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"Queria ser ousado sem fazer um filme obscuro", diz Oswaldo Montenegro sobre estreia como diretor

"Léo e Bia", musical de Oswaldo Montenegro, ganha adaptação para o cinema - Divulgação
"Léo e Bia", musical de Oswaldo Montenegro, ganha adaptação para o cinema Imagem: Divulgação

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

15/09/2010 07h00

Oswaldo Montenegro é um dos músicos mais respeitados do Brasil. Com quase 40 discos em sua carreira, ganhou seu primeiro prêmio aos 13 anos, num festival no Rio de Janeiro, com a “Canção Pra Ninar Irmã Pequena”. Em quatro décadas, ele escreveu 17 peças musicais, compôs 40 trilhas sonoras para cinema e televisão, realizou 30 turnês e, ainda assim, o menestrel acreditava que deveria se arriscar mais e sair de sua zona de conforto. Com esse objetivo, se lançou como diretor de cinema, com “Léo e Bia”, que estreia em São Paulo, nessa sexta-feira.

“Sempre tive uma relação apaixonada com o cinema. Sempre quis fazer algo além de trilhas. Tinha de ser ousado na linguagem, criativo, mas sem permitir que a história ficasse obscura. Queria ousar, mas desde que as pessoas pudessem compreender”, revelou ao UOL Cinema. Seu filme de estreia é baseado num musical de sucesso que ele mesmo escreveu e montou em 1984, com mais de 500 mil ingressos vendidos.

Ele confessa que não imaginava outra pessoa dirigindo seu musical no cinema. “Eu queria que o filme fosse como eu imaginava. E queria fazê-lo com liberdade”. Para que essa ideia se concretizasse, Montenegro sabia que precisava se cercar de técnicos bastante competentes, já que ele próprio não dominava a linguagem do cinema. A fotografia, por exemplo, é de André Horta (“2 Filhos de Francisco”). A trilha sonora do filme é basicamente a mesma da peça dos anos de 1980, com o elenco cantando e a voz de outros cantores, como Ney Matogrosso e Zélia Duncan.

Autobiografia
Mas não é apenas o sonho de levar “Léo e Bia” para o cinema que fez o músico se aventurar como diretor. A história que o filme conta tem muito de autobiográfica. “Eu tive uma turma bastante parecida com essa do filme. Algumas pessoas e situações foram inventadas, mas o espírito da nossa juventude está lá”. E não é só isso que está na tela. Madalena Salles, diretora assistente e mãe de um filho de Montenegro, foi inspiradora da personagem Marina, vivida por Paloma Duarte, que levou o prêmio de atriz no último Cine PE, no qual o filme também arrebatou o troféu de melhor trilha sonora.

Para Paloma, que também assina a produção, interpretar Madalena, sua amiga há 15 anos, lhe causou um certo frio na barriga. “Ficamos amigas na gravidez de minha primeira filha. E eu tinha medo de ficar aquém da Madá. Eu a admiro muito”. Já para a própria Madalena, ser interpretada pela atriz era praticamente “inevitável”. “Não podia ser outra pessoa. Sempre estivemos muito próximas e ela me conhece bem. Não precisou nem de pesquisa”, brinca Madalena, que também é flautista e fez diversos trabalhos com Montenegro.

Para ela, o filme retrata muito bem a sua geração, que era jovem no início dos anos de 1970 e queria “dar alegria ao mundo”. “Eu mesma interpretei a Marina no teatro, em 1984. Ao longo desses anos, sempre estive próxima do Oswaldo e acompanhei o amadurecimento do roteiro. Agora, ao ver o filme, mais de duas décadas depois, me dá a sensação de como eu queria ter participado daquela turma. E depois me lembro que eles realmente foram a minha turma. Isso é ótimo”, conta rindo.

Montenegro chegou ao elenco, que inclui Fernanda Nobre, Emilio Dantas e Vitória Frate, por meio de testes. Mas com Paloma foi diferente. Além de atuar (ela é uma das poucas personagens que não cantam no filme), ela também assina a direção. “Fazer cinema já é difícil, sem dinheiro incentivado é pior ainda. Tivemos a sorte de encontrar uma equipe que topou e abraçou o projeto com muito amor”. O diretor conta que bancou o filme do próprio bolso e o orçamento ficou em torno de R$ 400 mil.

Madalena, que também nunca havia trabalhado com cinema, conta que no set a equipe estranhava um pouco o tipo de criação do diretor. “Foi algo muito fora do padrão. No começo as pessoas até estranhavam, mas eu sempre falava: ‘podem ficar sossegados. Parece estranho, mas no final dá tudo certo’. E deu!”.