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"Meu único sonho recorrente é um pesadelo", diz Ellen Page sobre "A Origem"

Leonardo DiCaprio e Ellen Page contracenam em ""A Origem"", de Christopher Nolan - Divulgação
Leonardo DiCaprio e Ellen Page contracenam em ''A Origem'', de Christopher Nolan Imagem: Divulgação

ANA MARIA BAHIANA

Especial para o UOL, de Los Angeles, EUA

06/08/2010 07h02

Em algum lugar do futuro (ou do presente) um grupo muito sofisticado e exclusivo de agentes secretos descobriu como penetrar a última fronteira: a mente humana. Liderados pelo experiente “extrator” Cobb (Leonardo DiCaprio), a equipe de “agentes oníricos” (Joseph Gordon-Levitt, o produtor Arthur; Tom Hardy, o falsário Eames; Dileep Rao, o químico Yusuf; e a novata arquiteta Ariadne, Ellen Page) aceita, por bom preço, a missão de invadir sonhos alheios e dali extrair segredos industriais ou políticos. Quando um magnata (Ken Watanabe) oferece ao grupo uma tarefa arriscadíssima, mas muito bem compensada, Cobb é levado a confrontar o impacto de seu bizarro ofício em sua vida pessoal – dominada por um doloroso passado que inclui sua esposa, Mal (Martion Cotillard). O super-aguardado "A Origem", de Christopher Nolan, que estreia nesta sexta (6), parte daí para criar um verdadeiro mundo à parte de experiências visuais, emocionais e psicológicas, um labirinto de ideias e imagens como há muito tempo o cinema não via.

TRAILER DE "A ORIGEM"

Realizado, ao custo de US$ 200 milhões, durante seis meses em seis locações ao redor do mundo – Tóquio, Inglaterra (incluindo os mega-estúdios Cardington, onde Nolan já filmara a maior parte de "Cavaleiro das Trevas"), Paris, Canadá, Marrocos e Los Angeles –, "A Origem" é uma mistura arrebatadora de cinema tradicional e de vanguarda. Filmado em película – 35 e 65 mm – e em digital HD, com cenários reais e efeitos quase sempre mecânicos – que incluem sets rotativos e máquinas de suspensão de gravidade, "A Origem" envolve o espectador porque seu mundo de sonho é tão real quando nossas próprias experiências quando estamos inconscientes. “Para um processo que é tão semelhante a sonhar, o cinema tem falhado miseravelmente ao tentar abordar essa experiencia tão humana”, diz Nolan. “Na maioria das vezes, o resultado parece um especial ruim de TV. Quis fugir disso ao máximo.”

Quando Christopher Nolan incluiu a canção “Je Ne Regrette Rien”, de Edith Piaf, como um dos mais importantes elementos do roteiro de "A Origem", ele não tinha a menor ideia de que, um ano depois, a atriz que ele previamente escolhera para o papel da misteriosa Mal faria justamente a diva da canção francesa em outro filme. Nolan vira Cotillard primeiro em um longa de Jean Pierre Jeunet e depois em "Um Bom Ano", de Ridley Scott – o bastante para convence-lo de que Marion era Mal, uma personagem que sempre fora nascida e criada em Paris. Da mesma forma, a canção de Piaf sempre estivera no roteiro – porque Nolan gosta dela e da voz de Piaf, e porque há um delicado comentário entre o que a canção e filme dizem. “Foi uma feliz coincidência”, Nolan explica. “Mas quase complica as coisas, porque o estúdio ficou um pouco nervoso.” Sem motivo: Cotillard e a voz de Piaf estão perfeitas em "A Origem".

UOL Cinema - Este é seu primeiro filme de um tom mais fantástico, de ficção científica. Foi uma experiencia muito estranha?
Marion Cotilard -
Não, porque sempre tive fascínio por esse tipo de filme. Sempre me intrigou como um artista, seja ele um escritor, um pintor ou um cineasta, pode ter essa visão, esse poder de imaginar, criar mundos. E depois Chris tem uma abordagem completamente diferenciada, humana. Há muita emoção no filme, muita beleza.

