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"Acharam que estávamos pisando sobre uma espécie de 'tesouro nacional'", diz diretor de "Karate Kid"

O diretor Harald Zwart (à direita) conversa com Jackie Chan e Jaden Smith nas filmagens de "Karate Kid" - Divulgação
O diretor Harald Zwart (à direita) conversa com Jackie Chan e Jaden Smith nas filmagens de "Karate Kid" Imagem: Divulgação

THAÍS FONSECA

Da Redação*

19/08/2010 07h00

Encarar a direção do remake “Karate Kid” parecia, desde o início, uma missão árdua. Cheio de fãs, o filme original, produzido em 1984, emplacou três seqüências e tornou reconhecíveis os nomes Sr. Miyagi (Pat Morita) e Daniel Larusso (Ralph Macchio), a dupla de protagonistas. Mas, mais de 20 anos depois, o cineasta Harald Zwart aceitou o desafio: recontaria a história do jovem aprendiz e do mestre oriental com novos personagens, atores e cenários. “Muitas pessoas acharam que estávamos pisando sobre uma espécie de ‘tesouro nacional’. Engraçado como as pessoas se lembram do filme [original] como algo melhor do que realmente é”, afirmou, confiante, em recente entrevista coletiva em Cancún.

No novo “Karate Kid”, previsto para estrear em 27 de agosto no Brasil, Jaden Smith e Jackie Chan são as estrelas da trama que se passa na China. Ao mostrar a relação emotiva entre o norte-americano Dre Parker (Smith) e Sr. Han (Chan), o filme explora o carisma dos dois atores e, em alguns momentos, suas habilidades dramáticas. Especialmente a do experiente Chan, elogiado pela diretor . “Lembro de ter sido cativado pela primeira tomada. Foi algo muito autêntico e emocionante”, conta, ao se recordar da filmagem de uma cena.

Além do elenco (há ainda Taraji P. Henson, como mãe de Jaden),  um dos pontos fortes do filme – obtido com mais facilidade devido à co-produção chinesa -, é mostrar ruelas, templos e até a exótica Cidade Proibida. O desempenho da produção nas bilheterias dos EUA superou expectativas e há rumores de que ganhe uma seqüência. A seguir, leia os principais trechos da entrevista do diretor norueguês, que tem entre as curiosidades do currículo o filme “A Pantera Cor-de-Rosa 2” e clipes da banda A-Ha.

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    Jackie Chan e Jaden Smith são, respectivamente, Sr. Han e Dre Parker no remake "Karate Kid"

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    Daniel Larusso (Ralph Macchio) e Sr. Miyagi ( Pat Morita) conversam no filme de 1984

UOL CINEMA - Havia uma expectativa sobre este filme, sobretudo pelo sucesso que foi o original “Karate Kid”, dos anos 1980. Como você encarou as comparações entre as produções?
HARALD ZWART - Quando nós começamos, muitas pessoas acharam que estávamos pisando sobre uma espécie de “tesouro nacional”. Engraçado como as pessoas se lembram do filme como algo melhor do que realmente é. Alguns críticos às vezes adicionam uma credibilidade, um fator honorífico ao original, como se ele não pudesse ser melhor. Eu só posso dizer pelo que eu notei do público. Aprendi que depois dos dez minutos iniciais as pessoas esquecem que estão vendo um remake e mergulham na história. E eu realmente acredito no filme, acho que temos algo fantástico.

UOL CINEMA - As habilidades marciais de Jackie Chan já são bem conhecidas. Mas como você diria que é trabalhar com ele como ator, especialmente nas cenas dramáticas?
ZWART - Em filmes chineses você vê este lado dele [como ator dramático], mas não muito nos filmes ocidentais. Antes de ele se juntar ao elenco, nós discutimos até que ponto iríamos com o personagem. Quando fui para China e o encontrei pela primeira vez, falamos sobre a vida em geral e tocamos no assunto de um terremoto em que ele havia se envolvido em ajudar as pessoas, em doações e, falando neste assunto, ele se comoveu. Quando voltei para Los Angeles e estávamos fazendo o roteiro pensei: “Podemos ir longe com este cara, ele pode colocar coisas para fora”. Foi então que começamos a explorar o lado intenso do personagem.

