 e 90, até os diálogos toscos, o humor rasteiro e a dose exagerada de um machismo paternalista que parece fora de contexto. As duas mulheres com mais de uma fala, a americana Charisma Carpenter e a brasileira Gisele Itiè, são tratadas como se fossem bonecas de porcelana. Mesmo Sandra, a combativa e corajosa filha do ditador interpretada por Itiè, acaba descendo à categoria de objeto no fim.
 
  • Divulgação

    A brasileira Gisele Itié contracena com Sylvester Stallone em "Os Mercenários"

 
Mas o que dizer de alguns dos grandes faroestes ou filmes de guerra que o cinema de Hollywood consagrou. Eram menos simplistas e preconceituosos? "Sete Homens e Um Destino", quem sabe? Ou o tão festejado "Patton", com George C. Scott no papel do inabalável general americano. Alguém vai dizer que há uma distância enorme entre uma coisa e outra, que do ponto de vista cinematográfico não há comparação. Entretanto, a grande verdade é que os tempos mudaram, mas os preconceitos nunca estiveram tão enraizados e tão bem mascarados como hoje em dia.
 
"Os Mercenários" é apenas um reflexo - a ser enxergado com a devida distância - do que ainda vivemos.
 
Vale lembrar que Stallone, o dono dessa ideia, ganhou fama em Hollywood não só como o brutamontes sensível Rocky Balboa, protagonista de "Rocky" (1976). Ele se estabeleceu no meio como um roteirista talentoso, que mereceu uma indicação ao Oscar da categoria. Aliás, naquele ano, ele se tornou o terceiro nome da história da premiação a ser indicado no mesmo ano aos prêmios de interpretação e roteiro original. Os outros dois, antes dele, haviam sido Charles Chaplin e Orson Welles.