UOL Cinema - Você entendeu a história toda quando leu o roteiro pela primeira vez?
Marion Cotilard -
Mais ou menos. Não imediatamente. É um roteiro lindo, muito bem escrito e tão complexo quanto o filme. A beleza da história só apareceu mesmo para mim depois de várias leituras e principalmente depois de várias conversas com Chris. Passamos muito tempo conversando com ele, Leo e eu, e depois entre nós dois, para criar as bases psicológicas de nossos personagens nos vários momentos do filme. Mas sobretudo, desde o início, eu pude ver a riqueza emocional da minha personagem e do seu relacionamento com o personagem de Leo. É uma verdadeira história de amor, em toda a sua complexidade.

A DAMA MISTERIOSA

  • Divulgação

    Marion Cotillard é Mal, a esposa ressentida de "A Origem", de Christopher Nolan

UOL Cinema - Você sonha bem?
Marion Cotilard -
Sonho muito e em geral me lembro de todos os meus sonhos. Eu costumava anotar meus sonhos num caderninho, mas com tanta viagem, nos últimos anos, não consigo mais. Descobri que quando estou com jet lag eu não consigo lembrar meus sonhos. Mas a experiencia com certeza me ajudou muito não apenas como uma atriz em geral, mas especificamente para o trabalho neste filme. Ao me tornar consciente dos meus sonhos eu vi que podia interferir neles. Hoje por exemplo se eu acordo e noto que não resolvi uma questão no sonho, eu sei como voltar a dormir e retomar o sonho do ponto que eu quero.

“Ellen é a atriz mais talentosa da sua geração”, diz Chris Nolan. “E ela tem um dom raro: você acredita em tudo o que ela diz, seja qual for a personagem que ela esteja interpretando. Isso foi valiosíssimo para mim na hora de escolher quem faria Ariadne.” Muitas vezes indicada por seu papel em "Juno", Ellen Page é a jovem estudante que se agrega ao time de Cobb/Di Caprio em "A Origem" e tem que aprender com ele os segredos da invasão da mente alheia. “Ela é nossa representante na trama”, diz Nolan. “Ela traz as dúvidas e as perguntas que nós, na platéia, estamos nos fazendo. E por isso ter alguem tão verdadeiro como Ellen foi essencial.”

A VOZ DA RAZÃO

  • Divulgação

    Ellen Page interpreta Ariadne, arquiteta dos sonhos em "A Origem", de Christopher Nolan

UOL Cinema - Que tal passar de dois filmes independentes para algo deste tamanho?
Ellen Page -
Foi… uau! Um sonho! (ri muito). Não, serio. Em primeiro lugar, sou uma fã doida de Chris Nolan e dos filmes do Batman, os dois. Fã, fã mesmo. O que eu não sabia era que Chris era essa pessoa acessível e tranquila, como ele era aberto para trabalhar conosco, com os atores, e como seus sets eram confortáveis.

UOL Cinema - Nolan diz que o seu papel é o mais difícil de todos, porque você é como a narradora onisciente que de certa forma comenta toda a trama. Como você vê a sua personagem?
Ellen Page -
É, foi exatamente assim que Chris, Leo e eu definimos Ariadne. Ela é a menos envolvida de todos. Ela é como o espectador - cheia de descrença, de dúvida ,intrigada mas também um pouco cética com aquilo tudo. E por ser a mais distante do centro da trama ela também se torna uma espécie de bússola moral, especialmente para o personagem de Leo.

UOL Cinema - Você sonha bem?
Ellen Page -
Infelizmente meu único sonho recorrente é um pesadelo – estou patinando em gelo muito fino, o gelo quebra e eu caio. Em geral acordo quando estou me afogando.

UOL Cinema - Se você pudesse criar um sonho ideal, como ele seria?
Ellen Page -
Hummm… Começaria comigo voando, depois uma aventura debaixo d’água, uma longa conversa com Patti Smith, voar um pouco mais e um jantar com Anthony Bourdain.