UOL CINEMA - E no set, ele te surpreendeu?
ZWART -
Fizemos muitos ensaios para as cenas mais emotivas. No dia, quis acalmar o set para que ele se sentisse à vontade. Mas me lembro de ter sido cativado pela primeira tomada. Foi algo muito autêntico e emocionante. Nós, dos bastidores, nos olhávamos emocionados (risos). Lembro-me de ter ido muito além do que eu esperava.

UOL CINEMA - E Jackie é muito popular na China...
ZWART -
Sim. Andar nas ruas com Jackie era como viver a “beatlemania”. E eu tinha Jackie e Will [Smith], então, imagine... (risos) Eu dizia que eles tinham que usar disfarces para conseguirmos trabalhar. Fizemos um plano de Jackie andando na rua, e assim que as pessoas o viram o lugar estava tomado, tivemos que sair de lá.

UOL CINEMA - Há uma cena em que Mr. Han (Jackie Chan) briga contra um grupo de garotos que tentam bater em Dre (Jaden Smith). Houve uma cautela para não mostrá-lo agredindo garotos?
ZWART -
Esta cena teve alguns truques. Espero que tenhamos comunicado nesta cena que ele não bate nos garotos, mas que faz com que eles batam uns nos outros, bloqueando-os ou usando os braços deles mesmos. E, no final da cena, Jaden diz: “Você não bateu neles, fez com que batessem uns nos outros”, só para garantir que as pessoas tenham entendido o ponto. Este momento foi cuidadosamente coreografado.

UOL CINEMA - Como foi ter Will Smith como produtor? Ele te deu liberdade criativa?
ZWART -
Ele e Jada (Smith, mulher de Will e mãe de Jaden, também produtora do filme) são ótimos produtores, eles acreditaram nas pessoas que fizeram o filme. Acho que tiveram uma tarefa mais difícil no papel de pais de Jaden (risos). Claro que eles queriam o melhor para o filme, mas algumas vezes eu dizia: “Podemos fazer outro plano?”. E eu via o lado deles como pais aflorar: “vamos deixar ele descansar...” (risos) Mas equilibraram estas duas funções muito bem. Eu gostava de tê-los por perto, por que são pessoas animadas, que motivam. Algumas vezes você tem algumas ideias no set e eles são o tipo de pessoa que diz: “ok, vamos tentar”. E, sabe, quando Will Smith diz sim, você sabe que pode fazer.

TRAILER DO FILME ''KARATE KID"

UOL CINEMA - Quais foram os principais desafios das filmagens?
ZWART -
Acho que um dos desafios é que, quando você trabalha em uma produção de Hollywood, há tantos trailers, cadeiras para as estrelas...Certo dia eu estava filmando uma cena com Jaden, aparece no início, quando ele está no banco de trás do carro, e precisava apenas dele e de uma câmera. Fui ao estacionamento e contei cerca de 20 trailers da equipe. Pensei: “Isto é insano...não preciso de tantas coisas. Como vamos alcançar a autenticidade das ruas, dos templos, se temos que trazer 20 trailers”? Claro que é assim que o sistema acontece, temos muitas pessoas, assistentes, eles pegam os equipamentos...mas tivemos uma reunião sobre o assunto. E dissemos que o que precisávamos era essencialmente o ator e a câmera. E Will e Jackie entenderam aquilo.

UOL CINEMA - Houve coisas que você gostaria de ter feito mas não conseguiu por estar na China?
ZWART -
Não. A tradição deles de fazer filmes é enorme. Desde o começo foi uma colaboração. Eles perceberam que mostraríamos a China, que tem lugares muito bonitos. Sabiam o que estávamos filmando e há uma certa distinção entre o vilão, que conduz de má forma o kung fu, e a filosofia do kung fu, que não é má. Eles queriam ter certeza que preservaríamos estes valores.

UOL CINEMA - O que você guardou da experiência de viver e filmar em um país tão diferente do seu?
ZWART -
Eu já filmei em Cuba, na Rússia, na África do Sul, na América Latina...eu já tinha tentado explorar outros cantos do mundo antes, com exceção da China. Eu sempre saio destes lugares com um imenso respeito. Às vezes você pensa: “será que eles sabem como é isso ou aquilo?”. E descobre que, em alguns casos, estes países tem uma tradição cinematográfica incrível, que existe por anos.

UOL CINEMA - Você acha estranho apresentar um lado sensual de Jaden, que quer ficar com uma garota no filme? Pois ele parece uma criança ainda...
ZWART -
Eu acho que há 13 anos poderia ser diferente...mas hoje acho que tudo bem.

*(A repórter viajou para o México a convite da Sony)