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Em "Get Low", Robert Duvall vive homem que organiza seu próprio funeral

Em "Get Low", o personagem vivido por Robert Duvall arma falso funeral para saber o que os outros pensam dele - Reprodução
Em "Get Low", o personagem vivido por Robert Duvall arma falso funeral para saber o que os outros pensam dele Imagem: Reprodução

ANA MARIA BAHIANA

Colaboração para o UOL, de Los Angles, EUA

28/08/2010 07h03

Sete anos atrás Robert Duvall leu um roteiro que imediatamente chamou sua atenção: "Get Low", a versão ficcionalizada de um incidente ocorrido num rincão remoto das montanhas do Tennessee em 1938. Um cidadão chamado Felix “Bush” Breazale, de idade avançada e reputação misteriosa, decidira aproveitar o próprio funeral, organizando uma grande festa de corpo presente para si mesmo…. Enquanto ainda estava vivo. Caixão, padre, flores, tudo estava nos conformes, não fosse o fato de Bush estar ali tambem, vivinho e muito interessado em saber o que seus vizinhos, familiares, amigos e inimigos tinham a dizer a seu respeito – coisa que se faz em geral nesses momentos.

O incidente se tornara manchete dos jornais da época - 12 mil pessoas apareceram para o “funeral”, a revista Life encheu páginas com fotos da festa e Bush rifou o título de propriedade de suas terras (efetivo, é claro, quando ele de fato deixasse este mundo, o que se deu alguns anos depois).

Quando o roteirista Chris Provenzano - do time da série "Mad Men" - ouviu a história contada por um amigo, cujo avô teria sido o agente funerário responsável pela organização da festa, ele imediatamente imaginou que belo filme aquilo daria. Em parceria com C. Gaby Mitchell ("Diamante de Sangue"), Provenzano elaborou a história de Felix, dando-lhe um passado trágico, uma personalidade misteriosa e uma reputação absolutamente sinistra, daquelas que espantam criança em toda vila do interior.

Lendo o roteiro de "Get Low", o produtor Dean Zanuck pensou imediatamente em Robert Duvall para viver Felix - e Duvall, velho amigo da familia Zanuck (uma verdadeira linhagem de produtores que vai até a alvorada da industria) concordou imediatamente, com uma condição: que o roteirista Charlie Mitchell desse uma penteada no texto. “Era preciso um homem do sul para contar uma história do sul”, diz Duvall. “Eu nasci em San Diego, meu pai era da Marinha, e cresci por toda parte dos Estados Unidos. O sul tem uma cadência especial, tem a sua cultura. Era o toque que faltava”.

Mas ainda não era o filme - foram precisos esses sete anos para que o modesto orçamento do projeto fosse levantado. “Conheço bem essa realidade”, diz Duvall. “Na ecomomia de hoje, é mais fácil levantar 100 milhões para um filme cheio de efeitos especiais do que 10 milhões para um pequeno filme sobre pessoas”, Duvall filosofa.

Rodado em velocidade de filme de estreante -25 dias - com o ex-diretor de fotografia Aaron Schneider na direção, "Get Low" fez sucesso em Sundance pela delicadeza do tema, o clima lírico da narrativa e a dinâmica da relação entre Duvall como Felix e Bill Murray como o agente funerário Frank Quinn, contratado para realizar a festa. “Bill tem um timing maravilhoso e compreendeu perfeitamente a personalidade do personagem”, diz Duvall. “Foi um prazer trabalhar com ele.”

Quanto à ideia de seu personagem - fazer um funeral ainda em vida - Duvall tem suas reticencias. “Gosto de festas, mas de outra natureza”, ele ri. “E certamente não quero saber o que os outros pensam de mim. Não estou nem um pouco pronto para me despedir deste mundo, mas quando afinal eu me for, não me venham com grandes festejos. Podem jogar minhas ciznas por aí. Não vai fazer diferença.”