Em ''Napoli, Napoli, Napoli'', Ferrara faz espécie de geografia da violência
Em “Napoli, Napoli, Napoli”, em cartaz no país a partir desta sexta (3), Abel Ferrara (“Maria”) faz uma espécie de geografia da violência combinando trechos documentais e narrativa de ficção sobre crimes, corrupção e mazelas sociais e humanas na cidade italiana.
Nápoles é praticamente um personagem no filme. Seus habitantes, os reais que são entrevistados e os fictício, poderiam ser peças num grande tabuleiro de um jogo regido por leis obscuras e que pouco têm com a justiça institucionalizada. É uma das cidades mais violentas da Europa, e o crime organizado tem grande parcela de culpa, mas não toda, como parece dizer o filme. Na parte documental, destacam-se detentas da Prisão Estadual Pozzuoli, cujos crimes sempre têm a ver com tráfico e vício. Há também o outro lado: como um centro de reabilitação juvenil curiosamente chamado Diego Maradona ou a prefeita da cidade, Rosa Iervolino.
Contrapondo-se a isso, a parte ficcional, que sempre está ligada a o que há de documental em “Napoli, Napoli, Napoli” acompanha dois matadores cuja missão é uma vingança, e a história de uma jovem prostituta e de um presídio masculino. Isso tudo dá um novo fôlego à parte documental com presidiárias cujas histórias sempre mencionam bairros como Scampìa e Quartieri Spagnoli.
Ferrara é neto de um napolitano que, segundo o diretor nas notas de imprensa, ‘recriou um mundo similar no Bronx’ quando imigrou para os EUA no começo do século passado. Por isso, esse mapeamento, essa investigação sobre Nápoles, filtrada pelo prisma da violência e corrupção é também uma jornada tão pessoal para o diretor, cuja sobrevivência num bairro violento de Nova York, se equipara ao mesmo feito na cidade italiana.
TRAILER ORIGINAL DE "NAPOLI, NAPOLI, NAPOLI"
Apesar de ter Nápoles como foco, o filme se expande ao falar da violência urbana e ganha contornos universais. As histórias aqui contadas – documentais e ficcionais – poderiam se passar em qualquer grande centro urbano em que a violência e o medo são uma constante. Poderia muito bem se chamar ‘Detroit, Detroit, Detroit’, ou ‘Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro’.
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